Tom Hanks by Shahin Gholizadeh Manoel de Barros
O que faz Tom Hanks em todos os filmes que mais ninguém pode fazer por ele?
Como surgiram os recordes do Guiness?
Qual a maior palavra da língua portuguesa?
Manoel de Barros
“Manoel de Barros foi o maior ou um dos maiores poetas do Brasil. É um dos poetas contemporâneos brasileiros mais conhecidos em Portugal, na Espanha e na França. O coração do poeta Manoel de Barros parou ontem após 6 meses em estado de ruína, como ele mesmo definia os efeitos dos 97 anos de idade, quase 98, que seriam comemorados no dia 19 de dezembro de 2014. Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros. A Sua obra mais conhecida é o Livro sobre Nada.”
“A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc,
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.”
Manoel de Barros
CAFÉ DA MANHÃ
Chris Peters Snake – “Apples Books” (Still Life Painting) “Drifting Away” by Mariska Karto
Ao emalar tralha para a primeira quinzena das férias, olhei livros por abrir. Dispensei-os. Nas minhas bibliotecas serranas, queria o reencontro com obras lidas e relidas. Fui-me a elas. Ansiava desfolhar páginas com notas escritas a lápis pelos ancestrais! Poisava o livro no regaço e quedava-me tentando adivinhar quais daqueles com quem, amorosamente, privei teriam selecionado frases ou passagens longas. Registo algumas.
«Na mesa, era de uma elegância frugal que desmentia a procedência. Olhava para o bife com fastio tal e tamanha tristeza, que fazia lembrar Tertuliano, quando, meditando na metempsicose (transmigração), olhava para o boi cozido e dizia: "Estarei eu comendo meu avô?”»
Camilo Castelo Branco
"Os homens dizem que a vida é curta, e eu vejo que eles se esforçam para a tornar assim."
Jean Jacques Rousseau
"Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que as pessoas me enxergam."
Carlos Drummond de Andrade
Da Minha Aldeia
“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.”
Alberto Caeiro
CAFÉ DA MANHÃ
Ontem, faleceu Lord Richard Attenborough nascido em Cambridge a 29 de agosto de 1923. Em 1977, no filme “A Bridge Too Far” desempenha o papel do inesquecível lunático com óculos grossos. No “Jurassic Park” (1993), foi o visionário cientista Dr. John Hammond. Como realizador e/ou produtor, inúmeras películas atestam o talento de Lord Richard Attenborough. Com “Gandhi” (1982) recebe os óscares de melhor filme e de melhor realizador.
Frida Kahlo – “Meu Vestido Pendurado Ali” “Auto-retrato na Fronteira entre México e Estados Unidos”, 1932
Nem o título me pertence. Está incluído num ensaio de Claudio Carvalhaes sobre a tela de Frida Kahlo "Meu vestido pendurado ali". Por ser tela que sempre me intrigou, fui beber às fontes.
“A referência religiosa nas obras de Frida vinha de povos abandonados e marcados pela pobreza. Em seus quadros e fotos, seus vestidos e colares eram rodeados e mesmo marcados por aspetos religiosos presentes na cultura mexicana. Em seu quadro “Auto-Retrato na Fronteira entre México e Estados Unidos”, seu vestido está ao lado de elementos como o sol, lua, templo, caveira, sangue, o ciclo vida-morte azteca, e outros elementos da terra que servem para compor referências culturais, religiosas e teológicas do México.
Além das expressões religiosas pré-colombianas, a obra de Frida faz fortes referências ao catolicismo popular, como as coleções de milagres, os “retablos”, que Frida guardava. A Virgem Maria e os santos, Jesus Cristo, seu sofrimento e todo o imaginário católico são símbolos recorrentes na sua obra.”
Acerca da mesma tela escreveu também Carlos Drummond de Andrade
“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria,
o tempo presente,
os homens presentes,
a vida presente.”
De volta a Claudio Carvalhaes. (…)
CAFÉ DA MANHÃ
"Escrever é triste", frase de Carlos Drummond de Andrade, é nome de lugar na rede classificado como o melhor blogue em 2013 pelo Pedro Rolo Duarte. E se ele é fiável nestas e noutros pensares muitos!
Entre publicações que poderia ter importado dali, escolhi as duas últimas. Esta, da Rita Roquette de Vasconcellos, é imperdível. Apesar de, justificadamente, tratar do invisível, mais visível é impossível. E que passe em claro a quadratura dos «ível». Divertimento e aprendizagem assegurados.
O Manuel S. Fonseca publicou crónica na imprensa (Expresso, sábado, dia 8 de Março) que ontem também surgiu no "Escrever é triste". Tem por nome "Sempre que gritam Stella, é por ela que gritam".
Mais não digo porque melhor que tresler é ler. Para começo de fim-de-semana de escrita online ignoro melhor.
CAFÉ DA MANHÃ
O vídeo da Rita O vídeo do Manuel
David Miller
A felicidade vende. Bem. Muito. Barato - ao preço dum seguro, duma ligação de internet, de um automóvel, iogurte ou de um refrigerante. Publicitários fazem do júbilo sofisticada ferramenta de consumo, substituindo a interioridade do sentimento pela dependência de bens. O histerismo dos participantes em competições asnas por uma dúzia de electrodomésticos é, do mesmo, outra prova - torradeiras, aspiradores, plasmas e carripana, o marido mais a sogra e a prima e o vizinho numa cacofonia berrada de apoios e conselhos q’arrebentam tímpanos espectadores. É o mundo ao contrário. Os antípodas da racionalidade como espectáculo. O contentamento vão. A posse como a nova felicidade – mais ter, melhor ser.
Escrevia Carlos Drummond _ "Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons". Pelo prazer simples do doce engolir. Sem outras metafísicas do que comer chocolates, como Álvaro de Campos recomendava na Tabacaria:
Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.
Quem desperdiça a folha metálica porque só embrulha um prazer, despreza da vida partes. No recuo aos horizontes de ontem, o histórico pessoal clarifica o hoje. Pivilegiar memórias desencantadas prova falta à lição maior: para ser feliz até um certo ponto é preciso ter sofrido até esse mesmo ponto. E há quem reconte dos «gajos» do passado que melhor fora permanecerem secretos, das «chocas» com as quais se deitaram. Apetece perguntar se foram gado barrosão sem outra serventia que estéreis parideiras ou inaptos cobridores. Ignoram o escrito de Yourcenar _ "A felicidade é uma obra-prima: o menor erro falseia-a, a menor hesitação altera-a, a menor falta de delicadeza desfeia-a, a menor palermice embrutece-a”.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
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Brasileiros