Oleg Zhivetin – “Mother And Daughter” Oleg Zhivetin
Ser mulher também é viver alguns meses MARÉ CHEIA
para ser MARÉ VIVA num só dia
Ver nascer
aquele que há-de ser
Razão
Vida
Continuação
Alternativa
e nunca, nunca mais(?)
se sentir MARÉ VAZIA
Poema cuja autora é a mui querida parceira de escrita “Era uma Vez" e publicado em “Colectânea de Poetas em 1983”
ÚLTIMA HORA
"A Academia de Grammy latinos, que entrega prémios aos artistas mais destacados da música latina, anunciou hoje que Carlos do Carmo será um dos agraciados com o prémio de Excelência Musical - «Lifetime Achievement», que celebra a carreira do fadista." ´É o primeiro português a receber o mais importante galardão desta academia. Está de parabéns Carlos do Carmo e Portugal.
Está previsto que o troféu seja entregue a Carlos do Carmo no próximo dia 19 de novembro deste ano, no Hollywood Theater da MGM, em Las Vegas, Estados Unidos da América. Nesse mesmo mês estreará em Portugal um filme documental sobre a vida e a obra de Carlos do Carmo realizado por Ivan Dias. Neste momento, e até ao final do ano, estará patente na Cordoaria Nacional, em Lisboa, a exposição "Carlos do Carmo 50 Anos".
CAFÉ DA MANHÃ
Bob Dylan Caring
Porque descreve razões que subscrevo do meu gosto pelo Bob Dylan e por esta composição em particular, porque me lembra tempo em que fui, porque foi ido rico em mudanças sociais, do meu contexto também, considero ocioso reescrever a substância da notícia ou desdobraria rol extenso de intimidades. Por agora, prefiro deixá-las no meu baú/tesouro.
“O manuscrito de "Like a Rolling Stone", a mítica canção que celebrizou o músico norte-americano Bob Dylan no mundo do rock and roll, vai ser leiloado pela Sotheby"s a 24 de junho em Nova Iorque.
Avaliado em cerca de dois milhões de dólares (cerca de 1.445.790 euros), o manuscrito de Bob Dylan é a joia da coroa do leilão intitulado "De Presley ao Punk: Uma História do Rock and Roll", organizado pela Sotheby's.
Segundo a organização, o leilão também inclui obras de Jimi Hendrix, The Beatles, Elvis Presley e dos Rolling Stones.
Escrito pela sua própria mão e letra em 1965, o texto de quatro páginas é o mais importante dos lotes de música popular desta venda porque, com ela, Dylan passou de cantor de folk a ícone do rock.
"É o Santo Graal das letras do rock. O lançamento de "Like a Rolling Stone" mudou irreversivelmente a história da música depois da guerra", disse, num comunicado, o especialista da leiloeira na área da música Richard Austin.
O tema, retrato de uma vida errante e solitária, foi eleito pela revista Rolling Stone como o segundo disco mais influente da história do rock, depois de "Satisfaction", dos britânicos Rolling Stones.”
Nota - esta a fonte onde bebi.
Da "Era Uma Vez", mulher rica no sentir que transfere para as teclas e, por isto, minha convidada para nesta chaminé virtual escrever.
"era a tarde mais bela de todas as tardes que me acontecia"...
A minha filha de dois anos empoleirada nos ombros do pai sorria por nos ver sorrir
Um cravo para um soldado e aconteceu à janela de um quartel
e Lisboa se encheu de sorrisos e da "festa da vida" em música já anunciada
"e venham os novos e os velhos" e vieram mesmo ou ficaram debruçados nas janelas com bandeiras nacionais
do meio da multidão que desfilava devagar
e dos passeios apinhados a ver passar
surgiam de quando em vez homens que
se abraçavam chorando
talvez tivessem feito a guerra talvez Caxias talvez o Tarrafal
o sol já sem medo inundava a cidade emoldurando a alegria
talvez ingénua
porque raramente imaginada
EU estive lá. A minha geração esteve lá.
Levou os filhos e os pais e a fé num país melhor
Merecíamos aquela tarde. Foi nossa. E será sempre enquanto tivermos memória.
E essa, não há governo nem troika nem corrupto que consiga apagar(ou taxar)
O piquenique e as rosas que fiquem para outro dia...
Hoje é o dia de quem trabalha e trabalhou,
Cresceu, floriu e deu frutos, acreditando...
CAFÉ DA MANHÃ
Dona Surprenant –Two Men Praying Mark Young - Unconditional Love
Entrava em casa após um «vou-ali-volto-já» ao minimercado do bairro - para mercearia é demais, para frutaria é de menos, para mercado falta tudo, para supermercado é órfão de pai-monstro com múltiplas cabeças. Evito as grandes superfícies vendedoras pelo cheiro que invento e me enjoa – sinestesia obscura, não duvido!
Dois idosos caminhavam, lentos, pelo passeio. Sentido contrário ao meu. Um saco em cada mão, antebraços semi-erguidos e angulados, transformava acto comezinho em recreio de musculação. Eles e eu quedámo-nos à mesma, minha, porta. Decorreram segundos embaraçosos. Para meliantes faltava-lhes viço, de pedintes não tinham o ar encolhido e sabujo. Enquanto apalpava os bolsos, pediram autorização para entrar. Ainda a chave procurava o lugar do “Abre-te Sésamo” e começou diálogo (im)provável para quem, por dez minutos, interrompera a doçura doméstica para comprar nozes e avelãs – o resto foi acréscimo que não rabiscara no post-it mental.
De oitenta para cima, o mais velho apoiava na bengala o esqueleto ressequido até metade do que um dia foi. O outro, vivendo dos setentas a metade superior, não tinha esvaído, por inteiro, a robustez do corpo alto, esguio e bem apessoado. Apresentaram-se com a dignidade de cavalheiros num salão - podiam ter dito “a menina dança?” e não arregalaria os olhos de espanto. Mas ouvi: “A menina aceita ouvir a palavra do Bem?” Por amor à verdade hesitei no remoque: “tenha a fineza de me somar décadas!” Optei por silêncio compassivo que à bondade/estratégia dos interpelantes não diminuísse efeito. “Acredita na Bíblia?”, e eu nem que sim nem que não; ainda remoía o facto de avançados os anos, quem deles se atrase, um que seja, merecer epítetos de “miúdo”, “jovem”, “rapariga/rapaz mais novo que eu”. “Permita que lhe ofereça este fascículo baseado na Bíblia”. Aceitei e começaram, apartamento a apartamento, o périplo catequista. Antes a novidade dos ‘dandies’ idosos do que duas reformadas devotas de pudim flan, de conversas vazias e cheias de piedade e compreensão e de queixas de doenças e de solidão e do marido rabuja e do filho que nem casa nem gera netos que constem nas fotografias gastas pelo uso que trazem nas malas de mão.
Que leva humanos a ensaiarem na fase final da vida a carreira de profetas? A optarem por dias apostólicos, disseminando nos bairros presumidas verdades? A trocarem jogatinas de bisca e damas em recato aconchegado pela venda, porta-a-porta, das palavras de um Deus? E enchem as igrejas nos rituais comunitários que, uma vez por semana, lavam almas para depois as preencherem com exaltada fé em aléns.
Quando em cada acordar a desesperança sobe ao mesmo tempo que a persiana do quarto onde revolveram insónias e cobertores, são excessivas as horas pela frente. O pequeno-almoço na casa vazia ou no lar-depósito, a contagem dos comprimidos, a televisão por companhia, o almoço a meio-sal, a sesta entremeada de receio pela ausência ou presença indiferente, vezes demais violenta, dos filhos. Poucos são os idosos que a família, quotidianamente, pode ou quer envolver num abraço quente em afecto. E refugiam-se nas igrejas, mais por medo do que por fé antiga. São os crentes de última hora. São os que na terra já vivem no além. Que carimbam nas missas o passaporte para emigrarem dos anos do vazio para uma eternidade redentora. Assim seja!
CAFÉ DA MANHÃ
Stephen Cefalo, “The Optimist” (Museum of Realist Art) Larry Preston,“Egg and Shells”( Museum of Realist Art)
Na semana que passou foram esquecidas tristezas e dívidas com a vitória da Seleção de Portugal de Futebol que nos levará ao Brasil. Nesta por ora corrente, relembradas por via da decisão do Tribunal Constitucional que por um juiz desempatou o desafio quarenta horas de trabalho semanal versus as trintas e cinco vigentes na função pública. Perdeu qualidade de vida o funcionário público, o tempo para a família e coisa e tal previstas na Constituição.
Porque gosto de verificar ‘in loco’, isto de me fiar na informação difundida é chão que já deu uvas que desgostei, vou passar o trato das burocracias para a hora a mais. Sempre quero ver, noite em vista, quantos no desemprego ou cidadãos estafados pelo trabalho escravo a aproveitam. Sob a capa da eficácia do serviço público, está em causa substantivo corte no salário.
Se acordei, por isto, avinagrada, nem desculpa peço pela vontade que despontou – saraivada de ovos sobre os sete do Tribunal Constitucional.
CAFÉ DA MANHÃ
CAFÉ DA MANHÃ
Gosto de vigiar alvoradas. As imagens duma Lisboa amanhecida, a voz do Carlos do Carmo, o acompanhamento ao piano de Bernardo Sassetti fazem deste vídeo um tesouro. (Composição original de Sérgio Godinho)
Cecília Gilabert, Roast Chestnuts
Não falha o São Martinho. Brinda com sol os portugueses que sem distrações o veneram, mais não seja pelas castanhas assadas, água-pé ou jeropiga. Famílias ou amigos reúnem-se na noite e, depois, no dia de S. Martinho tendo como chamamento petisco de castanhas cozidas e aromatizadas com erva-doce ou assadas.
Ignorava o banal micro-ondas como tecnologia que assa castanhas em breves minutos. Ensinaram-mo ontem. Hoje, vou experimentar. Lavadas, com o golpe recomendado e sal. Não se perde a tradição e o planeta agradece a economia no consumo energético.
Durando o sol, programo deambular por aí até encontrar assador de castanhas que por módicos euros me venda aquelas de que não prescindo – tão diferente o sabor! Feliz, aquecerei as mãos no cartucho enquanto avanço na caminhada.
Notas anexas
CAFÉ DA MANHÃ
Partiu Bernardo Sassetti. Fim precoce para um homem que à música portuguesa tando deu. Fim solitário como quase todos. Tragédia com explicação como quase todas.
Na corda bamba da vida, o caminho do músico e compositor terminou. Ficam legados: memórias, obra feita, família hoje derrotada, de breu pelo luto. Amanhã os amores que ficaram progredirão no seu caminho da instabilidade quotidiana. Num dia sem marca no calendário, a esperança chega. Regressarão sorrisos. A tela da vida adquirirá colorido sem que o esquecimento do homem se fine.
CAFÉ DA MANHÃ
Oscar Durand, Margaret Morrison
Vamos ter menos feriados católicos e laicos. Acho bem – poucos celebravam condignamente a «coisa» que lhes prolongava o serão anterior, quiçá na remota possibilidade de convencerem a mulher a «coisar», o sono, o remanso no dia aprazado para a «coisa» oficial comemorar. Se a «coisa» favorecia salto entre dias úteis, tanto melhor. Dá-se o caso dos portugueses terem como sisma pular regras, ludibriar o estabelecido, o «patrão» colectivo ou o individual.
Como diz alguém a quem muito quero: _ "Este país é um chiqueiro, mas daqui não saio". Partilho a graçola. Fico grata ao lado divertido da «coisa», encontro piada nos embustes usuais do sapateiro ao talhante, adoro ironizar e deixar-me levar, julgam eles, à certa, quando o riso mais importa. Qual o divertimento dum povo bem-mandado, atitudes constantes das páginas certas dos manuais, sisudo, isento do olho pisco ao levar a melhor que faz crescer a auto-estima à ‘Bulhão Pato’ cujo inventor de apelido Mata pouco tinha para satisfazer o Eça, salvo amêijoas, ervas aromáticas, sal, alhos e azeite?
CAFÉ DA MANHÃ
Não é feriado mas dia de S. Martinho que é saboroso celebrar.
Giacomo Ceruti
Pelo Sol, o apetite despertou, com o Sol parceiro foi cobiça peregrinação. Rumo: um dos corações da cidade que sobe e desce de colinas. Moura, ainda hoje, pela história, pelos vestígios inúmeros, pela dolência num domingo luminoso. Aguçado o desejo da partida, ficou esquecida no seu canto doméstico a câmara digital. Não sendo alternativa a do telemóvel, houve que comprar máquina descartável para os registos, cábulas da memória.
Do meio para o início, o percurso. A proa da colina debruçada sobre o azul em fundo, o amarelo ronceiro no encarrilado caminho. Limita ruela muralha sustentada por aço, não se esboroe sobre o casario e sob o largo em cima. Outros carreiros, dizem-nos ruas que são, despontavam para o meio do dia. Vizinhas, uma do Castelo, outra na janela de Alfama, passadas janelas de tabuinhas, rivalizavam pertenças e saberes. Dizia a do Castelo: _ Danço melhor que ela. Olhe para este marchar de Avenida! Sabe que mais? Ainda melhor bailaria a “dos quatro joelhos”, fosse vivo o meu marido.
O atrevimento do enfeite desde o longe prometia surpresa. Descida apressada pela curiosidade. Aconteceu maravilha: grades e varandim bordado em curvas de ferro sobre a estrada do rio, a maior das que Lisboa partilha com bandas de lá que os de cá fruem do horizonte.
Loucuras? Quem se esmera em flores e aves e joaninhas/cata-ventos e arco-íris e bandeiras triangulares que filtram relva e casario? Enredo, projecto ou imaginação frutuosa por detrás das múltiplas cores?
Sob telhados esconsos, bandeiras outras são peças de roupa esvoaçando quando brisa ou vento se levanta. A “União” continuará bondosa e sócia dos habitantes? Mas permanece a intenção na placa marmoreada. Portas cerradas na manhã de ócio dominical.
Já o Tejo estava à beira, e muda a arquitectura. Com arrojo, o Pombalino fadou a cidade – amplitude nas praças e avenidas, monumentalidade possível que a anterior - existia, coerente com os séculos ricos das descobertas? - à tragédia substituísse.
E o azul e o lioz e outras pedras esculpidas e as águas-furtadas sob telha de canudos anunciam do coração baixio da cidade o palpitar.
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possível identificar
As corporações agitam-se: a da construção civil, dos bancos, dos funcionários da Caixa Geral de Depósitos, da Carris, da TAP e outras muitas. A primeira pretende transferir para a reabilitação urbana cascata de lucros que a paragem imobiliária de compra e venda diminuiu. Bem precisam as cidades de banhos de restauro que devolvam condições de habitabilidade para tantos que as arrendam, alguns dos mais desprotegidos pela sociedade. De urbes porcas, feias e más tem havido fartura.
Requalificar bairros, deles os quarteirões, é conferir dignidade aos inquilinos antigos. A paga mensal ao senhorio é pequena e a pescada em arco que na boca retém a barbatana da cauda justifica que também os proprietários não arrecadem bastante para as obras precisas. Enquanto o tecto não cai em cima dos que dormem e os protege dalguma chuva e frio, enquanto as lascas do estuque pendem como lustres desconchavados e a água da torneira escoa amarela pela ferrugem/passagem, é tempo de sobrevivência indigna. E os dias da população envelhecida que habitam centros históricos são passados à janela, ou na cama, ou à porta com os vizinhos.
Dizem típicos lugares assim da cidade, do país. Constam dos roteiros turísticos. A tiracolo, passam câmaras de retratos ou de filmes amadores depois exibidos à família e amigos. Os protagonistas reduzidos a zoologia rara. Que nunca foram para desgraça colectiva.
CAFÉ DA MANHÃ
Colleen Ross
Somos indisciplinados. Novidade de truz! Aliás, qualquer dardo contra a estima nacional é lugar comum – não temos elevada estima pelo povo pertença, sem dar conta significar o mesmo atribuirmos baixo valor ao individual. Cada um incluído até pelo tórax inchado de soberba que admite o esmo do maldizer. Escriba incluída. Bem pode a mulher justificar através da sistemática análise crítica a reflexão escrita – não impede cheiro malino a distanciamento do normal português.
No assunto e prática que hoje a move no dedilhar das teclas, é culpada sem remissão. Estaciona onde calha se completos os sítios legítimos, assim deixe piscando botões disponíveis. Não conta demorar, certeza antecipada e desmentida se fila/surpresa a retiver. Fica em ânsias. Vem à porta lobrigar se é empecilho ou polícia está visível. Não constando ameaças, permanece na fila. Ouvindo apitos raivosos ou espreitada possibilidade de multa, assegura lugar na procissão, apressa sorriso, pede desculpa e negoceia troca de lugar com o outro condutor, ou implora compreensão ao justo caçador de infracções aos direitos de todos. O costume não lhe tem corrido mal e por isso bendiz o poder de um sorriso, mais desculpas embaraçadas e genuínas, a tolerância dos agentes reguladores.
Veio a infractora a saber que num ano a Carris perdeu 900h em imobilizações causadas por outros como ela, pagou 400 euros por cada uma das 1300 interrupções. Depois, há quem maldiga a ineficácia dos transportes públicos por lhe aprazer levar automóvel até ao elevador… A consciência cívica tocou a rebate. Rotulou-se de péssima cidadã. Fez jura de não repetir pelo mais sagrado que a vida lhe dá. Daqui a instantes sai de casa, estacionamento privado aguarda-a. Trabalho cumprido, se uma tela for tentação, ou tem próximo lugar permitido ou andarilha a distância necessária para subir, neste particular, a estima pessoal pela cidadã que é.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros