Maggie Taylor
Neste dia a Todos os Santos dedicado, informa a rádio que 5% dos funerais são pagos a crédito. Notícia de ontem, Dia Mundial da Poupança, lembrava que por cada centena de euros recebidos os portugueses põem de lado onze. Desde o início deste século que tal não acontecia.
Esperança de pelo cúmulo de dinheiro aforrado prevenirem os estragos económicos anunciados para o ano de 2013? Quase certo. Feliz ideia de adiantarem furos no cinto enquanto, com sacrifícios aumentados, é possível. Duvido que deste modo evitem a sangria dos dinheiros que um funeral acarreta. E há o sabido da morte surgir sem a delicadeza de aviso. E há a incerteza dos defuntos terem bilhete de ida redentora direta ao paraíso onde anjos soprem trombetas por novo santo chegado. E há a certeza dos vivos pagarem fatura untada. A prestações, às tantas. Pela alongada divisão mensal, já as coroas floridas esmaeceram, a cera das velas esgotou a chama, o esquife degradou-se.
Ainda assim, o pagante satisfará o compromisso pela morte do familiar cujo saldo bancário não chegou para descida à terra conforme os usos.
CAFÉ DA MANHÃ
Para suavizar:
Bo Bartlett
Passados e actuais ministros das Finanças e Economia poupam. Investem em PPRs, Fundos de Capitalização, Certificados de Aforro, depósitos a prazo com risco baixo, acções. Porque obrigados a declarar os bens auferidos e o destino que lhes dão, forram espiolhadas as respectivas preferências ao invistirem o aforrado. Pelo visto, jogam seguro. Recusam apressadas multiplicações dos ganhos. Manuela Ferreira Leite apenas relata modesta quantia empregue na bolsa. Dos mui ricos pouco é sabido. Nem convém, não se alevantasse escândalo popular.
Hoje, Dia Mundial da Poupança, vem à lembrança anúncio que voga nas ondas da rádio; recomenda economizar cinco vezes mais do que as despesas mensais. Voz infantil adoça a pílula ouvida por aqueles cujo salário mal chega à primeira quinzena de cada mês, salvo se eliminadas despesas essenciais. Supérfluos nem pensados, quanto mais realidades!
Hábitos civilizados impõem bem alimentar e educar as crianças. Custa olhar os preços dos legumes, pescado, fruta, carne, leite, pão, livros, teatro, cinema, concertos, ainda que bem semeados nos trinta dias do mês e nos doze meses do ano. Depois, os infantes têm o péssimo hábito de crescer. Longe a despesa com fraldas, calçado e vestuário depressa encurtam. Fazem fila no trânsito para o irmão mais novo ou primos ou amigos.
A poupança que o Estado Novo reclamava santa, coadunava-se a tempos outros da concepção de educar sensatamente. O mundo girou, a estruturada pedagogia familiar com ele. Deliberadamente omitido o cancro de numerosas sociedades: «satisfaz hoje, pensa amanhã». A realidade económica da maioria dos portugueses é dura. Por isso árdua de roer. Obriga a dentes cerrados e a reciclar (des)ilusões.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros