Desta publicidade ao Transiberiano na Exposição Universal de 1900 em Paris, nasceu o texto.
Ela caminha de alto com desespero líquido do olhar. Não lhe vacila o passo lançado pelo corpo elegante. A fragrância fica quando o pé, delicadamente arqueado, aponta à frente o extremo do sapato. Exclusivo. Caro. Como traço que termina assinatura. E da atitude impressiva, quem a vê não lhe é fácil desprender o olhar. Há pessoas assim, sem que interesse raça ou posição social - o sapato vulgar nelas adquire condição de precioso artefacto, fabricado com esmero e dedicação. Mas o desespero persiste. A nostalgia é manto que esvoaça ao caminhar. Mulher fatal.
Olha, sem ver, para lá da janela. As cortinas encarnadas prendem ao lado. O vermelho imperial está nos pormenores do teto e no estofo das pesadas cadeiras de madeira maciça. As mesas para dois, ladeando as janelas, são cobertas pela alvura dos linhos e o brilho dos cristais. O corredor central é percorrido em paço que ondula e é firme pelos funcionários da carruagem-restaurante. Lanternas oscilam no ziguezaguear do comboio entre Moscovo e Pequim. Rússia, Mongólia e China são gigantes atravessados pelo Transiberiano. Dois dias na capital russa e durante cinco perdem-se olhares na longa estepe siberiana. Deixados para trás os Montes Urais, a cidade de Irkutsk e o lago Baikal, o comboio chega a Ulan Bator, capital da Mongólia. Espreguiça três dias e ganha força para enfrentar o Norte desértico até à fronteira da China. Pequim como sortilégio final.
Ela desce, tranquila como (…)
CAFÉ DA MANHÃ
Caulfield defendia a inexistência de uma realidade palpável com exceção do traseiro da vizinha mexicana, Lolly Rodriguez, que era, nas suas palavras, “palpável e beliscável”. Aos dezassete anos, Caulfield cometeu a proeza de num fim de semana criar as bases duma Filosofia Moral tentando desenvolver a ética da liberdade de cada um fazer o que bem entender na vida. Pensamento marcante: “Há um sólido equilíbrio em todos os elementos do Universo que une e dá sentido às coisas. Desde que o sujeito não tenha entornado sozinho uma garrafa de Bourbon.”
Holden Caulfield está para o século XX como Huckleberry Finn para o XIX: a inesquecível assombração dum adolescente em conflito com uma sociedade opressora e dividida em castas. Holden, oposto de Huck, é um menino rico infeliz na escola chique Pencey Prep em Agerstown, Pensilvânia. Personagem criado por J. D. Salinger e protagonista anti-herói da novela The Catcher in the Rye publicada em 16 de Julho de 1951, cáustico da sociedade de elite em que nasceu, foi adolescente que viu longe. Muito longe. Tão longe, que a realidade palpável mais próxima pertencia à vizinha. Pelo lido, o gosto dele assemelha a nossa condição latina dada a oito ou oitenta.
Originalmente publicado para adultos, o livro adquiriu popularidade entre os jovens ao lidar com temas tipicamente adolescentes como revolta, angústia, alienação e linguagem. Traduzido para quase todas as principais línguas do mundo, são vendidas anualmente cerca de duzentas e cinquenta mil cópias, com um total de vendas de mais de 65 milhões. Holden Caulfield tornou-se um ícone da rebelião adolescente. Na China, é venerado pelos jovens. The Catcher in the Rye foi incluído na lista da Times em 2005 como um dos 100 melhores romances da língua inglesa escritos desde 1923 e nomeado pelos leitores da ‘Modern Library’ como um dos 100 melhores livros da língua inglesa do século XX. Os Estados Unidos abandonaram a censura que no início o livro mereceu pelo uso liberal de calão e pelos retratos da sexualidade e dilemas adolescentes. Em 1981, já foi o segundo livro mais ensinado nos Estados Unidos, conquanto ainda banido de muitas bibliotecas escolares de língua inglesa pressionadas pelas Associações de Pais.
Voltando a Caulfield — não prescindimos do palpável e beliscável. Apalpa-se, logo existe. Ou se belisca. Ou vasa de uma mão. Infiro pelas estatísticas onde consta que as lusas fêmeas não bastam aos parceiros ou recusam apalpões ou eles têm mais olhos que barriga. Atendendo ao que elas, ‘à sorrelfa’, dizem, (…)
Nota – Publicado integralmente aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Maria Picassó
Se o mundo fosse uma sala de aula, a Espanha e a Itália seriam as meninas tagarelas «tasse bem», a França a aluna coquette, a China a marrona sem ajuda cujo sucesso só o sacrifício explica. O Japão dava para «cromo» sentado na primeira fila, a Inglaterra para o snobe de serviço. A Alemanha cumpriria o papel do disciplinado exemplar, mochila pejada de manuais, encostado á porta da sala de aula antes do toque da campainha. O Irão não engana: aluno metido consigo e de olhar arrevesado. Em todas as turmas há o gorducho pateta e rico, os EUA, claro!, os meninos pobrezinhos com direito a merenda à borla e a livros em segunda mão, da África, no caso. O grupo dos rufias dados a fanar o alheio e a fumaças proibidas seria da América Latina, os de Leste já foram os remediados com roupa de marca comprada na candonga.
Não há classe sem alunos mandriões de boné às avessas que gozam os atentos e recebem as más notas mascando chicletes num riso descarado, sem perderem o ar gingão. Não desligam o telemóvel, menos ainda nos testes - iam lá perder a cara zonza da professora que os apanha a receberem por ‘sms’ as respostas às perguntas? Não fazem trabalhos de casa, faltam às aulas para fintas e danças com a bola em que são exímios, curtem com as colegas que desviam para o shopping e partilham as «bejecas». Chegam atrasados às aulas de História e, por isso, repetem erros antigos. Medíocres em Matemática, nunca acertam as contas internas com as externas e das línguas estrangeiras aprendem o mínimo que desenrasque turista e engate miúdas. Uma vergonha de alunos! Porém, no papel de papagaios de boatos e anedotas que ridicularizem os outros não há pai para eles. Estes somos nós.
CAFÉ DA MANHÃ
A fragilidade que a imagem sugere não confere com a realidade. O hotel Embora Bivacco Gervasutti está a 9300 pés acima do nível do mar, mas foi projetado para resistir à acumulação de neve e a avalanches. A viagem de elevador para lá chegar demora quatro horas.
O hotel 727 Fuselage fica na Costa Rica. Os donos resgataram o aparelho enferrujado e deram-lhe uma nova vida.
O Sheraton Huzhou Hot Spring Resort é um resort recém-inaugurado na China, composto por três edifícios, dois dos quais curvam para formar um arco com 27 andares.
O Treehotel na Suécia é um projeto assente na sustentabilidade. Apesar de a vila mais próxima ter apenas 600 habitantes não existe monotonia porque o leque de atividades é vasto.
Tom e Rosey Chudleigh são os autores da ideia que deu origem ao Free Spirit Spheres, um hotel composto por 3 esferas que se integram no meio envolvente de forma natural criando a sensação de unidade.
Whitepod fica na Suíça a 1400 pés acima do nível do mar.
Palms Hotel, Las Vegas. Se é fã da Barbie, esta suíte é um sonho. Remete para o mundo da famosa boneca e aqui sentir-se-á a própria.
O quarto "Tankstelle" é uma viagem a uma bomba de gasolina. Fica em Estugarda no hotel V8.
CAFÉ DA MANHÃ
Swallow, autor que não foi possível identificar Kathryn Wronski
Na história das sociedades, consta que períodos de crise ou dramáticos têm o dom de contribuir para a evolução dos povos também pela criatividade, até aí preguiçosa, que os humanos espevitam. Estando meio mundo afundado economicamente, a imaginação revela-se ilimitada e atenta aos modos de sobrevivência financeira que melhore condições de vida. É a velha estória de fornecer o que outros precisam e remuneram, mas, agora e muito adiante, estimulada.
O discurso sabido e redondo acima vem a propósito do ciclo que vivemos, da estranheza que gostos e hábitos doutras gentes provocam, de como utilizá-los em bens exportados e riqueza. Dá-se o caso do palato chinês apreciar como iguaria ‘ninhos de andorinha’. Os indonésios de Kumai, pobres e argutos, não hesitaram: apesar da insalubridade, em prédios exclusivamente destinados à procriação das aves, os «andorinhões», concentraram meios para os ninhos proliferarem. A «ideiazinha» resultou e têm a China disposta a pagar satisfatórias rupias para nos cardápios não faltar a iguaria.
Outro exemplo vem dum português. “O produtor Orlando Barroso ensinou os porcos que cria a farejarem as trufas pelas florestas de Boticas, vendendo depois esta espécie de cogumelo subterrâneo a 500/600 euros/kg para restaurantes locais e estrangeiros. Orlando Barroso é construtor civil mas, há cerca de cinco anos, tirou um curso de tubérculos e cogumelos e decidiu ensinar os porcos que cria em sua casa na localidade de Carvalhelhos a farejarem trufas”. Com porcos, cães, moscas ou pelo cheiro é detetado o ouro da gastronomia.
CAFÉ DA MANHÃ
John Lewis – Beautiful Rabbit Hare Brer Rabbit by Richard T. Scott
Apenas transcrevo. A mágoa impede-me de redigir texto.
Num vídeo divulgado pela PETA (Organização de Defesa dos Direitos dos Animais), vêem-se várias explorações de coelhos angorá e animais presos a bancadas de madeira em salas repletas de jaulas, com os operários a arrancarem-lhes o pelo à mão enquanto os coelhos guincham em agonia. Sem pelo na maior parte do corpo e com a pele com feridas extensas, os animais são novamente atirados para as jaulas, tentando lamber as feridas. Quando o pelo cresce novamente, são sujeitos à mesma tortura. Os pelos arrancados dessa maneira rendem mais dinheiro aos comerciantes, porque são mais longos e de melhor qualidade.
“A PETA apela aos clientes que vão comprar prendas de Natal e de Ano Novo chinês. Leiam as etiquetas das camisolas ou cachecóis”, declarou o vice-presidente do ramo asiático da organização.
Um investigador infiltrado visitou dez explorações entre junho e setembro deste ano. Em metade delas, os pelos eram arrancados. Nas outras, os pelos são cortados ou rapados, processos que também fazem sofrer os animais. As explorações vistas no vídeo localizam-se nas províncias de Jiangsu e Shandong e nelas contam-se desde algumas centenas até cerca de dez mil coelhos. Segundo a PETA, 90% da lã angorá do mundo, conhecida pela sua textura sedosa e leve, vem da China.
Fonte: http://www.anda.jor.br/21/11/2013/peta-apela-tortura-coelhos-angora-china
Grandes distribuidoras britânicas como a Marks & Spencer e a Primark já declararam proibir compras de artigos com lã angorá proveniente da China.
CAFÉ DA MANHÃ
Isabelle Plante
Na China desenterrou-se uma Pompeia do mundo natural com 298 milhões de anos. As cinzas de uma erupção cobriram uma floresta de fetos arbóreos, que ficou preservada até agora. O retrato deste pântano tropical está descrito na revista Proceedings of the Natural Academy of Sciences e permite compreender melhor a evolução das florestas da Terra numa altura em que ainda não havia flores.
“É como [a cidade romana] Pompeia”, disse em comunicado Herrmann Pfefferkorn, um dos autores do estudo, que pertence à Universidade de Pensilvânia, referindo-se à cidade situada na Itália que ficou cristalizada pelas cinzas do Vesúvio durante a erupção de 79 d.C. “Pompeia dá-nos um conhecimento profundo sobre a cultura romana, mas não nos diz nada sobre a história da [civilização] romana em si mesmo.”
Por outro lado, permite a comparação. Pompeia “elucida-nos o tempo que veio antes e que veio depois. Esta descoberta é semelhante. É uma cápsula do tempo, e desse ponto de vista permite-nos interpretar muito melhor o que aconteceu antes e depois”, disse o cientista.
E que tempo é este? Na cronologia da história geológica, há 298 milhões deanos, a Terra encontrava-se no início do período Pérmico, antes da era dos dinossauros. Nesta altura os mamíferos e as plantas com flor ainda não existiam e os répteis e as coníferas – o grupo de plantas a que os pinheiros pertencem – eram uma aquisição recente da evolução.
O mundo terrestre era dominado por anfíbios e por fetos com porte de árvore. E as placas tectónicas estavam a acabar de se juntar para formar a Pangeia. O local arqueológico que os cientistas da Academia de Ciência chinesa estudaram, na região da antiga Mongólia, no Norte da China, era na altura uma super ilha separada do continente, que se situava a latitudes tropicais, no Hemisfério Norte.
Os cientistas fizeram um verdadeiro trabalho de ecologia paleontológica com estratos soterrados que desenterraram, analisando 1000 metros quadrados de área florestal em três sítios diferentes. Se não tivesse havido erupção, ao longo de milhões de anos aquela paisagem ter-se-ia transformado em carvão no interior da Terra, como aconteceu em muitos locais semelhantes a norte a sul da formação.
Mas a cinza fez fossilizar a floresta, que ficou comprimida em 66 centímetros de solo e fez com que a equipa pudesse recriar um retrato detalhado da floresta. “Está maravilhosamente preservada”, disse Pfefferkorn. “Podemos estar ali a olhar e encontrar um ramo com folhas, e depois encontramos o outro ramo e o outro ramo. Depois encontramos um cepo da mesma árvore. É realmente emocionante.”
Os cientistas encontraram seis grupos de plantas diferentes com várias espécies em cada grupo. Há um estrato mais basal com fetos arbóreos, de onde de quando em vez saem árvores mais finas e altas que parecidas a um espanador de penas, com 25 metros de altura. Encontraram também um grupo de plantas extinto que libertava esporos e árvores que parecem ser antepassados das cicadófitas, plantas sem flores que fazem lembrar palmeiras.
Outra história que faz lembrar o Jurassic Park, sem âmbar nem dinossauros mas com a ajuda de esquilos pré-históricos: os cientistas russos conseguiram fazer crescer uma flor a partir de material vegetal congelado há 30 mil anos que foi guardado em buracos pelos pequenos mamíferos da época. A flor foi motivo de espanto e curiosidade no Museu de Ciência Natural ali na Rua da Escola Politécnica,
Fontes:
- http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/descoberta-floresta-fossilizada-com-298-milhoes-de-anos-1534872
- http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/cientistas-russos-ressuscitaram-flor-com-30-mil-anos-153471
CAFÉ DA MANHÃ
Jan Bollaert
As lojas chinesas inspiram opiniões contraditórias. Recusa entrar num desses ‘antros’ quem respeita o comércio tradicional, os produtos vendidos por nacionais, alguns com etiqueta disfarçando terem sido produzidos na China, quem abomina cumplicidade na exploração da mão-de-obra infantil que julga (será?) predominante no fabrico do à venda no pequeno comércio chinês em Portugal. Outros são fãs pelo menor custo do pretendido, pela consciência de também as marcas de alta-costura utilizarem tecidos ou mandarem confeccionar o prêt-à-porter no Oriente onde as rechonchudas mãos dos petizes depressa adquirem calos e a condição de escravas sob o jugo de patrões déspotas. Aliás, semelhante acontece com adultos, conquanto reputado de mais cruel o sistema legal que não protege as crianças. Noutra vertente, é logro pensar o made in Portugal como bom e péssimo o arrumado nas prateleiras onde o carimbo made in China impera. Quod est demonstratum, o ‘não entro’ em lojas chinesas é inconsistente e primário. _ "Metem nojo", acrescentam. Gostaria de ainda respirar quando a China tomar conta do mundo!
Não sendo mulher de nojos por dá cá palha aquela, recuso-me a discriminar negativamente onde posso adquirir por menos o necessário, salvo se «escaldada» com um produto ou outro, ou suspeitando origem larápia. Estes deixo-os em seu sítio e retiro aqueles de provas dadas em qualidade e serventia. Vem o arrazoado à colação por urgência de ferramentas esquecidas de comprar na loja ‘tem-tudo’. Estando fechada das 12.30h às 14.30h - a pressa requeria solução -, foi descida estrada e, quase fora de portas da cidade, aberto um «hiperchinês». Já em função o comprado, resistiu com honra a dias de uso. Nas duas horas de ‘fechado para almoço’ da portuguesa ‘tem-tudo’, quanto foi adiantado na remodelação duma casa de banho… E se o tempo é dinheiro, mais foi poupado além do incomparável menor custo.
CAFÉ DA MANHÃ
Mati Klarwein
A Bélgica prova o improvável: desde há um ano, vive de modo relativamente tranquilo sem primeiro-ministro ao comando. Dedução imediatista: as redes políticas tradicionais são dispensáveis para os cidadãos ainda que repartidos por regiões e línguas – flamengo, francês e o minoritário alemão. As estruturas hierárquicas funcionam por si próprias, uma vez que Sua Majestade, o rei, apenas acumula postura decorativa com funções extremamente limitadas de Chefe de Estado. Não pinta, nem manda no essencial.
Todavia, a realidade vai além. Na ausência de entendimento entre os partidos mais votados para formação de governo, por tal omissas reformas internas, a dívida belga cresce sem parança – o terceiro país mais endividado da Europa, ocupando a Grécia lugar cimeiro. Maçada que aos belgas aflige sem que o quotidiano reflicta angústia existencial.
Lembrando ter a Bélgica participado de modo determinante na fundação da Europa Unida e nela hospedar sede da Comunidade, adivinho sinal que preside ao futuro dos vinte e sete e à organização política do mundo. Sem bola de cristal é tentador deduzir que estando o Reino Unido nas lonas, a Alemanha em desnorte eleitoral, a Itália entalada em dívidas vultuosas, a França como é sabido, ou o Durão se revela duro de roer e engendra arca de Noé que a Europa salve do naufrágio, ou, caso contrário, o mundo económico-financeiro como o conhecemos desaparece num ápice. Alguns dos centros poderosos deslocar-se-ão para outros países/leme: China, Japão, quiçá a Austrália no hemisfério Sul. O Brasil, a continuar o deslumbre pelo acesso fácil ao dinheiro de plástico, não tarda, regredirá - os europeus fizeram o mesmo e deu no que deu.
Ciclo da humanidade a cujo dealbar assistimos. Talvez fim das democracias ocidentais, talvez princípio duma nova ordem mundial.
CAFÉ DA MANHÃ
Belgas, pois então!
Janet Johnson
Na história das sociedades, consta que períodos de crise ou dramáticos têm o dom de contribuir para a evolução dos povos também pela criatividade, até aí preguiçosa, que os humanos espevitam. Estando meio mundo afundado economicamente, a imaginação revela-se ilimitada e atenta aos modos de sobrevivência financeira que melhore condições de vida. É a velha estória de fornecer o que outros precisam e remuneram, mas, agora e muito adiante, estimulada.
O discurso sabido e redondo acima vem a propósito do ciclo que vivemos, da estranheza que gostos e hábitos doutras gentes provocam, de como utilizá-los em bens exportados e riqueza. Dá-se o caso do palato chinês apreciar como iguaria ‘ninhos de andorinha’. Os indonésios de Kumai, pobres e argutos, não hesitaram: apesar da insalubridade, em prédios exclusivamente destinados à procriação das aves, os «andorinhões», concentraram meios para os ninhos proliferarem. A «ideiazinha» resultou e têm a China disposta a pagar satisfatórias rupias para nos cardápios não faltar a iguaria.
Outro exemplo vem duma deputada europeia. Propõe que pescadores desempregados sejam subsidiados pela Europa, dela o dia comemorado hoje, para no Mediterrâneo e mares/fronteiras lançarem «redes» aos plásticos que o enxameiam e destroem a fauna. A degradação daqueles materiais, na vasta maioria longa no tempo, obriga a medidas rápidas que previnam a respectiva disseminação e transformem a Terra num entulho gigante que submirja os vivos.
CAFÉ DA MANHÃ
Da árvore vestida de carmim, ignoro o nome. Mas abunda na cidade, enfeita ruas anónimas, suaviza designs sóbrios dos serviços com verdes plantados na frente ou escondidos detrás – descerradas gelosias normalmente protegidas por telas espessas que cegam o exterior não se desconcentrem os servidores, emprestam colorido à cinza do ‘lufa-lufa’ diário.
A armadura de alumínio e aço revestido desenha, por baixo, o céu, por cima, o solo coberto de cubos maljeitosos e calcários a que é comum o nome de calçada. Falta basalto embutido para ser portuguesa com esplendor. Assim, é minimalismo projectado em ateliê de arquitectura paisagista. Mas gosto pelo bom gosto de filtrar o sol sem o encobrir – pecado isento de perdão seria apertar o entrançado de modo a eliminar calores próprios de épocas comandadas pelas rotações da esfera/pêra em torno do Sol.
Espaçadamente entreaberta para as colinas à beira denuncia redondos perfeitos de alfazema que impõem suspeita de manipulação laboratorial em detrimento das naturalmente espigadas e selvagens nos campos e quintais. Do Tejo p’ra cima, o lilás perfumado ainda é ausência. P’ras bandas do Sul já empina flores. O candeeiro, outros desenhados e plantados no lugar em tudo distintos, é simples, vulgar sem que infrinja de modo atroz a sedução ali sítio, jamais sitiada.
Magnólias. A folhagem é prova. Adolescência no porte, promessa impressiva em advires. Por ora, as pétalas suculentas não existem. Serão brancas, rosa ou aproximadas do grená? Ó minha árvore preferida a par dos jasmins, no momento palavra censurada na China não se arregimentem contestatários à ditadura, quando respondes à cor?
A primeira papoila do ano, as miúdas cor-de-fogo, os selvagens malmequeres na roda cerca dos troncos velhos de oliveiras novas. E o tempo passa e não saio dali. Sento-me à beira delas até o corpo sentir a água da rega. Vindos jardineiros rapar excedentes insubmissos ao desenho rígido do parque, desaparecem. Enquanto são, aproveito.
A brancura das pedras/fronteiras não impede o aproximar da água que corre para lugar algum que parece nenhum. Aves aquáticas compõem bordas.
Os limos, afinal e como era suspeita, são lábios últimos a desvendar. O pisar das pedras (cascalho gordo?), das madeiras permitem sentir nos pés diversidade de texturas. Felizes, detêm-se. Fotografam. As tábuas registam o momento pela sombra da mulher.
CAFÉ DA MANHÃ
Gayle B.Tate
Nos três próximos anos, o desequilíbrio das contas públicas em Espanha obriga a redução de 50 mil milhões de euros na despesa pública. Em 2009, um milhão de empregos foram perdidos – pico inusitado na última década. Números redondos: 20% de desempregados. Os portugueses que por lá trabalham foram dos mais afectados pela horda de despedimentos. Que, enganadoramente, não seja julgado conforto o mal alheio. Quando 25% das nossas exportações têm endereço espanhol, tossir lá é pneumonia aqui.
Murteira Nabo colocou bem pintas nos «is». Que seja aumentado o investimento em obras públicas capazes de aumentar riqueza e fornecer retorno a curto/médio prazo. Exemplificou: hospitais, renovação de escolas secundárias, outras construídas de raiz englobadas em qualquer nível de ensino - universitário incluído e acoplado a investigação de ponta.
É certo termos povo cada vez mais escolarizado e menos «formado». A multiplicidade de licenciaturas é absurda – as mais das vezes para nada servem e ludibriam os inscritos. Universidades ofertam útil e logros – do maior número de candidatos à frequência decorrem subsídios aos orçamentos. Que seja imposto filtro. Racionalizados os gastos se o destino é ausência de procura dos diplomados.
Roubini, o profeta/guru norte-americano em economia, afirmou:
_"Se a Grécia cair, é um problema para a zona euro, mas se a Espanha cai, é um desastre".
Englobou os países mediterrânicos:
_ “Portugal, Espanha, Itália e Grécia enfrentam não só um endividamento público crescente, mas também um problema de competitividade. Mesmo que estes Estados resolvam a dívida, o problema da competitividade persiste.”
A zona euro treme. Periga. Jean-Claude Trichet defende-a:
_ “A Grécia não é a Finlândia e a Espanha não é a Alemanha. O défice público conjunto dos vários Estados é inferior ao norte-americano.”
Obama e Comunidade Europeia carecidos de lança em riste. Ou a empunham, ou o mundo económico vai a pique. Excepção: a China.
CAFÉ DA MANHÃ
A “menina Grammy”
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros