Ponte do Diabo de Mizarela, Portugal
Sei que as pontes são obras de engenharia complicadas de desenhar e construir. Em idos remotos, sendo muitas as dificuldades, as populações recorriam às forças do oculto para, julgavam no obscurantismo reinante, as ajudarem a erguer a obra. Disto, contam as lendas. Por toda a Europa há "pontes do diabo" desde Gales, no Reino Unido, à Bulgária, a França, à Itália, às montanhas da Suíça, a Espanha e até em Portugal. Todas com alguns séculos em cima e com lendas que perduram. Por cá, o demónio também ajudou a construir algumas pontes sendo a mais emblemática a de Mizarela. Foi erguida na Idade Média e reconstruída no início do século XIX. Mizarela é sita a 13 km da sede do concelho, no vale do Caldeirão, Parque Natural da Serra da Estrela, na margem esquerda do rio Mondego.
“Nos anos 80, aquando da construção da Casa do Povo, foi imortalizada num painel de azulejos colocado na fachada desse edifício a lenda que explica a razão pela qual Mizarela ou Misarela é conhecida como a Aldeia do Melro. Conta a história que um agricultor andava pelos campos, de roda das cerdeiras, zelando pelas cerejas que estavam a amadurecer e, como tal, apresentavam uma cor amarelada quando vê fugir um melro do meio de uma das árvores. Tendo o dito pássaro o bico amarelo, contava ele que tal fosse uma cereja e desatou a correr atrás dele empunhando uma espada de cortiça. Quando o pássaro parou em cima de um barroco de granito o agricultor não pensou duas vezes e atirou a espada com o intuito de acertar no melro. Consta que a pontaria não foi a melhor mas que, tal a fúria e determinação das gentes da terra, ao que parece o dito barroco abriu-se com o impacto tendo a espada de cortiça ficado cravada nele. Alguns populares acrescentam que o dito agricultor correu atrás do melro bons quilómetros, até ao sítio do Apeadeiro de Sobral da Serra. Outras fontes mais pictóricas afirmam que o melro levava realmente uma cereja no bico e que, para fugir da espada, a deixou cair e esta se foi enfiar na brecha recém-aberta no barroco e que daí rebentou uma cerdeira.”
Segundo outra lenda, um criminoso fugido da justiça viu-se encurralado e desesperado ao chegar aos penhascos sobranceiros do rio. Talvez pelo peso da consciência, o criminoso invocou o nome do mafarrico que de imediato apareceu. Disse o diabo: _ "Ajudo-te a passar mas em troca dás-me a tua alma". Em ato de desespero, o que importava era salvar o corpo em vez de ser capturado e enfrentar a justiça o criminoso assentiu. Num ápice, o diabo fez aparecer a ponte, o foragido passou para a outra margem deixando as autoridades perante obstáculo intransponível, pois a ponte já se tinha esfumado. A estória não se ficou por aqui. Passados tempos, o pobre homem sem alma viria a arrepender-se do pacto que tinha feito e foi contar o sucedido a um padre. Disse o padre: _ "Pecado, terrível pecado! Vais outra vez ao mesmo sítio e voltas a chamar o Diabo, pedindo ajuda para a travessia do rio. Deixa o resto comigo." Assim foi. Já no local, o desgraçado volta a chamar o chifrudo que logo apareceu e concede-lhe o desejo: a ponte surgiu. A meio da travessia, o homem parou, o padre escondido apareceu com água benta e aspergiu-a. O diabo esfumou-se no ar, deixando odor intenso a enxofre. O diabo tinha sido enganado. O homem recuperou a alma, a ponte ficou benzida e permanece.
Da ponte da Mizarela advém ainda mais uma lenda - “Quando uma mulher não levava a bom termo a gravidez ou pelo simples medo de perder o primeiro filho ainda na gestação, devia pernoitar na ponte até ao alvorecer, impedindo que algum ser vivo por ali passasse. De manhã, esperaria pela primeira pessoa que aparecesse, pedindo-lhe que com uma corda comprida presa a um recipiente apanhasse água com a serventia de benzer o filho ainda na barriga e ser o padrinho ou madrinha da criança. Rezavam um Pai Nosso e uma Avé Maria. "Se for rapaz chamar-se-á Gervaz, se rapariga, Senhorinha." Feito o pré-batismo, a mulher tinha sucesso na gravidez.”
Fontes – TSF e Wiki.
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