Miguel Avataneo
A ideia de felicidade vende. Bem. Muito. Barato - ao preço dum seguro, duma ligação de internet, de um automóvel, iogurte ou de um refrigerante. Publicitários fazem do júbilo sofisticada ferramenta de consumo, substituindo a interioridade do sentimento pela dependência de bens. O histerismo dos participantes em competições asnas por uma dúzia de eletrodomésticos é, do mesmo, outra prova - torradeiras, aspiradores, plasmas e carripana, o marido mais a sogra e a prima e o vizinho numa cacofonia berrada de apoios e conselhos «q’arrebentam» tímpanos espectadores. É o mundo ao contrário. Os antípodas da racionalidade como espetáculo. Vão contentamento. A posse como a nova felicidade – mais ter, melhor ser.
Escrevia Carlos Drummond _ "Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons". Pelo prazer simples do doce engolir. Sem outras metafísicas do que comer chocolates, como Álvaro de Campos recomendava na Tabacaria:
Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.
Quem desperdiça a folha metálica porque só embrulhou um prazer, despreza da vida partes. Esquece o escrito de Yourcenar: (…)
Nota – Texto integral publicado aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros