Bruce Bomberger (1918 – 1980)
Um ministro Português recebeu, em Lisboa, um ministro Angolano. Simpático, o ministro português convidou o outro a ir lá a casa. O ministro angolano foi e ficou espantado com a bela vivenda. Em bairro chiquérrimo e com piscina. Com a informalidade dos luandenses fez perguntas. _ " Com um ordenado que não chega a três mil euros limpos, como é que o meu amigo conseguiu tudo isto? Não me diga que era rico antes de ir para o Governo?" O ministro português sorriu, disse que não, antes não era rico. E em jeito de quem quer dar explicações, convidou o outro a ir até à janela. _ " Está a ver aquela autoestrada?" _ " Sim", respondeu o angolano. _ " Pois ela foi adjudicada por 100 milhões. Mas, na verdade, só custou 90 milhões" - disse o português, piscando o olho.
Semanas depois, o ministro português foi de viagem a Luanda. O angolano quis retribuir a simpatia e convidou-o a ir lá a casa. Era um palácio, com varandas viradas para o pôr-do-Sol no Mussulo, jardins japoneses e piscinas em cascata. O português nem queria acreditar, gaguejou perguntas sobre como era possível um homem público ter uma mansão daquelas. O angolano levou-o à janela. _ " Está a ver aquela autoestrada?" _ " Não!" _ " Nem eu..." |
CAFÉ DA MANHÃ
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Almada Negreiros - Gare Marítima da Rocha Conde de Óbidos
Portugal, a ter alcunha no povoado europeu, seria «Geme-Para-Rir». Lugar pequeno, aninhado entre o muro Espanhol e o Oceânico, habitado pelos «gemepararrirense»s, gente de sólida fé na lamúria como amparo e fonte de riso. Povo desconfiado, bonzinho, caritativo, pródigo em «peninhas» - de quem teve a casa assaltada, foi atropelado, é desgraçadinho, se impõe pelo maior currículo de doenças, pouca sorte ou fraca figura. Enfim, alimenta a auto-estima não dos méritos próprios mas dos duvidosos ganhos em comparações menores. E fica satisfeitinho. Quiçá, arriscando risota. Mais sonora se meter marido cornudo, esparrela a incautos, vigarices aos «grandes» atavicamente enchendo os bolsos, as contas suíças ou off-shores à custa dos «pequenos» - vulgo, povão, zé povinho, maralhal.
Em «Geme-Para-Rir» é frágil o arrimo ao trabalho - se aquele nada faz, o mesmo farei que não sou menos do que ele! O objetivo de vida é enriquecer à custa da sorte - mortos os tios da América perdeu-se a fé nas heranças. Maior temor é a doença, seguido da desconsideração pelos vizinhos - pior do que ladrão é ser um zé-ninguém sem pelos bens encher o olho aos demais. Tempos houve em que muitos saltaram o muro Espanhol ou o Oceânico. Do nunca visto traziam notícia. Alguns lá ficaram, engolidos pelo monstro chamado fado; outros trouxeram casa e automóvel,tudo sofrido, diziam, mas aquilo, sim!, é mundo. Os «gemepararrirenses» creem a lamúria e a cunha como indissociáveis do sucesso - ter mais que o preciso sem muito laborar. Julgam pouco atinado rir à solta, não vá quem manda pensar fáceis os dias da arraia miúda.
O riso constitui uma espécie de reserva semelhante à do ouro nacional. É usado com parcimónia, mas, sendo preciso impressionar o mundo, os «gemepararrirenses» são foliões, originais, «levados-da-breca», vaidosos e pulam para a rua de bandeira na mão. (Des)Assestado o óculo internacional, voltam à pelintrice sorumbática. No museu de «Geme-Para-Rir», estão guardados bens preciosos: os direitos adquiridos. O povo vigia e assanha-se e grita se cuidar deles os pretenderem apartar. Mesmo saindo pela porta do museu mortíferos tentáculos que a presente e difícil vida tentam esganar.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros