Segunda-feira, 2 de Março de 2015

DE ISLINGTON AO BULE DE OUTRORA

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 Mark Spain

 

 

Ao falar de uma cidade que julgo bem conhecer, anteponho pronome possessivo. A relação de posse - a «minha» Coimbra, Roma, Évora ou Nova Iorque - tão somente significa que amei do todo uma parte. O que nos lugares de afeto me prende é o meu modo de os ver: pessoal, subjetivo, por isso intransmissível. De igual modo, ao descrevê-los, perpassa o que deles sinto e pouco do que são.

 

 

 

A «minha» Londres começa para as bandas de Islington ao descer meia dúzia de degraus e apanhar o autocarro. De King’s Cross em diante, prefiro caminhada até Covent Garden que, se as horas bem tiver contado, encontro semifechado pelas nove e pouco da manhã. Por ali pauso na espera da azáfama renascida, olhando a chegada das caixeiras, as portas uma a uma abertas para infinitas saídas e entradas, os expositores que os ambulantes desembrulham e recheiam de quinquilharia ordenada. Um expresso depois, rumo a direito até à sala da National que o apetite escolha - o enleio na loja da galeria adio. O meio do dia encontra-me no cimo de Hyde Park ou descendo a Kensington para farta paragem em Knightsbridge. Petisco no Harrod’s, afastada a turba do almoço, e deixo Chelsea para a tarde. Aos domingos, preciso da paz de Notting Hill para o pequeno-almoço, de percorrer os cais-sul do Tamisa, deambular na Tate Modern que remato com as lambidelas do vento na travessia da Millenium Bridge.

 

 

 

Do «meu» Porto mais lembro o sol do que a chuva ou a morrinhada. Gosto, na Foz, do pequeno hotel de charme próximo da rotina da Agustina Bessa Luís e do bulício das lojas e das esplanadas soalheiras abrigadas por corta-ventos. E do Bule para almoçar. Nos dias de utilidade reconhecida pelo trabalho das gentes, está deserto. As madeiras sólidas, os angulados recantos para espera entretida com diálogo ou um copo, a sala sóbria, o avançado que estende além do jardim o olhar de quem come, os idos da água correndo pela parede de vidro são detalhes que degusto enquanto o palato agradece. A generosidade do pato lascado à mistura com o arroz que o refogado bronzeou, mais o serviço amavelmente eficaz e o gosto fiel da refeição nortenha, seduz-me. Na despedida bem-disposta pelo equilíbrio perfeito entre a qualidade e o emagrecimento da carteira, é renovado convite o sorriso iluminado pelo azul da chefe de sala - um metro e oitenta delgado encimado por cabelo louro e rosto lindo, mais provável numa passerelle do que em lugar de comer lembrando os hotéis turismo.

 

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 08:00
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Domingo, 18 de Janeiro de 2015

OS LOCAIS MAIS FOTOGRAFADOS EM PORTUGAL

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10º: Santuário de Fátima. É um dos mais importantes santuários marianos do Mundo.

9º: Museu de Arte Nova, também conhecido como «Casa do Major Pessoa», em Aveiro. É um exemplo de arquitetura civil em estilo Arte Nova, e encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1997.

 

 

Portugal é uma das zonas do globo mais fotografadas do mundo, segundo o site sightsmap.com. Os dados estão em permanente atualização no sightsmap.com, que usa as tags de geolocalização inseridas pelos utilizadores no site de partilha de fotografia da Google, o Panoramio. O resultado é um mapa interativo que não só mostra as zonas mais fotografadas do globo, mas também permite descobrir qual o local ou atração turística mais fotografada em determinada região ou cidade. Veja quais os pontos de interesse mais fotografados em Portugal, em contagem decrescente.

 

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8º: Cabo de São Vicente, no extremo sudoeste de Portugal continental, na freguesia de Sagres.

7º: Praça Oito de Maio, em Coimbra.

 

 

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6º: Óbidos ocupa o 6º lugar, não com um local ou monumento, mas com o Festival Internacional de Chocolate de Óbidos.

5º: Miradouros da Nazaré. As vistas captadas a partir dos miradouros da Nazaré ocupam o 5º lugar.

 

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4º: Farol-Museu de Santa Marta, em Cascais.

3º: Cabo da Roca, em Sintra. É o ponto mais ocidental de Portugal continental, assim como da Europa continental.

 

 

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2º: Zona Ribeirinha do Porto.

1º: Elevador de Santa Justa, em Lisboa. Foi inaugurado a 10 de julho de 1902 e é o único elevador vertical em Lisboa que presta um serviço público.

 

 

 

Nota – Esta é a fonte da publicação.

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

(O vídeo permite legendas em inglês)

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 08:00
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Terça-feira, 11 de Fevereiro de 2014

DA MINISSAIA AO DERBY MOURO NO ESTÁDIO DA LUZ

 

 

  

Greg Horn                                                                     Autor que não foi possível identificar

 

Rosnava o “Antigo Regime”. Em Coimbra, passei da primária para o rígido Liceu Feminino Infanta D. Maria. O ‘Infanta’ ou ‘D. Maria’ como era chamado tinha instalações de privilégio. Porém, e não me lembro do porquê, altura houve em que aulas decorriam em anexos/caixotes cobertos com chapa de alumínio e separadas as salas por tabiques que pretendiam ser isolantes térmicos e acústicos. Todavia, não eram nem uma coisa nem outra: os painéis, deteriorados, expunham curiosa matéria que se dividia em mil pedaços semelhantes a finas lâminas translúcidas. Soando a campainha para intervalo, as alunas entretinham-se a puxar mais e mais do revestimento. Brincadeira diária e repetida de cinquenta em cinquenta minutos. Fomos proibidas de o fazer pela instrução de perigo terrível. Mas continuámos. Antes isso que ser alvo das torturas da Maria dos Craveiros que, além de jardineira voluntária, era vigilante tenebrosa dos comportamentos. Lembro-a zelando pelo vestuário das alunas – minissaias e calças proibidas, o mesmo com pernas nuas chegado o calor de ananases por volta de maio e junho. No Inverno, arribando o frio da Estrela, batas por cima das saias, saias por cima das calças. Meias obrigatórias ainda que calorões apertassem. Três hipóteses neste particular: soquetes, meias pelo joelho ou de vidro. Tendo dúvidas, a Maria dos Craveiros beliscava as pernas. Outras funções cumpria a mando da reitora: zelar para que nos corredores escolhêssemos direita ou esquerda conforme o destino e que nem uma aluna se aproximasse do muro que nos separava do corta-mato por onde desciam, terminadas aulas, os rapazes do liceu masculino. Estes obrigados a permanecerem a mais de cem metros dos limites da escola. E permaneciam. E nós sabíamos. E, quando libertas, os amores aconteciam. Certo é ter chegado à faculdade com meias pelo joelho, sapatos de verniz rasos e abotinados, saia ‘kilt’ a lembrar cinto largo, maxicasaco preto com fenda atrás até à cintura.

 

Desta arenga, sobra o que me traz aqui – lã de vidro. É material que começou a ser utilizado na década de 1930 sob a forma de filtros para a indústria. Posteriormente, serviu para isolamentos contra ruídos e temperatura. A fibra de vidro, nome comercial,  descreve produto manufaturado a partir do vidro e convertida numa teia fibrosa. Mais tarde, seria conhecido que as pequenas lâminas constituintes nada mais são que pequenos alfinetes que o tecido pulmonar atrai. Quando inaladas, ao redor de cada espetadela, micro infeção. Muitas implicam doença oncológica dos pulmões. Se em contato com a pele os riscos existem à mesma. A condição primeira do uso da lã de vidro é não ficar em ambientes aeróbios, ou seja, onde possa haver circulação de ar. Por isto, é utilizada em divisórias, revestimentos e tetos, devidamente calafetados. Curioso é recordar terem sido desmantelados pela periculosidade os contentores em que tive aulas e continuar em uso a lã de vidro. O Estádio da Luz como exemplo até ao expoente da 'Stephanie'.

 

Desde ontem, que ninguém se entende quanto à natureza do material caído em farripas no relvado. Começaram por lhe chamar lã de rocha. Acabaram (...)

 

Nota: texto completo aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:17
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Domingo, 27 de Outubro de 2013

COIMBRA, 12 DE OUTUBRO - INÍCIO DA ROMARIA DA SAUDADE

 

 

 

 

 

Deambular por becos esquecidos, redescobri-los nas suas peculiaridades modestas, no comércio ora humilde, ora elegante, nos pináculos das igrejas furando o céu.

 

 

No 35 da Ferreira Borges, o Café Restaurante Nicola. Para mim, lugar de paragem obrigatória por acolher os meus pais, mais tarde só a mãe, mais o seu grupo de amigos. Reunidas mesas, assentos colados, marcadas as onze horas, era a conversa, a partilha dos quotidianos particulares, o refletir sobre a realidade portuguesa. O Sr. Raul, tive o gosto de o rever na hora matutina a que arribei, deu novas do grupo há muitos anos servido por ele. Rematámos as memórias com o envio de um beijinho para a minha mãe. Dele não foi formalidade social, mas ternura genuína. Despedimo-nos até um dia futuro.

 

 

 

 

 

 

Nas ruas do sábado pejado de sol, na Visconde da Luz, na antiga Praça Velha e agora Praça do Comércio, animação cultural, mostra de frutos e tradições outonais, coleção de espantalhos a encherem o olho de quem passava ou se detinha. A Baixa Coimbrã mais viva e sedutora.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:49
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Segunda-feira, 21 de Outubro de 2013

DAQUI PARA LÁ, DE LÁ PARA ALI, DE ALI PARA CÁ

 

 

“As cidades”, Vieira da Silva                                                             “Coimbra”, Júlio Rodrigues

 

Na romagem da saudade com partida de Lisboa incluída na tela de Vieira da Silva, na chegada a Coimbra, esvaziada a casa da minha infância e de pedaços da vida além até segunda, dia 14. Coração pequeno. Lágrimas contidas. Pensamento comezinho que nem conforta nem sai de dentro: _ corrid0s anos, é sempre assim.

 

 

“Vista de Gouveia”, Abel Manta                                                           Ana Macedo

 

Outra casa, meninice, adolescência, juventude em férias, generosamente recebeu o espólio. Mais cheia agora - objetos da primeira casa lembram e compõem história individual e familiar. No total, oito dias de infinito amor, saudade e alegria. A felicidade usa cantar em tons vários. Um, a um, desfolhei-os.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:28
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Quinta-feira, 12 de Setembro de 2013

LEITURA À VOLTA DO CALHABÉ

 

 

De baixo para cima, pétalas coloram o perto das humildes e envergonhadas que pela noite se fecham em recato para abrirem com a madrugada, sempre abraçadas aos canaviais que bordejam linha férrea em desuso, às simples, porém envasadas e mimosas, em cantos protegidos de ventos que somente encantam quem as vê com olhar surpreso por novo amanhecer e, ainda de baixo para cima, os cotos sobrepostos da palmeira desembocam em ramalhete fendido, os cachos de glicínias encimam portão que oculta palacete.

 

 

Nas casas senhoriais, memórias garbosas de capelines protegendo alvuras de peles femininas, charretes, mais tarde nos anos, automóveis em entra e sai na hora de ‘receber’, meninas de luxo no luxo de sedas e damascos que pelas janelas meditam no mundo visto por cima dos muros, tão próximo e distante dos sonhos juvenis, idosos acomodados em cadeirões fofos, desinteressados do mundo além do descrito nos livros relidos e dos afectos presentes chegado o tempo de perspetivar o final, empregadas com farda e crista afadigadas em acender lareiras, servir os ‘senhores’ e, depois, rirem na cozinha das manias deles, víveres entregues pela porta da criadagem, namoricos soltos proibidos às donzelas/patroas e também servas dos seus pais/patrões. 

 

Formosas moradias em banda, se hoje o não são é adivinhado que foram, ladeiam a Avenida do Brasil cruzada por ruas em declive obrigando a arfar quem as sobe, olhar atentamente o empedrado quem as desce, ladeiras, dizem-nas, pela inclinação e batismo, becos sem levarem a lado nenhum salvo aos moradores, toponímias curiosas, balcão de carnes frescas anunciadas como sendo de categoria. 

 

Zona ‘nova’, que o não é porque já o foi, apresenta arquiteturas de más à excelência, a recente Almedina, encastoada sob vidros (...)

 

Nota: texto na íntegra acabado de publicar aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

A magia do antigo, a surpresa do novo.

 

publicado por Maria Brojo às 08:37
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Quinta-feira, 15 de Agosto de 2013

COMUNIDADE DE AVEIRO, 23 DE AGOSTO DE 2002 (II)

 

1ª tentativa de aguarela em grande formato e carvão do final da minha infância inspirados nos testemunhos da tia da pobreza no mundo

 

“Querida Rosinha e Manuel,

 

(…) Recordo a missa nas Aldeias, linda na sua simplicidade.

 

Tenho a certeza, a certeza da Fé, de que os nossos queridos pais estão felizes e são eles, com certeza, que pedem por nós.

 

Fiquei muito feliz com o gesto discreto do Manuel, quando foi ter contigo ao café. É assim, o amor alimenta-se de pequenos gestos de ternura que vão ao encontro da sensibilidade de cada um. E nesta etapa de vida, vós e eu, não precisamos de grandes coisas, mas de gestos de amor verdadeiro e profundo.

 

E pronto. Estou feliz por ter escrito tudo isto. Uma encomenda deve chegar na 2ª ou 3ª feira.

 

Beijinhos, beijinhos da Mª do Céu

 

P.S. – Deixei o carregador do telemóvel na sala de jantar. Arranjei solução aqui. Não se preocupem. Tragam-mo quando regressarem a Coimbra.”

 

Assim termina a carta cuja publicação foi iniciada ontem. Termina também no SPNI a homenagem à tia Maria do Céu Brojo iniciada esta semana. Não esqueço a influência que esta mulher excecional teve no meu percurso. Desde cedo e pelo diálogo, orientou-me leituras - Sartre, Camus, Simone de Beauvoir e outros sempre na língua original -, depois discutidas em família, que completavam as que os pais recomendavam. Sempre respeitados a minha curiosidade e gosto.

 

Uma das músicas que a preenchia era o “Imagine” dos Beatles. Trauteava-a frequentemente com a sua magnífica voz. O conteúdo da letra harmonizava-se com um dos objetivos da missão que escolhera aos dezasseis anos, ainda estudante no Colégio do Sagrado Coração de Maria na Guarda. Para trás, deixou o início de um namoro feliz com o António Pinho Brojo. Este e os pais, a avó Mamia e o avô Artur, tentaram demovê-la. Assentiu em refletir nos dois anos de espera pelo noviciado. Na “Ordem do Sagrado Coração de Maria”, já em Lisboa, escolheu o nome de Madre Anunciata. Prosseguiu estudos nas Universidades de Salamanca e Roma. Lecionou nos colégios da Ordem e em vários liceus do país, sempre vigiada pela PIDE. Razão? Não perder uma oportunidade de apelar à justiça social e, mais tarde, à "Teologia da Libertação". No final dos anos setenta, optou por “Les Frères de La Charité” a que ainda pertence.

 

Imagine

 

Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people living for today

Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people living life in peace

You, you may say
I'm a dreamer, but I'm not the only one
I hope some day you'll join us
And the world will be as one

Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people sharing all the world

You, you may say
I'm a dreamer, but I'm not the only one
I hope some day you'll join us
And the world will live as one

 

John Lennon  

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:48
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Quarta-feira, 1 de Fevereiro de 2012

DRAMAS ANUNCIADOS

 

Amelies Welt

 

Não fosse ter sido aluna do Infanta D. Maria em Coimbra talvez o título da notícia que remetia para a escola secundária tivesse sido lateral à atenção. Li atenta, habituada ao que tudo vem dali ser relativo a ensino exemplar e posição cimeira nos rankings de sucesso nacionais. Mas não - duas professoras de Biologia suicidaram-se em menos três semanas. Corpo docente e discente, assistentes operacionais optaram por minuto de silêncio.

 

Sabido é que o exercício de professorado desmente expectativas de trabalho adequadas à função. Os desmandos impostos sob forma de lei que, despudorados, desmentem o outrora garantido, as condições para o labor, o desinteresse dos alunos sem relação com o desempenho do professor, a tonelagem de carga burocrática, propiciam a insatisfação docente. Sem adivinhar razões para atitudes tão extremas, um todo é motivo. Todavia, interessaria esmiuçar causas que, profilacticamente, tragédias semelhantes prevenissem.

 

Lembro, galhofeira, a época da Maria dos Craveiros - a espiã-mor ao serviço da reitora. Solteirona rígida no pensar, rígida no estar e sabem os deuses onde mais, vigiava comportamentos e audácias que nos aproximassem da cerca onde passavam alunos do liceu masculino. Duzentos metros, era a distância imposta. Chegado o tempo cálido, ou usávamos soquetes, ou beliscava as pernas das alunas para estar segura do cumprimento das regras que mandavam usar meias. De vidro, era dito, ou collants transparentes. Nos  corredores do Infanta, a esquerda era para quem vinha dos ginásios, a direita para quem ia.  Mulherio adulto e juvenil por todo o lado – ilha na sociedade. Os pais sossegavam por saberem as meninas entregues a boas práticas no ensino e melhores(?) costumes. Quem fora não tivesse envolvimento saudável, saía do Dona Maria para a faculdade como idiota de truz. Aconteceu comigo.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 13:55
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Domingo, 13 de Novembro de 2011

ADEUS, COIMBRA! ATÉ UM DIA

 

 

 

 

 

A despedida dum tempo lindo, dói. Ficam imagens actuais da cidade que mal amei. A "Lacrima" conta melhor.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

                                       Despedida das 'meninas Brojo'

publicado por Maria Brojo às 07:20
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Domingo, 23 de Outubro de 2011

ARTE DESCE À RUA

 

Foi surpresa que Coimbra me reservou voltar às marionetas dos meus amores. E moviam-se com mestria, encantadoras pelos personagens criados, pelo detalhe do cenário e dos figurinos. Havia prazer no homem que pela dança manuseada lhes conferia vida. A música de fundo surgia sem donde conhecido. Ora, se nem pneumonia brava me impedira, há muitos anos, de assistir na Gulbenkian a um espectáculo das “Marionetas de São Lourenço”, como poderia distracção e passar ao lado sem me quedar embevecida? Apaixonei-me cedo pelas oferecidas na infância. A partir daí comprava-as nos lugares andarilhados. Em Florença, um pierrot veneziano, imponente pela beleza e pormenor, pela altura também, viria na bagagem acompanhado por pinóquio distinto dos vistos até então. Altura semelhante à do pierrot, faziam parelha belíssima. Tantas adquiri que o termo colecção descrevia o conjunto. Achei injusto ser uma adulta a gozá-la - ofertei-as a crianças nas quais o fascínio transbordava. A última foi o pierrot.

 

 

Chegada à Igreja de Santa Cruz, descoberta a fonte da música. Era um virtuoso à altura da monumentalidade do largo. Numa esplanada fruí do inusitado prazer, comum fora de portas, ainda raro em cidades portuguesas que não as capitais do trabalho e do país. Arte também nas castanhas assadas a preceito, no simbolismo sazonal que representam.

 

 

Nas ruelas que de Santa Cruz partem rumo à Baixa Velha, foi imposto, pela pressa, ir adiante do muito a registar. Mas não há celeridade que resista a cerâmicas, aos velhos símbolos do “aqui há comes e bebes”. As prostitutas circulam misturadas com outros passantes nem mais nem menos impudicos do que elas. A cada um seu ofício e caminhar.

 

 

Já na área verde ribeirinha, pela Aguieira e pelo açude o Mondego no seu melhor, é apuro o design que embeleza a margem. Reminiscências estrangeiras e míticas na arte do vender e consumir.  

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Sugestões do Cão do Nilo.

 

publicado por Maria Brojo às 08:12
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Sexta-feira, 21 de Outubro de 2011

O "NICOLA" - INSTITUIÇÃO SOCIAL

 

Por melhor que seja, nenhum «lar» é um lar. A “Unidade de Saúde de Coimbra”, estabelecimento privado, é exemplo no cuidar bem dos internados em regime de média ou longa duração. A Drª Marisa, assistente social, e toda a equipa de psicólogas, enfermagem, animadoras culturais e auxiliares são raras pela humanidade e respeito e dedicação aos utentes. A família sempre informada das necessidades dos amores que ali permanecem devido a maleitas injustas que não se vêem mas degradam ao ponto da casa própria ou as de filhos não serem solução. Não impede, todavia, que seja dito a cada saída, sempre acompanhada, para o exterior: _ “Sol! Que saudades do Sol!” Óculos escuros dispensados para fruição da luz inteira. E dói ouvir. Tantos euros para a estrela que faz o dia ser impedida de entrar nos espaços! O Nicola, na mesma cidade, acaba por ser «lar» outro de amigos que vivem sós ou com damas de companhia, uma delas ali presente, ou conjugalidades em bodas de ouro ou internados na U.S.C. cuja família faz questão de lhes manterem o hábito da meia de leite morna e uma nata nas companhias amigas de anos muitos. Pelas onze, está reunida a tertúlia. Quem falha justifica. Não são mencionadas doenças, nem arrelias, tão pouco mágoas - aquele é lugar de alegria, de novas, de partilha, de reflexão sobre o nacional e internacional, filhos, netos, bisnetos.

 

 

No desembocar do Almedina, o fado de Coimbra magnificamente interpretado por estudantes de Direito e Economia. Estrangeiros e nativos sem arredarem pé da beira do espectáculo. Pixéis em labor constante. Vozes e música de deuses é presunção: ignoro como tocam e cantam por nunca, Deo Gratias!, ter visitado o além.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Em memória de Zeca Afonso e de Muammar Abu Minyar al-Gaddafi (o segundo vídeo descoberto pelo Veneno C. substitui o mau gosto do que escolhi; o terceiro resulta da colaboração do Acuçar C. e o quarto do Cão do Nilo).

 

publicado por Maria Brojo às 07:17
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Sábado, 8 de Outubro de 2011

NÃO ME TRAIAS!

Carlos Botelho

 

Lisboa, tão bela, depois da Estrela arrisco desgostar-me dela. Inaugurado o regresso com filas de trânsito na curta distância desde casa até outro ninho de afectos, preciso, com urgência que se me não tolde a visão e relembre os encantos da cidade ribeirinha, das colinas, dos recantos ternos que não dos arrabaldes, pensões Estrelinha nocturnas, onde há feiura, lixo e mau no cimento erguido.

 

Coimbra, lar outro, já piora no terço do caminho andado desde a limpeza e vida simples de Gouveia. Em Lisboa, gaiola que me aprisiona – sentimento por uma vez experimentado há quinze anos num retorno semelhante. Nunca depois com desconsolo tão grande como ontem. Faltam-me lonjuras, sobram «repolhos» que entopem vidraças. Faltam-me “bons dias” de quem não conheço, sobram apitadelas e gestos impacientes. Falta o conforto dos cheiros da terra, as regas do entardecer, acessibilidades pacíficas; transborda na taça desgostosa a secura das árvores que tentam amenizar de modo raquítico a quentura dos passeios separados por alcatrão.

 

E, Lisboa!, demando entre os liozes, calcários outros e basalto a tua sedução feiticeira. Garanto-me disponível para sentir e rendição. Não peço engodos, apenas que te reveles num novo surpreendente sem rasgares cambraias ou o linho do Tejo onde adormeces nua, ondulante, coberta com lençol de estrelas, afagada pelo rumorejar dos cais e embarcações.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 16:50
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Quinta-feira, 6 de Outubro de 2011

PEQUENAS/GRANDES FORTUNAS

Yvonne Gilbert

 

Fosse em avião o trajecto de regresso a Lisboa, Coimbra mais teria sido do que escala pela permanência até sete de Outubro – aniversário em que renovo desejos de outros se sucederem. Costumo dizer:  _ “Estes já cá cantam!” E será dividido o dia entre amores que a geografia tem separado. No retorno à ‘Grande Alface’, prolongada a alegria com outros muito amados. Repartição de momentos únicos prega partidas a afectos merecedores de tempo inteiro. Mas estou e serei feliz na partilha se, quiçá, for chegado o momento em que um ano a mais perfará soma bonita do mesmo modo que todas o foram pela lembrança da dúzia de meses com balanço feliz – a ‘contentinha’, neste povo de «inhos» e «inhas», é parca em exigências de grandes coisas quando as pequenas aportam maiores fortunas.

 

Em dia feriado, o de ontem, a Baixa de Coimbra, é encanto que o espírito retém – artesanato de bom gosto e habilidades mestras expostas na Ferreira Borges e Visconde da Luz; passeantes nossos e de várias partidas do mundo, esplanadas a abarrotar, calor a mais para quem da Estrela desceu. Se já na “Casa do Pastor”, metros acima do meu abrigo em Gouveia, havia comprado parte dos presentes de Natal, na passeata por Coimbra, vazia de gentiaga dos serviços, completei-os. Neste particular, possuo a riqueza de tempo disponível que me permite não assinar oferendas provindas de centros comerciais em horas últimas antes da Consoada. Com tempo e amor, decido o para quê e para quem, ajuízo custos e beleza. Tamanho prazer na escolha é instante felizardo! Venham mais.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:10
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Domingo, 11 de Setembro de 2011

À VOLTA DO "CALHABÉ"

 

De baixo para cima, pétalas coloram o perto, das humildes e envergonhadas que pela noite se fecham em recato para abrirem com a madrugada, sempre abraçadas aos canaviais que bordejam linha férrea em desuso, às simples, porém envasadas e mimosas, em cantos protegidos de ventos, somente encantam quem as vê com olhar surpreso por novo amanhecer e, ainda de baixo para cima, os cotos sobrepostos da palmeira desembocam em ramalhete fendido, os cachos de glicínias encimam portão que oculta palacete.

 

 

Nas casas senhoriais, memórias garbosas de capelines protegendo alvuras de peles femininas, charretes, mais tarde nos anos, automóveis em entra e sai na hora de ‘receber’, meninas de luxo no luxo de sedas e damascos que pelas janelas meditam no mundo visto por cima dos muros, tão próximo e distante dos sonhos juvenis, idosos acomodados em cadeirões fofos, desinteressados do mundo além do descrito nos livros relidos e dos afectos presentes chegado o tempo de perspectivar final, empregadas com farda e crista afadigadas em acender lareiras, servir os ‘senhores’ e depois rirem na cozinha das manias deles, víveres entregues pela porta da criadagem, namoricos soltos proibidos às donzelas/patroas e também servas dos seus pais/patrões.

 

 

Formosas moradias em banda, se hoje o não são é adivinhado que foram, ladeiam a Avenida do Brasil cruzada por ruas em declive obrigando a arfar quem as sobe, olhar atentamente o empedrado quem as desce, ladeiras, dizem-nas pela inclinação e baptismo, becos sem levarem a lado nenhum salvo aos moradores, toponímias curiosas, balcão de carnes frescas anunciadas como sendo de categoria.  

 

 

 

 

Zona ‘nova’ que o não é porque já o foi apresenta arquitecturas muito más e de excelência com todos os graus intermédios, a Almedina encastoada sob vidros e metais do estádio continua a sugerir entradas e demora para a saída, a esplanada protege leituras de páginas a estrear ou de usadas bem amadas, porque amar livros é tão fácil como amar pessoas e mais fáceis de transportar na caminhada sob colunas que parece taparem o Sol, mas não, foram nuvens as responsáveis pela obscuridade imprópria da hora que o relógio sinaliza e pela descarga provável de chuva desfeiam, entristecem o casario pintando-o de manchas que lá estavam e com o brilho não eram vistas como acontece em sapatos velhos que a graxa faz refulgirem.

 

CAFÉ DA MANHà 

 

publicado por Maria Brojo às 15:21
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Terça-feira, 23 de Agosto de 2011

CONTENÇAS, ABRUNHOSA, GOUVEIA

Robbie Bushe, Richard Whitney

 

Pela importância na produção de têxteis e agrícola da região, pela necessidade de a escoar, ficou completa a Linha Ferroviária da Beira-Alta que ligava Figueira da Foz a Vilar Formoso. Inaugurada no dia 3 de Agosto de 1882, distinguia apeadeiros de estações. A de Gouveia distava parcos quilómetros do centro urbano, cumpridos de táxi ou de camioneta em estrada sinuosa que dava voltas a estômagos por resistentes que fossem.

 

Terminado o último período escolar nos princípios de Junho, precedendo o tempo de praia, a pequenita ia de férias para casa dos avós, enquanto os pais, em Coimbra, aguardavam o descanso anual. Senhora amiga da família propôs-se acompanhar a garota e deixá-la no recato devido. Amorosamente, a mãe cuidara dos detalhes emalados: sandálias e vestidos novos para a filha, para as bonecas fatos à medida, seira que as acomodasse forrada a chita florida, folhos e laçarotes nas bordas. Um primor!

 

Passada a estação de Mangualde, o apeadeiro de Contenças, alguns passageiros recolhiam bagagens preparando saída em Gouveia. Ora, durante a viagem, cansada de olhar a corrida da paisagem, a miúda não resistira e, aquiescendo a acompanhante, retirou da mala, seira e bonecas para se entreter e satisfazer a vontade do novo estrear. Ansiosa por chegar, já em Contenças tentara industriar a senhora amiga para se aproximarem das portas. _ Que era cedo demais, que reuniria os pertences após Abrunhosa, estivesse descansada. Mas não estava. Insistiu. Foi-lhe cumprida a vontade - junto à saída, arrebanhadas malas. Na mão, seira e bonecas. Comboio em andamento, portas abertas, vento refrescante da montanha deslizando forte com a velocidade da composição fez voar os brinquedos. Lágrimas contidas por saber dela a pertença da culpa pela teimosia.

 

Chegada a Gouveia, os avós tristes com a mágoa da neta deram conhecimento ao chefe da estação. Mulher mandada percorrer a linha até encontrar o perdido. Encontrou e fez chegar à menina caixa com os mimos. Jamais esqueceu a Linha da Beira-Alta que, adolescente, percorreria vezes algumas, bonecas substituídas pelo Paris Match ou o Jours de France.

 

Até ao desactivar do envio de mercadorias por comboio a partir da estação de Gouveia, receberia na "Grande  Alface" sacos de batatas, cabazes com fruta colhida nas propriedades. Eram um pouco das raízes adquiridas pela tradição do nascimento em casa dos ancestrais que, etiquetadas com a letra bem conhecida, levantava em Lisboa–Estação de Benfica.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 09:26
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Olá. Posso falar consigo sobre a sua tia Irmã Mar...
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