Sábado, 14 de Dezembro de 2013

"ANA DE LONDRES"


  


 

Após mais uma ses­são da ter­tú­lia “Vava­di­ando” pro­mo­vida pelo Lauro Antó­nio no Vá-Vá onde foram cru­za­dos tem­pos e cru­zam as ave­ni­das Esta­dos Uni­dos da Amé­rica com a de Roma, fui desa­fi­ada pela pin­tora Graça Del­gado para sur­presa longe dali. Vínha­mos com almas cheias pela his­tó­ria do lugar no final dos ses­senta, na década de setenta, des­fi­ada pelo Fer­nando Tordo. Des­ce­mos às cata­cum­bas do metro. Até ao Cais do Sodré, extra­va­sá­mos emo­ções e con­tos, risos mui­tos pelo que fôra­mos nos tem­pos lembrados.

 

Na zona para onde a moda da atual noite lis­bo­eta se mudou, a sur­presa. Esta­be­le­ci­mento esconso, bal­cão sim­bó­lico, mochos, pou­cos, como assen­tos, luz e palco dimi­nu­tos. Neste, mesa de honra onde haviam tomado lugar os pro­ta­go­nis­tas: Miguel Real, autor do pre­fá­cio, o ilus­tra­dor, Manuel San-Payo — fora colega e amigo que per­dera de vista -, o edi­tor da obra apre­sen­tada. Cris­tina Car­va­lho, ao cen­tro. Da escri­tora, jamais havia lido o quer que fosse. Somente ali, tive conhe­ci­mento da sua extensa obra lite­rá­ria, de ser filha de Rómulo de Car­va­lho, Homem com o qual con­vivi, peda­gogo da ciên­cia cujos sabe­res e livros me haviam ilu­mi­nado o per­curso na divul­ga­ção das ciên­cias Física e Quí­mica. Senti-me em casa tam­bém pelo lugar des­po­jado de ribal­tas oci­o­sas. No final, dança mis­tura de gera­ções reu­niu desde cri­an­ças peque­nas até adul­tos de idade meia – a grande idade rara ali. A boa sele­ção de música dos anos ses­senta res­pon­sá­vel pelo bai­la­rico. Em lan­ça­mento, “Ana de Lon­dres”. Ante­ri­or­mente, fora conto no pri­meiro livro de Cris­tina Car­va­lho, “Até já não é Adeus: his­tó­rias per­ver­sas”, dado à estampa em 1989 e em 1996 publi­cado auto­no­ma­mente. Pela valia histórico-social do conto, pela admi­rá­vel escrita, ganhou alfor­ria após revisto. Deci­sivo o empur­rão dos lei­to­res e de crí­ti­cos remon­ta­dos. Encanto suple­men­tar neste livro há cur­tos meses ree­di­tado: os pre­tos e bran­cos de Manuel San-Payo (quan­tas vezes pre­sen­ciei a exe­cu­ção de mais pelo mesmo artista plás­tico!), res­pon­sá­vel por um dos banners de elei­ção deste “Escre­ver é Triste” tra­zido pela «prima» Rita Roquette de Vasconcellos comen­tado com exce­lên­cia por outra «prima», Eugénia Vasconcellos.

 

É em Lis­boa que decorre a ação do livro escrita com lin­gua­gem pre­cisa e pre­ci­osa. Loca­li­za­ção tem­po­ral: final dos anos ses­senta do século pas­sado, mais rigo­ro­sa­mente em julho de ses­senta e nove. Tem­pos difí­ceis pelo cin­zento névoa e lutos que em per­ma­nên­cia se aba­tiam sobre os por­tu­gue­ses. A guerra colo­nial, o ambi­ente pardo e cas­tra­dor que engai­o­lava todos, jovens em par­ti­cu­lar, a revolta por tal, a fuga de tan­tos. João Filipe, namo­rado de Ana Maria, um de mui­tos. Nos ide­ais e deca­dente viver em Por­tu­gal, Ana encon­tra força para esca­par de tama­nha sem graça. Aban­dona famí­lia e ami­gos. Parte de Campo de Ouri­que para Lon­dres. Das aven­tu­ras, das des­fei­tas no antes e depois, é nar­ra­dora amiga de infân­cia de Ana. Por ela sabe­mos o pas­sado no momento em que a rapa­riga de dezoito anos comu­nica aos pais o deci­dido (…)

 

Nota: texto publicado hoje no "Escrever é Triste.


CAFÉ DA MANHÃ



publicado por Maria Brojo às 07:57
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Quinta-feira, 3 de Janeiro de 2013

DO CASARIO, A PATINA

Manuela Pinheiro - Casario

 

Texto esquecido

 

Para quem vem das Amoreiras e mergulha no bairro esquecido, cheiro a frango assado antecipa Campolide. De arquitetura pobre, comum em Portugal, a classe média que o recheava envelheceu e regrediu no pré mensal. Tempo recente, mudou, devagar, o retrato das gentes – é chique habitar nos clássicos bairros pobres da cidade. Tetos e janelas altas, escadas de madeira e corrimões atraem quem, de bom gosto, procura diferença d’antanho e pode de apartamento gasto fazer arte.

 

Com a patina do tempo – visão romântica da pintura descascada que a acidez da chuva sulcou de negro – o bairro laborioso tornou-se lar de terceira idade; apoio domiciliário substituído pelo comércio de vão de escada. O Sr. Zé, que vende frutas, legumes e básicos de sobrevivência, dá o alarme se contabiliza baixas nas visitas diárias. O mesmo com a Cidália que limpa as escadas de para cima de meia dúzia de prédios, ou a Dona Joaquina que, atrás do balcão, bem conhece os fregueses da leitaria herdada do defunto – “Mais valia tê-la vendido quando o «chinoca» quis comprar, mas que quer?, ensimesmou que gente daquela nem vê-la e olhe no que deu! Enfiou-me neste prisão. O enterro, que Deus o tenha, meio ano depois. De nada valeu a esquisitice porque o chinês abriu loja duas portas a seguir.”

 

Deslustra o bairro não ter marcha que arrebate troféu na dengosa Avenida em noite de Santo António. Merece olhar de esguelha pelo acesso direto ao humilde bairro da Liberdade prás bandas da Serafina. Falta-lhe o sortilégio do vizinho Campo de Ourique, cujo comércio a nata social (re)descobriu, ou o elitismo da Lapa. Não é uma das setes colinas engendradas pelo frade Nicolau de Oliveira à imitação de Roma - São Vicente, Santo André, Castelo, Santana, quinta S. Roque, Chagas e a sétima, a colina de Santa Catarina do Monte Sinai desdobrada em socalcos para o rio.

 

Bastando o bastante, em Campolide e desde o meio das manhãs, cheiro a frango assado anula «perfumes-de-sair» das poucas senhoras de sobrancelhas de lápis destacadas no pó-de-arroz.

 

Amoreiras e Campolide ainda extremam segmento de idiossincrasias duma cidade impiedosa no arrumo das classes sociais.

 

Nota: há instantes, publicado aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:17
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