João Manta
Era esperada. Mas, como em qualquer espera, um lastro de inquietude perpassava nos espíritos. Tinha o nome que soe nestas ocasiões: medo. As janelas do ser postas no Tribunal Constitucional, no fumo branco ou negro que, ontem, sairia da chaminé deste órgão sobre a convergência de pensões entre o setor público e privado. Sendo branco como foi, a salvo pensionistas do regime público. Sendo negro, menos impostos para todos os portugueses que mal respiram neste horizonte fiscal já de si asfixiante.
Aos olhos do vulgo, que viesse o Diabo e escolhesse. Para os pensionistas, a necessidade do chumbo constitucional. De facto, acederam a serem esmifrados toda a vida de parte importante do salário com o objetivo de velhice digna. Tomaram decisões de acordo com o princípio estabelecido. Fundamento: confiança nessa entidade enevoada chamada Estado. Até aqui, de pouco lhes valeu pelos sucessivos cortes nas pensões de reforma. À injustiça que mês após mês os vitimava, acresceu mudança na realidade social dum povo que já não obedece à maledicência da definição que dele era feita: “não se governa nem se deixa governar”. A não esquecer que o descalabro das finanças nas últimas décadas, agravada em anos recentes, conduziu a esta profunda crise doméstica, aumentou o desemprego, tornou difícil a inserção dos jovens no mercado de trabalho. Neste contexto, muito idosos abrigam e alimentam filhos sem trabalho e, por isso, obrigados a desfazerem-se das habitações, auxiliam na subsistência dos netos. Seja então configurado o amanhã destas famílias com o diploma do governo aprovado – “corte de dez por cento nas pensões de reforma, aposentação e invalidez e pensões de sobrevivência da Função Pública acima dos 600 euros.”
O Tribunal Constitucional ao reprovar unanimemente o diploma do regime, ao argumentar com a «violação do princípio da proteção de confiança» decorrente do Estado de Direito, forneceu esperança aos portugueses. Por terra, a ideia do Presidente da República, Cavaco Silva, deste corte proposto ser apenas «imposto especial». Escandaloso modo de lidar com o problema.
CAFÉ DA MANHÃ
Katherine Doyle
Empurrar para a rua este povo adormecido – objectivo do "Protesto Geração à Rasca". E o povo desabituado de em conjunto, sem patronos sindicais ou políticos, contestar o feito e reclamar gestão eficaz do país para salvaguarda dos direitos de todos, tem hoje a possibilidade de iniciar viragem na história portuguesa. Curiosamente, ou não porque ser jovem obriga a ideais e sonhos a cumprir, é a geração Rasca que, anos passados do rótulo, toma nas mãos ligadas a teclas a responsabilidade de acordar portugueses de todas as faixas etárias da letargia que os tem embalado. Salvé!
Do ser jovem, tempo não muito atrasado, fazia parte “Nuclear? Não, obrigado!” Progredindo a ciência e as vontades, o papão radioactivo controlado(?) pelo homem largou parte do sentido – as carências energéticas devidas ao consumo desenfreado dos combustíveis fósseis, os respectivos custos e a degradação ambiental conduziram ao “Nuclear? Talvez!”
A tragédia sísmica no Japão lembra que a produção de energia com origem radioactiva tem perigos ainda não passíveis de serem eliminados no actual estado dos conhecimentos. Parte dos muros e do tecto da central que explodiu e a cujo tempo de vida útil faltava uma década, conduziu a evacuação num raio de segurança de 10km. Mas ao nuclear haverá alternativa, sendo incipientes as formas de generalizar energias obtidas por outras vias? Ensinamentos outros o mundo teve: técnicas de construção apuradas que resistem às tremuras febris da Terra, abrigos protectores disseminados nas cidades, pedagogia efectiva das atitudes quando o chão é corda bamba.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros