Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2014

CESARIANA QUE TENHO PRESSA

 

 

  

Jan Esmann 

 

Pouco depois dos olhos piscarem decididos a abrirem-se para o dia, depois dos rituais básicos das manhãs, o comum: ligar a rádio e ouvir novidades matutinas raramente quentes e boas como castanhas saídas do assador.

 

Do que ouvi, além da mais sumarenta, quatro notícias merecem destaque :

- morreu Paco de Lucía, o génio musical e mestre da guitarra andaluza;

- pelo segundo ano consecutivo, anulada a Feira do Livro no Porto;

- as declarações do nosso seráfico Presidente em São Francisco perante assembleia de jovens portugueses altamente qualificados. Descreveu Portugal como oásis distante do negrume que a imprensa internacional soe relatar;

- o Parlamento Europeu discute criminalização e multas a que estão sujeitos clientes de prostitutas, agravadas as penas se as «meninas de aluguer» tiverem idade inferior a 21 anos. De imediato, estas e o sindicato a que pertencem rebelaram-se. Presumo que por estarem em jogo os respetivos proventos e o direito a disporem livremente do seu corpo.

A estas e outras lá irei em dias próximos.  

 

O relevo do acontecido em Portugal vai direto para um estudo de duas investigadoras da Universidade de Aveiro. Transcrevo a notícia da Agência Lusa, pela convicção de que se deixar com rédea solta a minha subjetividade desaparece a essência objetiva do assunto. E merece-a.

“Um estudo hoje divulgado conclui que o elevado número de cesarianas efetuado no serviço público de saúde deve-se ao facto de os hospitais não terem profissionais suficientes "para que haja tranquilidade" na hora de decidir.

O estudo sobre a realização de partos, elaborado pelo Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial (DEGEI) da Universidade de Aveiro, conclui que a preferência pela cesariana é tomada muitas vezes num contexto de cansaço por turnos prolongados e partos morosos.

"No setor público, os médicos ganham uma remuneração fixa, independentemente das consultas ou das cirurgias efetuadas. Assim, a preferência pela cesariana em detrimento do parto natural não se deve a questões económicas mas organizacionais. A opção pela cirurgia deve-se ao facto de os hospitais não terem profissionais suficientes para que haja tranquilidade na tomada da decisão mais apropriada", refere o estudo.”

 

Mais refere:

- por cada parto natural, um parto cirúrgico;

- aumento de 70% no número de cesarianas efetuadas no último ano;

- no privado, o número e substância dos exames requeridos durante mais consultas que o habitual no seguimento das grávidas, envolve proventos acrescidos para os médicos e para a instituição;

- ainda no privado, parto cirúrgico requer prolongar o internamento.

 

Repito: desde há alguns anos a esta parte, Portugal mais se afunda no rótulo de sítio mal frequentado.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Nota: porque morreu Paco de Lucía, homenagem merecida.

 

publicado por Maria Brojo às 09:24
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