Mihai Criste – The Last Paradox Mihai Criste - In Memory Of Rain
Obesa. Gordura sobrando das calças e da T-shirt justa. Por cima, polar e capuz enfiado até meio da testa num começo de manhã primaveril, chuvosa, fria a lembrar Inverno teimoso na despedida. Ténis. Tudo rosa fúcsia. Isolada no canto murado de um jardim, lia revisteca: “Cuore”. Rosa como a «farda» juvenil. Dezasseis anos, não mais. Longe doutros adolescentes em bando ou repartidos em grupos. Nem ela os via nem eles a olhavam com a cobiça incipiente que as hormonas em alta ou a mera curiosidade pela diferença suscitam.
No interlúdio do café, a repetência da garota, mulher futura. Só. Como encosto, ainda a parede, ainda o capuz cobrindo testa e cabelo. Indiferente e sita na margem da indiferença de rapazes que podiam ser namorados e não eram. O corpo anafado desobedecia aos padrões rígidos e comuns numa sociedade normalizada que cobiça nas prateleiras do super ou do hiper maçãs com brilho químico, tamanho semelhante, sabor a cortiça vinda do frio/conserva. Causas e efeito. Consequentes.
Desprezada, a mancha larga/pessoa ignorava o redor. Cegueira deliberada. Eriçada a proteção do «eu». Nos cantos, procurava refúgio. E sofria com a “Cuore” aberta que a vergastava com imagens estilizadas. Cruéis. Talvez ilusões nas gotas de chuva que recebia no rosto como promessas de um amanhã sem capuz. Outono antecipado na Primavera da vida.
CAFÉ DA MANHÃ
Autores que não foi possível identificar
Impressiona, desde os primeiros passos nas várias salas que expõem “Consumo Feliz”, a qualidade da pintura que serviria para matrizes de campanhas publicitárias britânicas. Adquirido por Joe Berardo o acervo da notável firma James Haworth & Company do Reino Unido cuja atividade teve início por volta de 1900 e continuada até cerca de 1980. Visão europeia da caminhada publicitária e do marketing decisiva para o entendimento do design gráfico contemporâneo.
Porque da evolução na área da publicidade na Europa pouco sabia, o meu interesse tem sido orientado para o feito nos Estados Unidos em semelhante intervalo de tempo, experimentei a surpresa do conservadorismo britânico no papel da mulher na sociedade e, por decorrência, na área tratada. Enquanto nos Estados Unidos, é patente a evolução feminina ao passar de objeto sedutor e alvo de sedução, de, pela fragilidade, pertencer-lhe o destino de ser protegido até protagonista na 2ª Guerra Mundial e no pós-guerra, no Reino Unido é ignorada a alteração do estatuto feminino. Ressalvo aqui porque bem patente na mostra, a importância da mulher na substituição do carvão e do petróleo como fontes energéticas pela eletricidade.
Na “Consumo Feliz” é omitido que estando os homens ausentes na guerra são substituídos na educação dos filhos, no mercado de trabalho pelas mulheres, as grandes decisoras nas opções familiares relativas à aquisição de bens que extravasam os simples consumos domésticos. Nos Estados Unidos, por esse tempo, as campanhas publicitárias relativas a automóveis são exemplo, ainda que as tabaqueiras promovam a mulher tentada e o homem tentador. Tomem-se como exemplos as campanhas da Philip Morris e de outras marcas. No caso da Philip Morris, a exposição contém o retrato pintado à mão do belo protagonista presente nas várias campanhas da marca (luz a mais ou a menos não me permitiram fotografia nítida). Finalmente, julgava, após inúmeras pesquisas, saberia qual o autor do retrato do personagem. Desilusão: “untitled” informava o guião da sala.
Feliz também a exibição de algumas páginas de figurinos de moda Art Nouveau, bem como divas de Hollywood - Katherine Hepburn, Elizabeth Taylor, Rita Hayworth, Grace Kelly, Gene Tierney, (...)
CAFÉ DA MANHÃ
Bjorn Richter
Não aceitando que do caos tenha surgido este Universo organizado, renovo a cada noite o assombro pela certeza do tempo que a Terra demora no rodar à volta dela e da estrela maior. Experimento a doçura de ter calhado esta forma de vida ao meu planeta. De não terem calhado em Saturno as noites dos meus dias. Vinte e nove anos terrestres para descrever uma órbita seria tempo demais para quem aprecia recomeços. E a lonjura? E o frio pela gigante distância ao Sol? Por isso me quero na Terra que amo e concede ciclos adequados à parte do meu ser que não se vê.
Quando a inclinação do eixo encurta os dias e faz maiores as noites, é tempo da rodilha do meu corpo aconchegado no sofá. Do livro no colo, da música sussurrada, do rosto lavado, das calças de algodão que o laço do atilho prende à cintura. De me erguer e, encostada à vidraça, desenhar caminhos das pérolas líquidas que as nuvens deixaram cair. São as noites aveludadas pelas sabrinas brandas que confortam os pés, da pressentida chuva, do frescor na rua. E a languidez distende a pele e os músculos. O espírito regressa ao tempo dos sonhos acordados que o apaziguam. Manso, chega o sono. Mansa, arrumo a noite sabendo que o giro da Terra outras renovará.
CAFÉ DA MANHÃ
Homenagem a divas intemporais - Rita Hayworth, Doris Day.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros