Teresa C., Blair
Tarde de Inverno. Após a poda, vides secas em molhos num anexo do jardim. Chuva e neve caíam vez, à vez. Por isso, o chão apenas branqueava curto tempo sem que arbustos, buxo, videiras, árvores retivessem alvura. Dentro, na lareira, ardiam troncos de pinho e castanheiro cortados no Vale D. Pedro durante Setembro. Como soía, desde o Verão, nos passeios e merendas na propriedade, munida de seira larga enchia-a com pinhas que, com os galhos secos ajuntados, por Dezembro fossem começo das chamas, depois, brasido aquecendo parte do casarão.
Nariz encostado à porta janela que dava para o jardim, olhei com pena as vides que o Sr. Mário dele cuidador, em breve, removeria para lugar incerto. Na conversa íntima que fluía com o pai ali bem cerca da fonte de calor - pelo dinamismo, recusava, então, a doença que o consumia – , verbalizei o pensado:
_ Algumas daquelas vides, as mais finas, tornadas em aro, poderiam ser base duma coroa de Natal.
O diálogo continuou na saleta entre pai e filha como sempre acontecia se a fortuna permitia estarem sós. Conversa sem parança, tantas eram as intimidades a partilhar. Elo forte a uni-los, aceso, sem necessidade doutro alimento que o amor mútuo e ‘aquele não sei quê’ mais intenso do que com outros amores familiares. Talvez por serem tão parecidos física e emocionalmente. Talvez pela tolerância mantida desde que a filha era catraia. Talvez, devido à profissão, pelos anos de afastamento obrigatório que o arrastava para longes e moíam saudades.
Porque havia afazeres, saí. À hora do jantar, o pai surgiu com a coroa de vides enformada por ráfia. Ri e beijei-o, qual criança encantada por brinquedo novo.
Desde que partiu, arrastam-se em luto seis anos prestes a completarem-se. Quando, há dias, ouvi gabar a coroa dependurada à porta, a mulher que apenas chora por injustiças ou mágoas profundas sentiu lágrimas correrem.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros