M. L. Garmash
A noção de lonjura é inevitável quando encarada a distância entre Lisboa e pequenas urbes do “interior profundo” – expressão convencionada cujo último sentido convoca sentimentos menores pelo atávico desprezo institucional por regiões às quais, normalmente, está associada. Podem existir vias de comunicação rápidas com traçados bem 'esgalhados', muitas delas nem por isso, que a lonjura advém dos recursos públicos oferecidos aos cidadãos. As autarquias fazem o impossível por minimizar falhas, conquanto, «às primeiras», esteja por entender a existência dum heliporto em S.Cosmado*, aldeia a um quilómetro da cidade onde existem centros de saúde para cuidados. Sendo o objectivo, pousarem helicópteros no auxílio ao combate de incêndios, está a dúvida esclarecida até pela localização: junto a uma piscina natural que armazena água de ribeiro abundante.
O sentir de afastamento entranha-se também por razões outras: modo de estar tranquilo, o conhecer todos, paisagem livre de entulho predial subido em altura, local de trabalho a cinco ou dez minutos a pé nos povoados, equivalente de automóvel até à cidade. Limpa e ajardinada como poucas. A Câmara zela pela tradição do asseio e enfeites vegetais, fornece transporte aos alunos das escolas de aldeia com o fim de neles desenvolver o gosto por desportos vários, convenientemente seguidos em pavilhão gimnodesportivo e numa das duas piscinas, a escolhida aquecida e coberta por arquitectura moderna, digna de ser vista, moldada aos quesitos necessários. O tecto em abóbada forrada por madeira nórdica, a longa parede em vidro permite olhar o limite do Caramulo.
Duas bibliotecas públicas, o Museu de Arte Contemporânea, galeria de arte, cineteatro ao dispor de concertos de música dita erudita, a sede da banda filarmónica que a crianças e jovens proporciona formação musical, arredam idear este “interior profundo” como pobre cultural. O melhor é cada evento, grátis na maioria, reunir pessoas à pinha. Olha se em «Lesboua» percentagem significativa dos habitantes faz o mesmo! Depois, há aquela do longe, subitamente curto, quando é muita a vontade e as posses suficientes para assistir a espectáculo apetecível nas duas capitais da cultura.
* Povoado referido anteriormente
Al Buel, autor que não foi possível identificar
Tem telhado que encima casa e janelas. Árvore frondosa com troncos imponentes, alpino o pinheiro, cogumelos comuns em ilustrações nas histórias de encantar. Chaminé, fumo e sol. Folhas de hera, ícones/lembranças da casa beirã. Tela ingénua solicitada como presente de Natal. A janela maior retrata faces amadas, as outras, sem tabuinhas, protegidas por linhos puros terminados em rendas de algodão que dedos familiares e queridos engendraram. Destes pormenores a tela não conta, apenas lembra. Assinatura e ano estão lá; omisso o dia em que pincel elaborou registos.
A tela não surgiu por economia compatível com os tempos de mudança e poupança. Presentes existem que retratam amor de família, ternura a rodos como é privilégio dum clã enlaçado por finas sedas e cambraias. Harmónico. Para o adquirido a disponibilidade existe sem constituir o mais desejado. Fim-de-semana eufórico e feliz, porque dedos comandados pelo coração fizeram obra/herança e não esqueceu quem dele foi a protagonista rodeada por plateia ausente de rostos amados. E o Natal começa assim. E os afectos ganham território aos consumos triviais.
No cavalete secam óleos. Semana e meia, pouco mais, devem resistir ao toque, ao ver para crer. O segredo permanece até à descida dos 'Pais Natal'. Até ao regresso da Missa do Galo. Até ser impossível conter demonstrações desejadas pelos amores.
CAFÉ DA MANHÃ
Sorayama
Gesto comum que a fisiologia determina: recorrer à casa de banho mais próxima quando fora do bem-bom doméstico. Um sorriso, um pedido ao funcionário de balcão da cafetaria no jardim percorrido e fica solucionado o problema. Ao despacho, somada a graça decorativa do interior e do símbolo à entrada. A cadeira e a girafa mereceram registo. Tão fácil aqui e em boa parte dos países! Porém, aproximadamente 40% da população mundial desconhece o benefício do saneamento básico e abastecimento de água. Número impressivo: 2,6, milhões vivem nestas condições, predominantemente em zonas rurais. Esmiuçando o total, 7 em cada 10 pessoas não usufruem de saneamento e 8 em cada 10 não têm acesso a fontes de água potável.
Defecar a céu aberto continua a ser prática comum no Sul da Ásia por 44% dos habitantes - na Índia, em qualquer lugar, é usual humano de cócoras enquanto fala por via de telemóvel sofisticado. Consequências: contaminação da água, doenças infantis que matam, anualmente, milhão e meio de crianças até aos cinco anos. As mulheres pertencem ao grupo mais vulnerável ou não recaísse sobre elas a tarefa de carregar água para consumo familiar. Por outro lado, necessitando cada pessoa para uma vida digna de mínimo de 40 l de água por cada vinte e quatro horas, convém repensar cada pequeno gesto/desperdício deste tesouro escasso. Li: _ “A Onu alertou que a água e o seu controle foram e serão motivo de crises e de guerras em tempos próximos. Enquanto a humanidade, o superpovoamento e a indústria requerem, cada vez mais, uma maior demanda desse elemento, temos, de outro lado, uma diminuição de água potável, o que provocaria nos países mais ricos, à vontade de dominar as fontes de água potável até pela conquista armada.”
A UNICEF, a OMS, desta a agência que desenvolve o projecto Make it Possible desenvolvem a Campanha Objectivo 2015. Pretende inspirar cidadãos e organizações para o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). São oito: pobreza e fome, ensino primário universal, igualdade de género, mortalidade infantil, saúde materna, doenças graves, sustentabilidade ambiental, parceria global. Em Portugal a motivação está em curso, particularmente entre os jovens.
O Dia Mundial de Cócoras a que, este ano, não aderimos, recomenda que, a hora determinada, as gentes circulando nas ruas se agachem e pelo simbolismo do acto lembrem problema de milhões.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros