Quinta-feira, 6 de Janeiro de 2011

POSTAIS (A)CASOS

 

 

À chegada, o costume: escutas em seus suportes escaqueirados sim, ou não?, sobre os cortes nos salários públicos providências cautelares para impedir o impossível que juízes, tão públicos como os demandantes, irão decidir, restrições hospitalares nos tratamentos oncológicos, campanha lodosa nas presidenciais, polémica sobre os vídeos de vigilância na Ribeira do Porto e em Fátima. Caramba! Mais parece novela de lata ou, elevando o discurso, filme do Manuel de Oliveira em que fãs como eu aproveitam a lentidão duma cena para cochilar, na certeza de à frente pasmarem com rasgo genial. Desde o regresso, a única notícia que importou foi a partida do mestre Valente Malangatana cuja pintura desde os oitenta me seduziu. Idiota seria esperar novas boas, mas caí no logro. Por tudo e pela gripe que me rouba paciência, opto por postais felizes na significância. Ao leitor devem cansar. Para a Teresa C. representam lembranças boas que a distraem do presente emoldurado em pijama, roupão, lenços de papel. Comezinho. Pobrezinho à conta do revelado da essência do país. Por tudo me viro para a junção do oceano e mar, este prolongando aquele, ali onde foi julgado terminar o continente europeu. Nisto, levámos a melhor: o Cabo da Roca destronou o Finisterra.

 

 

 

Maldito terramoto que em 1755 surripiou o esplendor de Lisboa! Não fosse a malvadez da catástrofe, mais arquitectura de idos teríamos como objecto de orgulho. Assim, foi-se a imponência d'dantanho, muitos dos palácios, palacetes; nasceu a construção pombalina. Modesta, assente em estacas como exigia o subsolo, linda, para desgosto nosso harmónica com a humildade do povo. Geometria e amplitude visionária prova a da Liberdade Avenida mais a do Ouro e a da Prata, a praça ampla do Comércio, todavia desabitada. Ora, nos redutos emblemáticos da cidade postal fervilham moradores e passeantes.  

 

 

Podia ser Estoril, Foz e Passeio Alegre do Porto não fora a ardósia dos telhados denunciando Norte com menos horas de luz arribada a invernia. Cores fortes tentam acrescer dia luminoso. De artifícios semelhantes não precisamos – sol a rodos, amenidade do clima legitimam o branco, o ocre e o rosa português.

 

 

O oceano também é nosso. Brinca com as rochas, como soe fazer da Ericeira para cima. No Sul, é mais pacato e vai-se o aroma da maresia. Por isso me empolga a Ericeira e o hotel sobranceiro ao mar, as ondas batidas, delas o rugir. Não tarda, quero, de novo, senti-lo. No quarto esquinudo pelas varandas, olhar as vagas, ouvi-las enquanto a leitura progride.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Cortesia do Cremnóbota.

 

publicado por Maria Brojo às 06:45
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