Will Kramer
A memória do dia, não minha, pede alegria comedida. No silêncio de uma igreja ou num parque da cidade. Pede planura de beira d’água e da água que corre parada. Papiros despenteados pelo vento. Vestidos floridos nos arbustos. Vergas das esplanadas onde o sol antes de mim tomou assento. Confessionários tão legítimos como os embiocados entre paredes góticas. Omisso sacerdote que me ouça o rol de desvios. Celebração tão íntima e penitencial como em genuflexório obscuro.
Caminho. Vento embaraçando o cabelo que o gesto de sempre afasta dos olhos. Teimoso, regressa, e repito o jeito que o leva. O pensamento vagueia no balanço do dever e haver entre aleluias espaçadas por um ano. Arrependimentos? _ Erro e remedeio são vida. Respeitei e fui respeitada? _ Dei-me, recebi verdade e mentira. Enganei? _ Não. À minha estranha maneira, sou transparente, assim me saibam ler. Legitimo-o? _ Por vezes, à minha estranha maneira de ser leal e omitir.
Prescrevo-me redenção: sol ao alto, bebericar limonada.
CAFÉ DA MANHÃ
Charles Wysocki
Do ponto de vista do utilizador no que ao desenho dos apartamentos e moradias respeita, a inovação maior do século passado foram os roupeiros embutidos ocupando paredes. Antes, eram os guarda-fatos que ocultavam vestimentas e demais tralha relacionada ou não com o trajar. Uma vez repletos e por não existirem espaços fora do apartamentos dedicados a arrumos, era comum a tentação de lhes pôr em cima caixas e caixinhas, tudo o que a subjetividade individual incluía na categoria do «pode vir a fazer falta». Mas não fazia durante anos. Mantos de pó encontravam poiso seguro – apenas nas limpezas de Primavera eram visitados com pano húmido, eliminado um ou outro para a conquista de espaço destinado a inutilidades substitutas. Não havendo o revirar anual da casa, ali permaneciam por ‘tempos longos e bons’.
O soalho sob as camas, altas como eram, também cumpriam com êxito o acumular de objetos. Malas de viagem, caixotes em cartão arrecadavam semelhante ao cimo dos guarda-fatos. Em resumo: orgia de pó e inutilidades as mais das vezes. No que concerne a este século, os benditos sommiers com alçapão merecem o óscar do mobiliário em interiores domésticos. Alojam o pretendido, edredões e colchas em desuso no ciclo do ano mas que inopinada mudança climática reclama. Poupada ida de emergência à arrecadação vulgarmente sita nas funduras do bloco de apartamentos. Economizado tempo na era da pressa. Mantido o minimalismo útil e de ‘bom tom’.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros