Don Segmiller
O tempo da inocência. Da ingenuidade. Da descoberta. Dos porquês. Da inconsciência do amanhã. Dourar os idos da infância é atitude comum. Fazer deles refúgio de colo, sonho e aconchego, antecipando que ao crescer não são fáceis de encontrar. Haja sabedoria para os reconhecer e preservar.
A perda da inocência, surripiada pela malícia, crueldade ou mesquinhez, outrossim pelo ato de crescer, antecedia a que no futuro se adivinhava. Tempo com difuso final. Sem que da data ficasse registo assinalado no individual calendário interior. Ao contrário da seguinte, não raro ansiada, perda do crescimento: a virgindade.
E chegávamos frágeis ao momento esperado. Assumindo tremores ou simulando saber consolidado no momento da virgindade cair. Pouco mais havendo que misto de curiosidade e temor. Nos saberes adquiridos, clandestinamente, à boca pequena, ou em desajeitados ensaios, havia a certeza da inevitabilidade. Romper o hímen era romper a última barreira mental que entravava o caminho da mudança pessoal.
Com os cataclismos, deceções e vulnerabilidades que as sociedades enfrentam, é tempo de despedida. Deixar cair a virgindade social como caiu a da inocência. Depois, crescer.
CAFÉ DA MANHÃ
Shichinohe Masaru, Stacey Neumiller, Don Seegmiller
Iniciei a demanda por cá. Vacas sorridentes, inspirações por favor da Senhora de Fátima, pesadelos com coelhos roedores são males menores. Terminei no cherne e seu cardume - enfiados nas goelas têm iscos ao penduro de canas sabiamente nubladas.
Se bem esgravatada a crítica situação portuguesa e europeia, o que mais me enfurece é, entre tantos culpados passados e atuais, não existir mandante palpável a quem aplicar com entusiasmo sonoro par de estalos.
Nota: publicado no “Escrever é Triste”.
CAFÉ DA MANHÃ
Don Seegmiller
Todas as casas têm história e estórias para sussurrar a quem as saiba ouvir. Escorrem entre o tijolo e o estuque, alagam o chão pisado, cirandado, dançado por pés nus em dias de lua cheia. Porque os há _ são aqueles em que a noite de prata não se esvai com a madrugada. Em que o sol aparecido não encandeia o íntimo lunar. Em que preguiça na cama corpo húmido do ido e pelo haver. E a casa vigia. Sem sono. Nem surda, nem muda. Dedos invisíveis tacteiam os espíritos que a vivem. Recolhidos se suspeitos.
Um dia, desbocam intimidades. Soltam gemidos e ais e suspiros se o presente não condiz com ausências. Mesmo estreada por quem nela ainda é, a casa não se conforma. Lembra risos e o arranhar dos móveis ao entrarem. O caos encaixotado. Ao monte. A glória de se sentir prenha de vida quando saídos cartões e penduradas etaminas. Quando os livros e as fotografias e as telas respiraram o lugar. Quando entrou a primeira braçada de goivos e o aroma trouxe Maio mais o amor antigo, novo ali. E sabe da espera envolta em cetim cereja. Da pele macia arrebatada de sentir e perfume proibidos. Das janelas gargalhando deleite voado para a rua. Deserta e em construção. Como ela ao rendilhar liberdade nova.
E a casa das estórias conta parte da história da mulher. Tão livre. Tão outra no mesmo rosto. Tão igual se verte prazer.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros