Lluis Ribas – da coleção “As Cores do Branco”
São os leitos nodosos, turvos e densos, que melhor acolhem as raízes e permitem que a flor de lótus se erga delicada e vigilante. Toda a espera é uma promessa de incerteza e, por isso, ninguém pode saber o que vai dentro do coração de um lótus. Na realidade, são muitos os botões que permanecem fechados, numa obstinação imprevisível.
"Lótus de ouro" era o adjetivo mais generoso dirigido a uma cortesã chinesa; num registo mais amplo, o lótus simboliza a pureza também na união dos amantes.
Hollywood criou o mito das louras e os estereótipos a elas ligados. Ao platinar os cabelos, gerou uma nova versão da femme fatale. Marlene Dietrich em “Vénus Loura”, Rita Hayworth em “Dama de Xangai”, Bette Davis na “Floresta Perdida” e Vivian Leigh num “Elétrico Chamado Desejo”, ficaram inesquecíveis em papéis de louras, assim como Marylin Monroe. Depois, há as louras que por não o serem tão declaradamente nos esquecemos que o são: Jessica Lange, Sharon Stone e Liv Ullman. Todas sedutoras, todas protagonizando tórridos affairs.
Em idos, os affairs discutiam-se (ou escondiam-se) no recato do lar, na penumbra dos confessionários ou na rigidez dos tribunais. Hoje, o desejo sexual adquiriu alforria, embora ainda se queira precioso e com o perfume de especiaria rara. O homem receou o poder da sexualidade feminina e, por isso, tentou controlá-la ou anular reprimindo-a. A literatura e o cinema, frequentemente, consolidaram esses medos.
Herdámos o conceito do que se distancia do lugar almejado tido por «bem» é vivido como imperfeição ou pecado, contamina a liberdade e pesa como culpa, quantas vezes ociosa!, no indivíduo sem permitir que surja, pura, a flor de lótus.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros