Sexta-feira, 5 de Dezembro de 2014

HISTÓRIA DE (DES)ENCANTAR

 

John Hagan 5.jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 John Hagan

 

Olhavam o céu encostados à grade da praia de Carcavelos onde a boca do túnel deita a língua de fora até ao paredão. A noite chegara há horas, enganava o momento –- seguinte ao jantar. Noites longas, curto o dia que por volta das quatro, estando farrusco o tempo, pisca olho ensonado ao horizonte onde o aguarda, para a deita, cama.

 

 

Num sítio sem história –- como se história viva fosse pertença de pedras ou de areia ou de betão -–, vestidos de negrume, miravam, espectantes, a calote salpicada de brilhos - mortos, vivos e o mais não sabido. A distância, devastadora pelos zeros se em quilómetros traduzida, é manga de ilusionista que engana o universo. Cavalgando a luz a 300 000 km.s-1, entre o óbito de uma estrela e o desligar da cintilação vista da terra, demora para cima de século e meio. O mesmo se houver universos com vida -– do jogo de probabilidades este particular não escapa! Vislumbrem-nos entes distantes e, congregados espantos no mundo deles por nós existirmos, talvez num código intrincado seja enviada carta e de nós o retrato à laia de cumprimento de boa vizinhança. Descoberta a cifra, deixar-nos-ão de boca aberta:– “ruas cheias de carruagens atreladas a cavalos, damas rabejando saias pelo chão, cavalheiros de casaca e com chapéu.” É que a imagem que de nós tiveram reportou-se a mais de cem anos atrás, por via da lonjura que a luz foi obrigada a cumprir.

 

 

Sombra única, o par ainda mirava o céu. Arrecadavam a serenidade de quem é casal. Por dentro, pela intimidade, pelo segredo cúmplice. Um deles conjugado, o outro não. Quem os visse invejaria a intensidade contida em cada gesto. A pressão das mãos. A distância anulada. Por dentro e por fora. Pela cidade, alguém pela falta do outro não dava –- o hábito é como lente de má qualidade que esborrata do outro a verdade. Casal eram eles. Quem lhes julgava deter a posse legitimada pelo carimbo oficial era companheiro de quarto, utente e sócio do histórico comum. Por isso querido. Por isso amigo. Por isso aceite. Até ao fim.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:25
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Terça-feira, 21 de Agosto de 2012

SOMBRA ÚNICA

Trish Biddle

 

Olhavam o céu encostados à grade precária da praia de Carcavelos onde a boca do túnel deita a língua de fora até ao paredão. A noite chegara há horas e enganava o momento –logo a seguir ao jantar. Noites longas, curto o dia que, por volta das quatro, estando farrusco o tempo, pisca olho ensonado ao horizonte que o aguarda para a deita.

Num sítio sem história,– como se a história fosse pertença de pedras ou areia ou betão, vestidos de negrume, miravam, expectantes, a calote salpicada de brilhos - mortos, vivos, ou vá-se lá saber. A distância, devastadora pelos zeros traduzida em quilómetros, é manga de ilusionista que o universo engana. Cavalgando a luz a 300 000 km.s-1, entre o óbito de uma estrela e o desligar da cintilação vista da Terra, demora para cima de século e meio. O mesmo se houver universos com vida -– do jogo de probabilidades, este particular não escapa! Vislumbrem-nos entes distantes e congreguem espantos no mundo deles por existirmos. Talvez enviar mensagem de boa vizinhança aos terrestres. Bons cavalos os levem e carruagens os tragam, rabejando as fêmeas as saias pelo chão e os machos a casaca e o chapéu.” É que a imagem que de nós tiveram reportou-se a mais de cem anos atrás, por via da lonjura que a luz cumpriu.

 

CAFÉ DA TARDE

 

publicado por Maria Brojo às 16:48
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Olá. Posso falar consigo sobre a sua tia Irmã Mar...
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