Peregrine Heathcote Autor não identificado Célia Ribeiro
Lembrei-me dela. Mulher linda. Portuguesa. Natural de Vila Franca de Xira. Quando ouvi mencioná-la pela vez primeira, contava trinta e dois anos. Não desmentia a antiga perfeição física justamente atribuída às hospedeiras de bordo que a multiplicação «pipoqueira» das companhias aéreas por ora nega - bonit(inh)as, sim, mas algumas semelhantes a chewing gum mastigado.
Meia dúzia de anos no Dubai ao serviço do Projecto Dhaka criado em 2005. Objetivo: Interromper o nó da pobreza atávica no Bangladesh encontrando trabalho para os pais das crianças de rua, enquanto as protege. Modo único de cortar o laço infeliz. Em 2009, foi considerada “Mulher do Ano” pela revista “Mulher dos Emirados” (Emirates Woman). Anteriormente, 2007, havia sido distinguida com o prémio “European Union Woman’s Inventors and Innovators Network”.
Os acasos são casos da vida. Possíveis futuros. Maria do Céu permaneceu, em escala, 24 horas em Dhaka. Confrontou-a realidade que sabia das notícias, alterada pela experiência. No hotel, indagou o que havia para conhecer. Por resposta:
_ Nada. Só orfanatos.
Quis saber do mundo sem tapetes e luxos. Visitou o orfanato da Mãe Teresa. Num hospital, conheceu adolescente de dezasseis anos, mãe de gémeos, rodeada de inúmeros doentes em macas ou no chão. Companhia suplente: cães e gatos. Higiene nula. Ofereceu-se como voluntária. Rejeitada – pois se os hospitais estavam limpos e nada fugia ao normal, para quê admiti-la? Não desistiu. Engendrou modo de formar e acolher meninos na rua «vendilhando» o possível. Seis meses passados, o namorado cansou-se. Ela persistiu.
Em 2010, compatibilizava "assistente de ar" com trabalho árduo na iniciativa solidária que fundou. Colegas contribuíam. Roupas, brinquedos – têm filhos -, amostras de gel, champôs, papel higiénico, os últimos subtraídos nos hotéis de pernoita, eram aproveitados.
O “Projecto Dhaka”, iniciado com 39 crianças numa casa alugada, pouco tempo após, dava casa, comida, roupa e educação a 600 meninos(as) cujo voar assistia. Tem creche, escola infantil, primária e secundária, centro dentário. No Catalyst, agregou cerca de sessenta pais. Os filhos ensinavam-lhes inglês. Depois, a busca de empregos. Conseguiu. Pais remunerados por trabalho digno permitem que os “meus meninos” possam ter escolaridade até aos 18 anos e formação posterior.
Há três anos, Maria do Céu da Conceição sonhava abrir orfanato no Brasil para crianças das favelas. Hoje, ignoro-lhe o rumo. O da instituição pode ser encontrado aqui. Aconselho a visita.
CAFÉ DA MANHÃ
Guan Jezu
Mencionaste viagem ao Dubai. Não pelo neo-riquismo parolo ou falso exotismo. Queres sempre ir além: contradições sociais e culturais com o envolvente ou a fantasia.
Lembrei-me dela. Mulher linda. Portuguesa. Trinta e dois anos. Não desmente a antiga perfeição física atribuída às hospedeiras de bordo que a multiplicação «pipoqueira» das companhias aéreas desmentiu. Hoje, bonit(inh)as sim, mas, como diz o Pirata-Vermelho de algumas pinturas aqui expostas, semelhantes a chewing gum mastigado.
Meia dúzia de anos no Dubai ao serviço do Projecto Dhaka criado em 2005. Objectivo: Interromper o nó da pobreza atávica no Bangladesh encontrando trabalho para os pais das crianças de rua, enquanto as protege. Modo único de cortar o laço. Foi considerada “Mulher do Ano” pela revista “Mulher dos Emirados” (Emirates Woman).
Os acasos são casos da vida. Possíveis futuros. Maria do Céu permaneceu, em escala, 24 horas em Dhaka. Confrontou-a realidade que sabia das notícias, alterada pela experiência. No hotel, indagou o que havia para conhecer. Por resposta:
_ Nada. Só orfanatos.
Quis saber do mundo sem tapetes e luxos. Visitou o orfanato da Mãe Teresa. Num hospital, conheceu adolescente de dezasseis anos, mãe de gémeos, rodeada de inúmeros doentes em macas ou no chão. Companhia suplente: cães e gatos. Higiene nula. Ofereceu-se como voluntária. Rejeitada – pois se os hospitais estavam limpos e nada fugia ao normal, para quê admiti-la? Não desistiu. Engendrou modo de formar e acolher meninos na rua «vendilhando» o possível. Seis meses passados, o namorado cansou-se. Ela persistiu.
Compatibiliza "assistente de ar" com humanidade gratuita. Colegas contribuíram e contribuem. Roupas, brinquedos – têm filhos -, amostras de gel, shampôs, papel higiénico subtraídos nos hotéis onde pernoitam são aproveitados.
O Projecto Dhaka, iniciado com 39 crianças numa casa alugada, hoje, dá casa, comida, roupa e educação a 600 meninos(as) a cujo voar assiste. Tem creche, escola infantil, primária e secundária, centro dentário. No Catalyst, agregou cerca de sessenta pais. Os filhos ensinam-lhes inglês. Depois, solicita empregos. Consegue. Pais remunerados por trabalho digno permitem que os “meus meninos” possam ter escolaridade até aos 18 anos e formação posterior.
Maria do Céu da Conceição sonha abrir orfanato no Brasil para crianças das favelas.
Agora, tu:
_ Diz quando. Faz a reserva. Bilhete de ida para mim. Volta sem calendário – quero testemunhar o (im)possível.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros