Domingo, 3 de Maio de 2015

“PAROLES”, MÃE

 

 

RGarrison

 

 

Era o tempo da Romy Schneider. Do cabelo liso acima dos ombros com as pontas viradas para cima. Certinhas. Das fitas largas na cabeça que lhe ficavam tão bem. Era o tempo da Maria Laforêt, do Alain Delon e da Dalida. Da saia acima do joelho que o bom senso media. O tempo do concurso da “Mulher Ideal” a que as suas amigas incentivavam a concorrer. Pelas mãos de fada, pela arte nos arranjos florais, pela perícia na economia doméstica que, com pouco, sofisticava uma refeição, pelo saber-estar social. Foi o tempo do cinema como local de encontro blasé. O tempo da meninice primeira que me soube dourar –o pé-ante-pé em camisa de dormir para a sua cama onde me abraçava, esvoaçava beijos e lia contos infantis.

 

 

 

Lembro-me de vir à sala para ser exibida no maior apuro e depois entretida algures enquanto decorriam os chás ou as reuniões Tupperware. De a olhar com o nariz espetado para cima, orgulhosa por dar a mão à senhora mais bonita da festa. De me motivar para a aprendizagem da costura, da essência do cozinhar, do gosto e feminilidade no vestir. De limitar as nossas conversas a generalidades, risos, conselhos e pouco mais -– e eu ardendo no desejo de saber o que era isso de passar de menina a mulher. Lembro vê-la sonhadora, o livro caído no regaço, enquanto ouvia “Paroles, Paroles.” De me aconselhar na escolha do vestido de noiva. De a ter ao meu lado em cada degrau da vida. De a amar, temer, admirar, amar e agora proteger - filha/mãe mimando a mãe/filha. E lembro. E vejo. Hoje e no tempo dos gira-discos e do concurso da Mulher Ideal. Ofereço-lhe a música lá em baixo, mãe. Ouça-a e descaia a revista no regaço. Trocarei as suas lágrimas por beijos meus.

 

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 07:47
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Quinta-feira, 19 de Setembro de 2013

“PAROLE, PAROLES”

 

 

Era o tempo da Romy Schneider. Do cabelo liso acima dos ombros com as pontas viradas para cima. Certinhas. Das fitas largas na cabeça que ficavam tão bem. Era o tempo da Maria Laforêt, do Alain Delon e da Dalida. Da saia acima do joelho que o bom senso media. O tempo do concurso da “Mulher Ideal” a que as suas amigas incentivavam a concorrer. Pelas mãos de fada, pela arte nos arranjos florais, pela perícia na economia doméstica que, com pouco, sofisticava uma refeição, pelo saber-estar social. Foi o tempo do cinema como local de encontro blasé. O tempo da meninice primeira que me soube dourar – o «pé-ante-pé» em camisa de dormir para a sua cama onde me abraçava, esvoaçava beijos e lia contos infantis.

 

Lembro-me de vir à sala para ser exibida no maior apuro e depois entretida algures enquanto decorriam os chás ou as reuniões Tupperware. De a olhar com o nariz erguido, orgulhosa por dar a mão à senhora mais bonita da festa. De me motivar para a aprendizagem da costura, da essência do cozinhar, do gosto e feminilidade no vestir. De limitar as nossas conversas a generalidades, risos, conselhos e pouco mais – e eu ardendo no desejo de saber o que era isso de passar de menina a mulher. Lembro vê-la sonhadora, o livro caído no regaço, enquanto ouvia “Parole, Paroles.” De me aconselhar na escolha do vestido de noiva. De a ter ao meu lado em cada degrau da vida. De a amar, temer, admirar, amar e agora proteger – filha/mãe mimando a mãe/filha. E lembro. E vejo. Hoje e no tempo dos gira-discos e do concurso da "Mulher Ideal". Ofereço-lhe a música aqui em baixo, mãe.

 

Dalida por autor que não foi possível identificar e Alain Delon por Chris Laure

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:22
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Segunda-feira, 5 de Dezembro de 2011

ÁGUA, CLORETO DE SÓDIO E RANKINGS

Michael Shapcott, Hemera

 

Elsa, dirigindo-se aos italianos não conseguiu proferir o termo “sacrifícios” a que ficam doravante obrigados os concidadãos pela reforma das pensões. E quem é a mulher sensível que não escondeu lágrimas e voz entupida perante as câmaras? _ De seu nome, Elsa Fornero; como função ministra do 'Trabalho e dos Assuntos Sociais' do recente governo de Itália; no curriculum, professora universitária, depois, membro do conselho de administração de importante banco do país (mais aqui). Acusada de encenar o momento que hoje os satélites e cabos ópticos distribuem no mundo. Resultado: as bolsas europeias festejam os pacotes restritivos anunciados, os italianos engolem-nos sem digestão e começam a entender que o burlesco habitual no defunto ‘governo Berlusconi’ não fez parte do cloreto de sódio e água das lágrimas da Elsa.

 

No ranking europeu definido pelo Financial Times das melhores escolas que formam executivos em economia e gestão, foram promovidas duas instituições portuguesas: a “Nova” passou do septuagésimo quarto lugar do ano anterior para trigésimo nono, a “Católica” subiu para trigésimo terceiro. Encabeça a lista, pela terceira vez consecutiva, a "Haute Ecole Commercial de Paris". Honra-nos o reconhecimento de excelência das faculdades de economia e gestão, das pós-graduações que proporcionam e ficam, assim, entre as quarentas melhores europeias. Indo além, talvez num futuro por anunciar os formados que dirigem dinheiros das empresas e nacionais introduzam pensares novos e lúcidos que nos beneficiem e, por isso, promovam.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:34
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Terça-feira, 25 de Outubro de 2011

DUAS TRAGÉDIAS, UMA ALEGRIA

Enzie Shahmiri, Alex Alemany

 

Tragédia consumada, tragédia previsível. Sismo na Turquia que à vida retirou muitos, estimativa de em Portugal cerca de 70% do território estar desertificado dentro de vinte anos. Desde o Sul ao Norte, o potencial biológico dos solos será perdido. Razões essenciais da tragédia: incêndios, uso indisciplinado dos solos, reflorestações feitas à trouxe mouxe, a migração das gentes para o litoral, essencialmente rumo às áreas da ‘Grande Lisboa’ e do ‘Grande Porto’. Na esperança de melhorarem as condições quotidianas – para a maioria dos iludidos ledo engano – ficaram ao abandono leiras, talhões nas matas, solos que eram férteis mas a erosão come sem parança. E as faladas alterações climáticas também arrecadam parte da culpa como a actual intenção de encerramento dalgumas linhas férreas no interior, também responsável a fuga para o litoral. Sendo tanta, não nos admiremos se, um dia, este rectângulo que já foi jardim e agora é barcaça carcomida que o Eça antecipou obliquar e despejar no Atlântico gentes e bens.

 

Duas tragédias, uma alegria – as eleições tunisinas congregaram alegria, 70% dos votantes, esperança ímpar do povo que iniciou a Primavera Árabe. Foi-se Bem Ali, chegou a ilusão duma democracia que o seja em verdade. Por tudo, o país do qual guardo memórias lindas merece.

 

 

Nota - Agradeço ao Veneno C. a possibilidade de encontrar reprodução com maior qualidade da pintura de Enzie Shahmiri.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:35
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Quinta-feira, 4 de Agosto de 2011

O SENHOR MÁRIO E A CUIDADORA-MOR

Lorie Merryman, Max Jacquiard

 

O Senhor Mário, cinquenta e três anos em corpo alto e ágil, bem apessoado, é jardineiro da Câmara. Terminado o horário estabelecido, é agricultor em propriedade extensa e alheia da qual recolhe lenha para a lareira, outros produtos do que existe, do que semeia e planta. Acumula com a tarefa de jardineiro da família proprietária do solo agrícola que cultiva, com a de cuidador doutra casa antiga, mesma pertença. Até este ano, era jardineiro segundo. A família promoveu-o a primeiro e único.

 

Porque de ano a ano os donos regressam à casa da Beira, conquanto na dúzia de meses menos um, abundem telefonemas, o Senhor Mário decidiu fazer contas anualmente. Hoje, após instantes pedidos, anuiu ao pagamento. Cinquenta euros, afirmou ser o total perguntando, de caminho, se eram aceites duas sacas de batatas e umas garrafas de azeite, tudo provindo da quinta por conta. Boquiaberta, a pagadora pôs-lhe na mão o dobro sentindo-se ainda em dívida. Reclamou que não, que era excessiva a quantia, Na partida rumo à Grande Alface, outro tanto lhe pagará sob pretexto que não tarda. Pela amizade antiga, o Sr. Mário e a “minha senhora” como gosta de chamar à mulher e companheira de muitos anos, fazem parte da família cujos haveres beirões zela.

 

Anteontem, acompanhou carpinteiro eficiente para tirar medidas a janelas, portas e portadas da casa aldeã há quinze anos desabitada. Gelos e estios extremados, mais a falta de uso, deterioraram irremediavelmente exteriores. O soalho feito de sólidas tábuas que forra jardim de Inverno, sala, escritório, ex-capela e a meia dúzia de quartos continua firme, bem como a escadaria para o andar de cima construída em madeira diferente. Urgência: barrela e cera abundante. Terreno em socalcos, sobe depois em pinhal entremeado por penedos. Os muros mais não são que pedaços de granito amontoados onde musgo habita. Vista deslumbrante sobre a montanha desde o lagar «na loja» até às águas-furtadas.

 

E a cuidadora-mor deleita-se a cada visita, franze o sobrolho perante o escândalo do orçamento apresentado pelo carpinteiro – poucos ‘Mários’ existem sobre a Terra e ainda bem ou a ruína do negócio pairaria –, sonha com permanência de meses não na casa principal, mas na que se propõe restaurar e foi, também, idílico cenário de férias na infância.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:23
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Sábado, 24 de Abril de 2010

EXCERTO DE NADA

Peter Hedley

 

Dita do Adamastor. A auto-estrada do Tejo em frente. Veleiros e cacilheiros. Embarcações miúdas. Umas e outras deslizando na serenidade sem faixas e loendros empoeirados separando alcatrão.

 

Na hora do almoço, míngua de apetite que tosta e água satisfaziam, fosse de sol ou neblina a luz. Desequilibrava os saltos na calçada oblíqua dos quarenta e cinco graus inclinados. Olhava os junkies, o vazio de rodados, a companhia do Adamastor reformado do afunda caravelas e tormenta de marinheiros, os verdes selvagens no jardim esquecido que o Tejo marginava do alto. Espaço que anos e anos tornara adulto, tão diferente dos designs arquitectados em ateliês por visionários de uma Lisboa em maquetas, obediente a qualquer forma de modernidade, menos invento do que cópia.

 

Procurava a esplanada na Senhora do Monte ou Santa Catarina do Monte Sinai, assim baptizada por um frei qualquer apostado em fazer das físicas elevações de Lisboa imitações do Aventino, Esquilino porque não?

 

No Antigo Pico de Belveder, nome de palácio, de casta nobre com jacarandás/debruns fronteiros ao rio, engolia o prazer da esplanada como tranquilizante comprimido numa tablete de alumínio.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 10:55
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