Oleg Shuplyak – hidden images paintings, Vincent van Gogh - Self-portrait, Vincent van Gogh - Sorrowing Old Man ('At Eternity's Gate'), Kröller-Müller Museum
Coincidiram no «espera-elevador». Senhor alto, cabelo ralo, airosamente penteado, vestido com brio, coluna ligeiramente obliquada, rosto sulcado por rugas próprias dos oitenta e alguns que conjecturou. Tresandava a tabaco. Para entreter a espera e após o ‘boa tarde’, ela tomou a iniciativa de frase curta que ao utente demonstrasse atenção.
_ Fuma. Eu também. Não devíamos.
_ Sem infrações não interessa viver.
_ Concordo. Marco qual?
_ Para qual dos quartos vai?
_ Para o de um familiar (porque estranha a pergunta, a mulher omitiu o destino).
À cautela, obliterava o ótico do elevador. De nada valeu. Tentou abraçar e beijá-la. Vendo-a fugidia como enguia, ele teve tempo, antes da escapadela por ela já congeminada, de dizer:
_ O meu quarto é o **. Visite-me. Regressa amanhã?
Nem respondeu. Marcou o zero – o destino era o 1 – e, subido o lance de escadas preciso, estupefacta, ria.
Demorou o necessário. Ao descer, lá estava ele.
_ Vai já? Estou no **. Até amanhã, então. Espero-a.
_ Bom jantar!
A história é picaresca, mas contém substância que vai muito além do precipitado/pejorativo «balhelhas». Alguém configura mulher com idade próxima deste homem atuar assim com visitante anónimo do clube de idosos onde permanece? Como lidam os avançados na idade, sós, com a libido e sexualidade? Configuro ser mais difícil no masculino do que no feminino – a formatação social impõe atitudes resignadas às mulheres que exclui os homens.
Tal como existem técnicas especializadas em múltiplas áreas, cabeleireiros, manicuras, pedicuras, atividades culturais e terapêuticas, esquivança ao problema não é solução. «Banco» de ‘belles de jour’ e de ‘beaux de jour’ suavizados mas competentes em conversas paliativas nas situações de teor análogo (senilidade, doença mental outra?) é escândalo intolerável?
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros