Claude Théberge
“Há Dias assim, as nuvens da manhã lançam lágrimas aos olhos, e mais tarde aqueces o corpo na varanda. As melodias soam longe, como se de outro mundo fossem, e são, maravilhosamente abertas de um azul profundo como o mar mais solto.
Há dias que o teu amor é só memória, é só tempo, sem ser agora, mas dias em que tudo se esconde sobre a sombra da luz da tarde, o ar que cheira a maçãs verdes, a água parada e o tojo queimado.
Há dias assim, mas não são todos, entre os troncos lisos dos choupos, o mar lá atrás sorrindo em ondas brancas de barba, as revoluções esquecidas, desinteressadamente.
Há dias que não existem porque são cópias de outros passados, os mesmos gestos, o mesmo tocar, o amor repetido como se fosse cassete de música — põe lá outra vez.
Há dias assim que só existem uma vez e nunca mais. Dias de um calor sufocante sobre a cidade silenciosa e coberta de uma luz vertical, dourada, branca, o mediterrâneo perdido na poeira levantada.
Há dias que antecipam outros dias, e dias que substituem outros dias, mais velhos, experientes do olhar do tempo, solitários e superiores por terem já sido.
Há dias que “se me contares toda a tua dor eu nunca mais irei sorrir”.* (…)”
Nota – Texto de Bernardo Vaz Pinto aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Claude Théberge – City Just Autor que não foi possível identificar - Desserts Peter Ferguson
1ª – Chego-me ao balcão da pastelaria. Um homem, companheira ao lado, fazia encomenda de bolo de aniversário. No momento da escolha dos dizeres precisos, não hesita: _ “Quero-te sempre nua”. Olhos baixos na parceira silenciosa. Foi atendido e saiu. Ela atrás. No entretanto, mudas as gentes que no balcão esperavam vez.
Após o acontecido, o inevitável sururu. As funcionárias comentavam à socapa o insólito pedido. Os clientes riam e soltaram a língua. Uns ficaram pelo gargalhar discreto, outros dividiam opiniões: que sim, que fora de homem valente, que não, que embaraçara inutilmente a futura aniversariante, que a privacidade não se expõe com tamanho descaro. E eu nem que sim nem que não. Cogitava para os botões que não tinha: alguns homens desta sociedade arco-íris progrediram na espontaneidade de transmissão do que lhes vai na alma, ou, em alternativa, exponenciam o tradicional espírito marialva. Qual das duas razões?
2ª – Os colégios particulares continuam a liderar os rankings dos estabelecimentos de ensino com mais sucesso traduzido em todos os níveis dos exames nacionais. Nem admira: os pais são motivados a elevada participação na vida escolar dos respetivos infantes, os recursos familiares permitem complementar aprendizagens, o ensino vai além dos currículos ao abrangerem áreas como a responsabilidade, a disciplina, a saudável competição do aluno com ele mesmo. Nestas vertentes, as atividades extracurriculares em diminuta ou inexistente oferta nos estabelecimentos públicos pelo afogo económico completam a formação das áreas pedagógicas tradicionais. Por outro lado, os altos valores das mensalidades pagos nos colégios privados são a fonte dos meios que legitimam maior qualidade no ensino global. Os pais, normalmente com elevado estatuto social, procuram justificar o investimento na educação dos filhos ou por valores próprios ou pela informação majorada.
CAFÉ DA MANHÃ
Claude Théberge
Uma das pérolas nas cidades beirãs. Arquitetura digna, nos detalhes, granito como cumpre, museus e igrejas de espanto, comércio vivo, zonas pedonais a servirem-no, gastronomia de excelência – não referir a catedral de seu nome “Cortiço” seria pecado sem remissão. Nas ruas estreitas, afadigam-se gentes laboriosas – injustiça é seguir o preconceito de apenas na região que cerca o Porto, nele também, existe empenho no trabalho a envergonhar o resto de Portugal. Viseu desmente com pundonor.
Da «mouraria» para cima onde o Tejo, já em correria para o mar, é fronteira, excetuando algumas urbes industriais cujo trabalho escravo fez história de revolta, predominam almas conservadoras até ao tutano. Apegadas à fé. Às tradições. Ao bem ser e melhor parecer. À vigilância social.
Dados os pressupostos, configurar franchising do “Bairro Vermelho” de Amsterdão localizado em ruela de Viseu é anacronismo que jamais os habitantes configurariam em pesadelos do piorio. Mas a necessidade é muita, o negócio do sexo deve estar em baixa como todos devido à penúria que por aqui vai e surge espécie menor de Red Light District. Diferenças substantivas neste comércio viseense se comparado com o original: janelas em vez de montras bordejando a rua, vendedoras limitadas, por isto, a exibir seios desnudos ou emoldurados em lingerie chamativa. Salvo arriscarem escadote, da cintura para baixo, nada é vislumbrado pelos passantes e pelos candidatos à subida das escadas. Adivinhação pura do encoberto, o que tanto faz aos precisados ou viciados ou curiosos. Para todos estes é bênção substituir revistas e canais óticos atrevidos por espetáculo privado com cheiro, cores e palpações e o mais que aqui não cabe mencionar.
Indignam-se mulheres - «esposas» ou não – pela concorrência desleal e pela insegurança de circular na rua dos mil olhos e ilusões. Com os maridos, igual, porque atentados ao pudor na forma de convites a esmo às respetivas é ofensa e perigo. Será que a edilidade avança com proibição ou ativa o fisco para do pseudo franchising retirar valias?
É sensato aceitar não ser Portugal um país, mas, pelos poderes instituídos, sítio mal frequentado.
CAFÉ DA MANHÃ
Shirley Bassey e David Bowie comemoram hoje aniversários.
Claude Théberge e autor que não foi possível identificar
São falados os espinafres e leite japoneses contaminados pela radioactividade emanada da central Fukushima Dai-ichi. Em período de alertas, outros surgem via e-mail. Dentre eles, seleccionei o do 'peixe-gato'. Verdade? Mentira? A verdade da mentira?
'Peixe gato' ou panga: dizem-no prova danosa da globalização. A preço acessível, consumido predominantemente sob a forma de filetes, resulta de cultura intensiva no Vietname, mais precisamente no delta do rio Mekong. Ora, acontece que os pangas dali estão infestados com elevados níveis de venenos industriais e bactérias por ser o rio um dos mais poluídos do planeta.
Pouco há de natural nestes pangas: são alimentados com peixes mortos, restos de ossos das secas, tudo sob a forma de farinha; o oposto da alimentação num ambiente natural. Semelhante ao método alimentar 'vacas loucas´, a dieta dos pangas está desregulada - crescem quatro vezes mais rapidamente do que na natureza. Injectadas com hormonas femininas derivadas de desidratado de urina de mulheres grávidas, as fêmeas pangas produzem ovos em grande quantidade (uma panga, de uma só vez, gera aproximadamente 500.000). De modo linear, são peixes acelerados no crescimento e reprodução através de químicos produzidos por uma empresa farmacêutica na China. Ao comprar pangas, comércio agora aceite pelas nossas grandes superfícies, aumentamos lucros de empresas gigantes, sem escrúpulos e gananciosas. Nestas, é inexistente preocupação com a saúde e o bem-estar dos humanos.
"Devido à prodigiosa quantidade de pangas, irão acabar noutros alimentos: surimi, peixe terrines e, provavelmente, nalguns alimentos para animais." Será? Pelo não, pelo sim, fica escrito.
Nota: adaptação livre.
CAFÉ DA MANHÃ
Rob Efferan, Claude Théberge
Desanda. Despede-te da noite para o dia. Desaparece e volta daqui a um mês bem contado. Engole as lágrimas miúdas que nem lavam os espíritos, nem os largam. Leva nostalgias minhas sem quê ou porquê, apenas por existires e penetrares insidiosamente onde não és desejado, por deixares cobertos de cinzas os espaços aferrolhados. Invades-me pelas nesgas, fique aberta a organza/cortina. Instalas-te no meu sofá, empardeces cores, sujas a alma assentada e o corpo dela. Se já foste magia em caminhos da cidade, sebastiânico surgir, agora digo: _ Não te quero mais! Leva o que trouxeste, esvai-te ou rasteja para longe daqui até esquecer as semanas desavindas que contigo vivi. Opressivas, escorregadias, viscosas. Engasgas os meus silêncios faladores, obstruis as minhas paixões, esmoreces o luzir dos meus olhos, da boca o sorriso, do sorriso o riso. Quero chuva, quero neve, quero sol. Tu que esborratas onde tomas assento, a ti nevoeiro insistente expulso-te da minha vida. Tenta volver hoje ou amanhã. Ignorar-te-ei. Na tua mancha/gaiola haverá as cores todas da paleta.
CAFÉ DA MANHÃ
Há os que pagam para casar, outros para «descasar». Ruptura carimbada do elo conjugal envolve dinheirão. Parceiros inocentes arriscam litígios a troco de lentilhas, descontadas custas judiciais e pré dos advogados. Se astutos, moldura semelhante caso a contenda persista tendo em fundo parcos ganhos (i)morais. Os inteligentes optam entre uma de duas:
- disputa longa pela rentabilidade e justiça no horizonte;
- estabelecem acordo e poupam tempo, despesas e atrito diferente de força mensurável que mais permite além de avanço seguro na estrada e nos passeios/contornos da arquitectura urbana.
Os pouco espertos litigiam porque sim. Acumulando casmurrice, estão desgraçados os futuros ex-cônjuges e descendentes: garantido sofrimento e potenciados desequilíbrios «pluripessoais».
A polícia portuguesa e a espanhola detiveram vinte e dois cúmplices duma rede especializada em «fasts-casórios». Objectivo: evitar que imigrantes acedam ao laço burocrático como pretexto para legalizarem a permanência no país destino. Parece-me mal. Se indivíduos pretendem casar a troco de dinheiro, que o façam. Descontada a exploração ou o logro, antes uniões arranjadas por «entidade» independente, quiçá fontes de improváveis felicidades, do que viver sob o jugo do medo ou penúria. Que fazem as legalizadas empresas casamenteiras - Sarah Jessica Parker é cliente duma - se não o mesmo com o benevolente olhar do fisco? Diferença: ganhos directos para o Estado, ou à sorrelfa do mesmo.
Relato da Grace, profissional competente:
_ "Casei pelo dinheiro. Foi arranjo. Guarda-chuva. Precisava dele para educar a minha filha e sobrevivermos dignamente. A Rô tinha cinco anos. O pai, português e grande amor, desandou há dois anos. Nunca mais quis saber dela. Quando o combinado marido veio, tremi. Conversámos. Independentes durante meses: saía cedo, não tinha a chave de casa e entrava quando eu. Nunca sozinho com a miúda. Sobreveio paixão. Estou, estamos felizes. A Rô connosco. Adoptou-o. «Minina» sabe, «né»?"
_ Mais do que nós, minha querida!
Permilagem diminuta em casos semelhantes. Mas são.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros