Autor que não foi possível identificar
Era o dia. Marcara-o em agenda vazia. Queria-a virgem de rotinas por cumprir. De ociosidades. De breves fichas de leituras. Ao abrir a Moleskine ampla, oferta com poucos dias, escreveu com letra bonita o propósito. Assim registado com ritual condigno, pensou não ter motivo para deslize. De facto, optara por limpar o espírito dos negrumes últimos. Das mentiras que o íntimo adivinhava num tom de voz, numa interjeição, numa frase. Dos conselhos que alguns atreviam para lhe comandarem atitudes. Das intrigas alheias que atingiam amigos e, solidária, ouvia. De falsos afetos apresentados como hologramas e, supostamente, lhe dirigiam. De interesses rasteiros. De hipocrisia. Da ingenuidade tonta pensada como característica sua. Da confusão entre espontaneidade e espírito débil. De ser manipulável o que contraria o natural pragmatismo e as análises íntimas. De ser frívola pelo cuidado no arranjo quando, em cada manhã, apenas projetava estar bem consigo deixando liberto o pensamento para o importante na vida. Do impositivo não gosto assim ou assado. Do convencimento dela obedecer, conquanto negado pelo dia-a-dia e pela argumentação. De ser tida por lerda apenas pelo gosto de nos outros ver o melhor.
Escreveu na página limpa: _ “Eliminar dos que me rodeiam incumpridores do respeito que exijo e devolvo.”
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros