“Minha vida era um filme mudo em preto e branco, aí você apareceu e coloriu até o buraco negro onde habitavam meus sentimentos.”
"Pinto os cabelos de preto para os encontros amorosos e de branco para as reuniões de negócios."
“Vou colecionar mais um soneto Outro retrato em branco e preto A maltratar meu coração”
“A sombra do branco é igual à do preto.”
“O estudo da metafísica consiste em procurar, num quarto escuro, um gato preto que não está lá.”
“Liberdade não é poder escolher entre preto e branco mas sim abominar este tipo de propostas de escolha.”
Theodore Adorno
“Infância - A vida em tecnicolor. Velhice - A vida em preto-e-branco.”
“Preto e branco é poesia é nostalgia, é atemporal.”
"... mas preciso de magia. Não consigo viver em preto e branco."
CAFÉ DA MANHÃ
Autores que não foi possível identificar
Setenta anos é obra. Nunca a frase esteve tão certa. E que obra...
Estávamos em 66, e o charmoso Henrique Mendes tinha ido ao Brasil e vinha fascinado com a marchinha “qui por lá se cantava". Orgulhoso de ter trazido a gravação para Portugal, passava-a vezes sem conta na Rádio num programa da altura. A qualidade técnica da coisa estava longe de ser boa mas o conteúdo agarrava e entrou no ouvido. Tornou-se rapidamente um êxito por cá atravessando "tanto mar... tanto mar".
Era o tempo das minhas descobertas. Primeiro, Elis Regina, depois Chico, Vinicius, tantos outros. Qual Cabral, também eu, na minha frágil casca de noz descobria o Brasil ou antes a sua música. Ainda hoje não fui lá. E no entanto, ele tem vindo até mim. Há poucos dias, aqui por casa, o casal divertia-se a relembrar músicas de outros tempos, algumas entre gargalhadas. E lá veio o "encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora" e "será que sou feia? Não é não sinhô". Depois, chegou a vez da marchinha do Chico e vá lá de puxar pela cabeça mas o pessoal já não vai para novo. Não percebo porque se apregoa tanto a sabedoria que a idade traz quando ao mesmo tempo nos rouba o nome das coisas. Enfim, contradições. Entre muitos «lálás», lá fomos reconstruindo a letra que a música, essa, estava impecável e afinadinha.
Sempre gostei do Chico. Aqui estava apenas a começar. Do seu talento, da sua obra, dos seus olhos claros de oceano num rosto moreno que envelhece bem. Ao vivo, dois concertos apenas. Hoje, procurei o poema no Google. A esta distância, reparo que na subtileza das entrelinhas está ali tudo: a consciência social e política que aquele jovem já na altura semeava na música aparentemente ingénua que escrevia. Só os "poetas maiores" o conseguem. Lá como cá.
Parabéns Chico. Muitos anos de vida feliz.
Deve ser bom festejar a vida sabendo que passamos por ele deixando MARCA.
Deixo à minha doce parceira a tarefa de nos "trazer" a marchinha.
“Andava à toa na vida o meu amor me chamou pra ver a marcha passar cantando coisas de amor.”
NÃO É LINDO?
Texto escrito pela mui querida parceira ‘Era Uma Vez’
CAFÉ DA MANHÃ
Yvonne Gilbert
Fosse em avião o trajecto de regresso a Lisboa, Coimbra mais teria sido do que escala pela permanência até sete de Outubro – aniversário em que renovo desejos de outros se sucederem. Costumo dizer: _ “Estes já cá cantam!” E será dividido o dia entre amores que a geografia tem separado. No retorno à ‘Grande Alface’, prolongada a alegria com outros muito amados. Repartição de momentos únicos prega partidas a afectos merecedores de tempo inteiro. Mas estou e serei feliz na partilha se, quiçá, for chegado o momento em que um ano a mais perfará soma bonita do mesmo modo que todas o foram pela lembrança da dúzia de meses com balanço feliz – a ‘contentinha’, neste povo de «inhos» e «inhas», é parca em exigências de grandes coisas quando as pequenas aportam maiores fortunas.
Em dia feriado, o de ontem, a Baixa de Coimbra, é encanto que o espírito retém – artesanato de bom gosto e habilidades mestras expostas na Ferreira Borges e Visconde da Luz; passeantes nossos e de várias partidas do mundo, esplanadas a abarrotar, calor a mais para quem da Estrela desceu. Se já na “Casa do Pastor”, metros acima do meu abrigo em Gouveia, havia comprado parte dos presentes de Natal, na passeata por Coimbra, vazia de gentiaga dos serviços, completei-os. Neste particular, possuo a riqueza de tempo disponível que me permite não assinar oferendas provindas de centros comerciais em horas últimas antes da Consoada. Com tempo e amor, decido o para quê e para quem, ajuízo custos e beleza. Tamanho prazer na escolha é instante felizardo! Venham mais.
CAFÉ DA MANHÃ
Jack Vetrianno
“_ Tu vais ter saudades de mim.
_ Tenho saudades de ti há anos, e então porque não agora – é isso que queres dizer?
Ao amanhecer, a separação parece inevitável, mas nenhum dos dois dá o primeiro passo.
O que é o amor conjugal? Será possível manter o amor vivo durante trinta anos sem que haja lugar para ressentimentos e recriminações? Será que um casamento é feito por dois seres que se complementam, ou por duas pessoas que afinal se desconhecem?
A peça sobre o casamento – ou Marriage Play, tal como Edward Albee a intitulou – é também uma peça sobre o jogo marital, o jogo amoroso, o jogo do teatro. E porque “A play is play”, na célebre frase de Peter Brook que encerra a sua (jovem) tese sobre o teatro em The Empty Space (O Espaço Vazio, 1968), decidimos chamar-lhe ‘Casamento em Jogo’. Aliás, o que é o teatro senão um jogo, senão uma intensa brincadeira de contornos infantis e raízes ancestrais, senão uma acção em que nos transcendemos a nós próprios e à nossa “realidade”, em que criamos e partilhamos com outros (o “público”) novos mundos, ou velhos e conhecidos mundos a uma luz diferente? O que é o teatro senão uma arte jogada a sério sobre a condição humana e as possibilidades de a transformar?”
Rogério Samora e Cucha Carvalheiro no Teatro da Trindade. Isto e melhor aqui.
Informação - após intervalo de tempo em que me não era possível responder a comentários, estão reabertos. Bem-vindos e desculpem qualquer coisinha.
CAFÉ DA MANHÃ
Rob Hefferan
Pensou. Voltou atrás na fila dos itens lógicos . Avançou para recuar. Progrediu. Havia reflectido sobre greves subservientes de interesses que não exclusivamente laborais. Porque detesta «arregimentações» _ OK, no Facebook alinha em doudarias por gostar de brincadeiras _ sempre negou vínculo aos sindicatos que a prometiam defender dos ‘malvados’ patrões. Destes, conheceu dois. Um que tinha por cabotino e de quem odiava tiradas que dizia escatológicas; hoje, considera o melhor que lhe pagou. A segunda era, efectivamente, cretina. Com vista mais curta que a da miopia corrigida. Licenciatura e curriculum fabricados. Pobres e curtos. Uma triste como tristes foram quem lhes suportou borrascas e disparates e perversidades. Eu, entre eles. No início do desempenho, correspondeu a desejos que a profissional havia adiado. Com o rolo dos dias desembrulhado, percebeu a burrice que alojara. Para si concluiu não ser pessoa fiável que lê sinais. Aprendeu.
Se há greve que apoiaria com faixas e marcha conjunta na rua, seria a das mulheres com parceiros que confundem violação com sexo. Sofresse monstruosidade tamanha e sabe o que faria: malas à porta, dele ou dela. Mas ouve-as falar. Fora do escuro da alcova, descrevem mãos que amarfanham almofada, cedências temerosas das reacções despóticas enquanto galho espinhoso as penetra. Das acusações, depois:
_ És frígida! Não prestas em nada. Na cama, és gelo que não apetece a ninguém. Trata-te. Muda. Nem feijoada como a da minha mãe sabes fazer.
As mais débeis soluçam. As lutadoras não cedem pitada da auto-estima. Algumas encontram amante que _ conversa gasta! _ aporta ilusão de apreço e a possibilidade dum amor. Rodados vezes muitas os ponteiros do relógio no continuado mau, exigem distância e preservam, de si, o melhor.
CAFÉ DA MANHÃ
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