Mãe divorciada e filha única. Intensa a ligação que as unia. A jovem revelava personalidade conturbada. A mãe, atenta, nada deixou passar. Procurou mais saber. Aconselhou a filha já mulher, vinte e poucos, a tentar resolver o que o diálogo entre as duas não conseguia. Assim foi – anos de psicoterapia sem resultados nos primeiros. A custo, pela carestia das sessões e défice financeiro para o sustento, a Graça conseguiu que a vida da «sua menina» melhorasse. Razão diagnosticada e aceite, com amor mútuo, pelas duas.
Num serão, a mãe via TV. Reportagem sobre o tema que tantos danos havia causado, e causava, à pequena família. No ecrã, a imagem com nome e rosto: da filha. Acompanhada. Os telefones gritando pedidos de atendimento. Ignorados pela Graça – do que assistia não despegava o olhar enquanto as lágrimas corriam. Sem coragem para ouvir o escândalo vozeado de amigos e da família alargada.
Sabia da homossexualidade da mulher de quem sonhara ter, um dia, netos. Dos horrores passados até à assunção da preferência. Num instante, revelado o que era íntimo. Opção da filha e da namorada. Nada esconderam das dificuldades no percurso. Mas amavam-se. Finalmente, em paz e felizes.
Quando é tratado o casamento homossexual, referendo sim ou não, qual a designação adequada para o contrato civil celebrado entre seres do mesmo sexo que partilham afecto, economia e abrigo, espanta o ouvido. Desde doença a crime contra natura tudo é mencionado.
Porque qualquer opção honesta me parece legítima, porque não entendo a causa de tanto ruído, porque todas as gentes têm direitos iguais aos dos semelhantes, pasmo. Tanta balbúrdia pelo óbvio que espíritos livres aceitam sem pestanejo, confunde-me. Ou não – tolerância, utopias e os ideais merecem nomes pejorativos. “És crédula”, “ingénua”, “desadaptada ao tempo em que vives”. Talvez. Mas sou eu. Posso e quero crescer. Todavia, do essencial não abdico.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros