Duma - Think About It Duma - The Green Stone
São tentadoras. Dizendo respeito aos outros, especulamos com facilidade sobre atitudes e intenções. Não raro, os vemos como se foram terreno em pousio à espera da nossa sementeira de grãos feitos de causas adivinhadas do neles visto ou ouvido. Arrogamo-nos esse direito sejam familiares, amigos, conhecidos ou figuras públicas as vítimas. Em contrapartida, ai de quem tente o mesmo connosco. Consideramo-nos, de modo geral, acima de análises críticas dos comportamentos tidos. Talvez por arrogância, mais ainda pelo défice de auto análise. E se devia ser hábito regular pensarmo-nos com humildade, identificarmos as próprias fragilidades e forças para um autoconhecimento a permitir evolução! Mas não. Cristalizamos imperfeições por comodidade, parando no tempo em que fomos e naquele em que somos. Depois, os outros que paguem a fatura pela preferência em julgá-los do que passarmo-nos metodicamente em revista segundo o mapa desenhado pela psique individual.
Desde tenra idade, fui iniciada na avaliação criteriosa do meu ser. Rebelei-me. Render-me-ia, mais tarde, ao procedimento. O amadurecer pelos gostos e desgostos foi razão. Obrigada, portanto. Dolorosa a tarefa. Avançada no caminho, preferi entender os outros com o sentimento da impossibilidade de os esgotar. Posso sentir com eles. Não posso sentir por eles. Bani adivinhações. O ato de especular. Consequência: tornei-me híper sensível à pressa dos julgamentos alheios. Agora, protejo-me desse vício exterior a quem sou. Ou penso ser. Porque ainda que treinado criticamente o reflexo do espelho em que me revejo, sei-o enganoso. Pronto à brincadeira. Continuo a não o evitar. Mas sei o logro em que me afundo se o creio inocente. Fazendo-o, afundaria comigo a relação com os outros indispensável à minha vida em sociedade. Pensar egoísta. Ainda assim, preferível à injustiça das adivinhações sobre quem me rodeia ou dela sei o existir.
CAFÉ DA MANHÃ
Duma
Na cidade encostada à montanha, dia de mercar é a quinta-feira. Madruga quem o melhor, sem delongas, entende por bem levar para casa no carrinho ou na seira legumes, carne, peixe, fruta, queijos de ovelha honestos e flores. Tudo fresquíssimo seja a origem local ou noutro lugar. Compradores animam a baixa da cidade, transbordam cafés e esplanadas, lucram os lojistas. A “Feira dos Trapos” é coisa outra. Com pouco, assim haja perspicácia, repletos sacos de plástico a preços de «uva mijona». Tudo na moda, pois então!, gosto suficiente no que os vendedores expõem e realçam - toalhas de mesa, jogos de cama em fino pano e turcos de quinhentos grama (costumam ir directos para exportação). Abundarem por ali significa terem sido recusados pelos importadores por defeitos ínfimos que olhsos concentrados não vislumbram, ou, hipótese pior, roubados.
Vasculhar nas montras horizontais em tosca madeira e enxameadas por caixas de cartão a transbordar de trapos variegados é prazer _ “Uma peça, três euros, se levar duas, paga quatro euros!” O pessoal mexe e remexe e dá-se o caso de encontrar peças que combinam lindamente com um vestido Prada e outras que alegram, numa cerimónia, o saia e casaco de cetim azul noite. E as gangas senhores, as gangas sem griffe, distintas pelo corte original!... Experimentam-se por cima doutras, é dado o desconto pela dupla cobertura, e assentam às maravilhas. Melhor que saldos dos big brothers comerciais, onde o exposto é todo igual como frangos do mesmo aviário.
Quem foi e volta a pé, sendo o calor de ananases abre a «sombrinha» e protege o cocuruto do Sol a pino. Solidariedade frequente pára um automóvel, abre portas, cumprimenta e dá boleia até ao destino, quantas vezes em aldeias satélites da urbe. O poviléu regressa feliz, com razão para conversas até a quinta findar _ "Encontrei o Joaquim e a Lourdes. Sabes que o pai dela está no hospital? Temos de o ir ver. Um homem tão bom e agora esta!"
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros