Dorothea Tanning - Eine Kleine Nachtmusik
Mulher dava à luz. Para suavizar gritos de dor, não deixassem más lembranças momento com vida nova possível, soava, alta, música no casarão. Estendia tentáculos nos quatro movimentos: marcha delicada, a lírica romança, minueto, o ‘rodo’ em que violino conduzia a dança do acontecido e por acontecer.
Não faltaram cautelas para as filhas pequenas – enviadas para a sala dos brinquedos. Ainda melhor para o jardim. Entre sussurros, perceberam a chegada do momento ansiado. Não por elas, o quadrilátero era perfeito assim, mas pela mudança (im)prevista na família envolvente. Temiam a vida nova, a mudança nos vértices, a arrogância da música.
Combinadas, deslizaram para o corredor das múltiplas portas. A música com elas.
Mais forte.
Enlaçava-as.
Tolhia-lhes o andar.
Ao fundo, entreaberta, a porta do segredo.
Emanava amarelo.
Esperança ou medo?
Como a música que largava pétalas e crescia braços da cor dos receios que às irmãs enredavam? À mais nova eriçando e cobrindo de cinza os cabelos?
Foi grito diferente que anunciou o nascer. A música amarela baixou o tom até se diluir na alma do casarão.
Nota: texto publicado, agora, aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros