Sexta-feira, 30 de Setembro de 2011

DE BRAGANÇA A CACILHAS

Autor que não foi possível identificar

 

A unidade de medida portuguesa não pertence ao SI (Sistema Internacional de Unidades). O padrão luso é o car(v)alho – feio como o car(v)alho, mais duro que o car(v)alho, chato como o car(v)alho, pesado como o car(v)alho. Mandámos às urtigas o metro, o quilograma e demais unidades que o mundo aceita, resumindo-as a um só termo de comparação. Prático, simples e sempre a jeito. Sem carecer de conhecimentos científicos, ainda que rudimentares. Por todos, entendido. Faz tempo, emigrou. Democratizou-se. Renegou pertença às classes humildes e rurais nortenhas para correr o país de lés-a-lés. Hoje é cosmopolita. Calça sapatos italianos, usa gravata de seda e veste caxemira.

 

“Vai p’ró car(v)alho!” Expressão intrigante. Associar punição ao dito, é fazer dele coisa ruim. Sendo maioritariamente homens os useiros e vezeiros no desabafo, não é estranha a associação? O dicionário afirma que o vulgarismo de pénis utilizado como interjeição é tão somente outro modo de afirmar espanto, admiração, impaciência ou indignação. A origem parece remontar às destemidas naus e caravelas. Marinheiro que infringisse normas era desterrado para o cimo do mastro imponente – o fálico «carvalho». Ficava o punido exposto aos ventos fortes e à mortificação. Sobrevindo enjoo capaz de largar pela borda fora as entranhas, estava garantido castigo exemplar. O «carvalho» era a «solitária» dos mares. Marinheiros em terra, a palavra perde o «r» e conserva o significado temeroso. Transformá-la em ameaça e padrão, foi um passo. Criativo povo que de um mastro faz unidade de qualquer medida, como a distância do car(v)alho entre Bragança e Cacilhas.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:55
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Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009

AMANTE BRANCA

 

Vem do céu. Quando esperada, rebelde como é, fica ausente. Se a surpresa lhe alimenta o vício do aparecer intempestivo, de um momento para o outro, cerra o horizonte. Torna-o diáfano. Pinta-o com brancura mesclada, com mistério enrolado em frio e em quentura interior. Que entreabram as cortinas e lhe espreitem o surgir. Silencioso. Que a desejem e não a temam – liquefaz-se num suspiro despudorado. Derrama o que era seu.

 

Não lhe importa a fidelidade às antecipações que dela fazem. Desdiz e diz e contraria e aceita e é submissa quando partilha o querer e o estar e o sentir. Que seja noticiado o excesso se dele precisa e dispõe dar. Que interrompa vias por onde circulam afectos. Motorizados. Ser banida com cloreto de sódio e pás não a assusta – sabe das memórias que prevalecerão. Noites longas, fervura íntima, dias brancos. De tudo constitui património e herança.

 

Por ora, Vila Real e Bragança sentem-lhe a alvura. Isola povoações. A região da Guarda substituiu-a por gelo. Sabe o que perdeu. E a mulher vive saudade da neve na Beira Alta que ama. Do crepitar da lenha e do fogo latente nas brasas. Porque o Natal já é e terá apogeu daqui a uma semana, pela totalidade dos presentes embrulhados com amor e sem consumo que a consuma, lembra a pista de sky na cidade, as luzes dum alongado Natal vivido há dois anos, os imaculados farrapos caídos do céu que fotografou.
 

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 06:27
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