Segunda-feira, 14 de Abril de 2014

A HISTÓRIA DO FEIO

 

"O Almoço do Trolha" - Júlio Pomar (1946-50)

 

Do Feio reza a história. Desconheço se Savinien de Cyrano possuía a disformidade inspiradora da peça de Rostand. Factos são o Savinien ter acrescentado Cyrano ao nome de Bergerac e estarem os seus despojos corpóreos sitos no Cemitério do Père-Lachaise.

“Pintor algum jamais desenhará
perfil semelhante ao de Bergerac;
mais bizarro, excessivo, extravagante,
grotesco, caricato e petulante!
Penacho no chapéu, capa e espada,
corajoso não perde uma estocada!
Fingindo um rabo de galo insolente
empina-se e enfrenta todos o Valente!
Exímio espadachim, consigo porta
uma crista esquisita, rubra, torta...
Um nariz! Mas que penca gigantesca,
feia, disforme, polichinelesca!
Todos que veem um narigudo tal
pensam: Ah Meu Deus, que hipérbole nasal!
Não seria melhor tirá-lo? Engano!
Jamais o tira o intrépido Cyrano!””

Aristóteles distinguia o Belo e o seu oposto: o primeiro, como indicador devirtude, o Feio como o mal e o seu sinal. Os conceitos primários de hoje quase cópia daqueles. O Feio dominando aparições dum real feito de sombras e de medos. Associado ao cómico e ao obsceno. À dor. À doença. À fome. À guerra. À exclusão. "É considerado feio o rosto dos excluídos, o trabalhador rural, as mãos embrutecidas do operário. É preciso uma estética de libertação a partir dos oprimidos, que são a maioria da população que não se encaixa nos padrões de beleza", li por aí. E negamos o desagradável. Afirmamos, (…)

 

Nota - texto publicado, hoje, aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:31
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Segunda-feira, 7 de Janeiro de 2013

É DO FEIO O TRATADO

Cruzeiro Seixas

 

Do Feio, reza a história das artes e da filosofia. Desconheço se Savinien de Cyrano possuía a disformidade inspiradora da peça de Rostand. Fatos são Savinien ter acrescentado ao nome “de Bergerac” e estarem os seus despojos corpóreos sitos no Cemitério do Père-Lachaise.

 

Ragueneau, personagem da peça, improvisa:

“Pintor algum jamais desenhará

perfil semelhante ao de Bergerac;

mais bizarro, excessivo, extravagante,

grotesco, caricato e petulante!

Penacho no chapéu, capa e espada,

corajoso não perde uma estocada!

Fingindo um rabo-de-galo insolente

empina-se e enfrenta todos o Valente!

Exímio espadachim, consigo porta

uma crista esquisita, rubra, torta...

Um nariz! Mas que penca gigantesca,

feia, disforme, polichinelesca!

Todos que vêem um narigudo tal

pensam: Ah Meu Deus, que hipérbole nasal!

Não seria melhor tirá-lo? Engano!

Jamais o tira o intrépido Cyrano!”

 

Mário Eloy

 

Aristóteles distinguia o Belo e o seu oposto: o primeiro como um indicador de virtude, o Feio como o mal e o seu sinal. Os conceitos primários de hoje quase cópia daqueles. O Feio domina aparições dum real feito de sombras e de medos. Associado ao cómico e ao obsceno. À dor. À doença. À fome. À guerra. À exclusão. "É considerado feio o rosto dos excluídos, o trabalhador rural, as mãos embrutecidas do operário. É preciso uma estética de libertação a partir dos oprimidos, que são a maioria da população que não se encaixa nos padrões de beleza", li por aí. E negamos o desagradável. Afirmamos, socialmente, não existirem pessoas feias, idiotas ou malvadas. Mas não existindo o pouco inteligente o feio e o malvado, como haver o superdotado, o belo e o bondoso? 

 

Eduardo Batarda - Cena Canalha

 

Beauty is in the eye of the beholder”, lugar-comum que exclui o Feio. Feio, do ponto de vista de alguém, nada mais. Nas vanguardas do século XX, surge o triunfo do Feio também como contrapoder. A fealdade portuguesa pela mão do Almada, do Amadeo de Souza Cardoso, dos expressionistas Mário Eloy, Pomar, Júlio Resende, dos surrealistas Dacosta, Cruzeiro Seixas. Nos percursos de Paula Rego, Bértholo, Eduardo Batarda. Todos dando corpo a uma "bela fealdade" contemporânea.

 

Bernardo Pinto de Almeida escreveu: “O Feio é a irrupção do expressivo. Enquanto houver fealdade, há esperança e utopia.”

 

Nota: quase em simultâneo no SPNI e aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:59
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Terça-feira, 10 de Abril de 2012

MALVASIA E GEOMETRIA

 

Cruzeiro Seixas

 

Da cabalística não sou maskilim e pouco sei além do mistério emprestado ao sete e ao nove. Nela me iniciei às voltas na Regaleira ou por ficções de credibilidade duvidosa. Dizem ser o três número mágico – a família clássica confortada pela primeira maternidade, o tempo humano traduzido pelo presente, passado e futuro, o mínimo de pernas para suportar mesa ou assento, a base transgressora da pluralidade nas fantasias eróticas, a conta que Deus fez.

 

Terá sido o acaso ou um capricho da fortuna que nos angulou a geometria? Na ausência da malvasia – casta louvada por Shakespeare –, a mistura de tequila e cointreau se à eloquência do discurso pouco acresceu, soltou as emoções. Desprendeu a fala. Quebrou as rédeas do riso. Restituiu à liberdade osgestos. Não que o embaraço fora previsto – no quotidiano justapunha-mos as vidas.

 

À beira das águas mansas do Tejo, e antes do na tua, na dele ou na minha, abrimos portas à volatilidade das intenções. Não nos satisfez o resguardo meticuloso do passado, o presente arrumadinho, a embalagem conformada ao peso e à medida rígida da expedição postal, o fazer adiado para amanhã que pode nem chegar. Da noite a cumplicidade. Da maresia o odor. Do sal o deleite. E acordámos na frase puída - os “(a)casos” podem não ter finais felizes, mas os começos... Ah, esses!... Felizes são.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 17:48
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