Carlos Botelho
Lisboa, tão bela, depois da Estrela arrisco desgostar-me dela. Inaugurado o regresso com filas de trânsito na curta distância desde casa até outro ninho de afectos, preciso, com urgência que se me não tolde a visão e relembre os encantos da cidade ribeirinha, das colinas, dos recantos ternos que não dos arrabaldes, pensões Estrelinha nocturnas, onde há feiura, lixo e mau no cimento erguido.
Coimbra, lar outro, já piora no terço do caminho andado desde a limpeza e vida simples de Gouveia. Em Lisboa, gaiola que me aprisiona – sentimento por uma vez experimentado há quinze anos num retorno semelhante. Nunca depois com desconsolo tão grande como ontem. Faltam-me lonjuras, sobram «repolhos» que entopem vidraças. Faltam-me “bons dias” de quem não conheço, sobram apitadelas e gestos impacientes. Falta o conforto dos cheiros da terra, as regas do entardecer, acessibilidades pacíficas; transborda na taça desgostosa a secura das árvores que tentam amenizar de modo raquítico a quentura dos passeios separados por alcatrão.
E, Lisboa!, demando entre os liozes, calcários outros e basalto a tua sedução feiticeira. Garanto-me disponível para sentir e rendição. Não peço engodos, apenas que te reveles num novo surpreendente sem rasgares cambraias ou o linho do Tejo onde adormeces nua, ondulante, coberta com lençol de estrelas, afagada pelo rumorejar dos cais e embarcações.
CAFÉ DA MANHÃ
Carlos Botelho
Ao novo ministro da Economia e do Emprego, Álvaro Santos Pereira, já foram tecidas loas devidas também ao respectivo percurso como brilhante académico. Funções iniciadas, lamentou não ser Portugal a Florida da Europa. Temos latitude semelhante, clima ameno, gente afável, soberbo território e tradições que surgem como factores/lastro da possibilidade.
Em belezas naturais fica a perder a Florida e ganha por muitos o nosso país. Se houve alturas em que rejeitei liminarmente a ideia de sermos o INATEL europeu, a história recente do descalabro económico que nos enferrna obriga a avaliar outros pensares. Atrasámo-nos em relação a Espanha que a tempo lobrigou o potencial turístico planeado com qualidade assente na procura e sem preocupações selectivas – o designado ‘pé-descalço’ tem direito a lazer e divertimento que o calce em forças para o resto do ano.
À boa maneira das vistas curtas portuguesas, estragámos pérolas ambientais, demorámos a dar formação aos empregados e patrões do sector turístico, apostámos no improviso e no laxismo. Restando quase impolutas certas regiões, é hora de inaugurar nova era. O Alentejo e o Norte e o Centro com magníficas serras e águas termais e belezas de espanto merecem atenção. Que o planeado seja bem estruturado e formoso, que seja promovido o termalismo.
Não sendo possível emendar erros antigos, que o novo aprenda com eles. Entre outras, existe área empresarial capaz de ajudar eficazmente a recuperação económica: turismo de excelência para «estranjas» e nacionais.
CAFÉ DA MANHÃ
Carlos Botelho, Estrela Faria, ambos em acervo no Museu de Arte Popular
‘Começo pelas boas ou pelas más notícias?’ é pergunta comum com resposta dependente do lado afoito do inquirido. Os optimistas soem escolher as ‘más’ por inferirem o melhor do após. Pessimistas optam pelas boas novas ao dar-lhes tempo para se reverem nas infelicidades sistematicamente previstas. Conclusão íntima: _ Bem sabia e irá a pior.
Por este meio, quem decide é quem escreve e a ‘má’ ganha dianteira: acórdão do Tribunal Da Relação concluiu que duas estaladas na ex-mulher não constituem violência doméstica. Ficam inquietações:
- mais que duas já são puníveis?
- o cerne da decisão situa-se na condição de «ex-esposo»?
- se a mulher retaliar com idêntico par de estaladas a conclusão soberana é idêntica?
A primeira das boas respeita a equipa portuguesa ter ganho o campeonato Euroskills. Provam as conquistadas “9 medalhas de ouro, 12 de prata e 9 de bronze. Fora de competição foram ainda atribuídas 8 medalhas de excelência. Portugal conseguiu 136 pontos tendo deixado a Áustria (99,90 pts) no segundo lugar e a Finlândia (98,54 pts) em terceiro.” Os jovens portugueses exibiram competência e serem herdeiros dignos do atávico espírito desenrascado português. Em alta, méritos do Ensino Profissional e daqueles que os frequentam sem lhes fazer mossa o estatuto de «não-doutores».
‘Boa’ segunda: reabre o Museu de Arte Popular. No comboio dos 62 anos da história conturbada, paragem no abandono, outra nos destinos múltiplos do espaço, mais uma, a última, na recuperação sendo objectivo o primeiro. Desde hoje, patente a exposição "Os Construtores do MAP - Um Museu em Construção". As lojas anexas prometem qualidade e para quem, acabada visita a um espaço museológico, se perde nos objectos com design original, em Portugal ou lá fora, a classificação de ‘notícia boa’, passa a belíssima.
CAFÉ DA MANHÃ
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Peregrinando
Brasileiros