Duy Huynh
“Era o pinheiro mais alto aqui do bairro
o único dos quatro iniciais
o arquitecto a desenhar sem lhes tocar
e eu a gritar-lhe
livre-se nem um risco a mais
Altaneiro
parecia um farol sem faroleiro
Atrevido
deu´em rachar o muro alto do vizinho
o perigo era grande e espreitava
e eu fazendo de conta assobiava
adiando o inadiável
Era Janeiro e o meu pai partia...
(ele que também o defendia)
Então pois tem de ser
marcou-se o dia
e o meu coração atormentado
inventava ainda uma espécie de milagre por acontecer
Ao cair da noite
olhei-o e demorei o olhar
mal sabes tu que será a última vez que anunciarás o nascer do sol
Fugi antes do crime
mal embrulhada em roupa velha e quente
atravessei avenidas e ruelasnos ouvidos as máquinas e as serras
e a seiva a correr em lágrimas
voltei a custo ao fim da tarde
Fiz o luto dos DOIS adoecendo
Postura igual desassombrada
Um velho e doente, o outro não, presente
e a vida roubou-me os dois tão indiferente
como se não doesse nada
Quando os dias cresceram de novo e aqueceram
e voltei ao meu pequeno mundo
reparei que o céu era maior e mais azul
Era verdade que Deus fecha uma porta escancarando uma janela
Pois é
há um lugar dentro de nós
onde se guardam os pais os amores os pinheiros bravos
e os nossos queridos bichos
como se fosse a nossa arca de Noé
Ainda hoje o lembro com culpa e com saudade
e na cama de rede que criei onde ele estava
me deito
sonho e olhando o céu
espreito o nascer do sol como ele espreitava...”
Nota – texto escrito por Era Uma Vez
CAFÉ DA MANHÃ
Duy Huynh
Começou a "Primavera Boreal" neste Hemisfério Norte. Ninguém diria: árvores com galhos débeis e secos, flores, poucas, em botões lascivos que perdem (ganham?) por tão pequenos e ocultos. Pela altura esta, deviam ousar exuberância, apelar ao ‘olhem para mim tão pronta e despudorada!’ Mas não. Os solos encharcados, sofrem indigestão pelos lagos que substituíram terreno firme. Água a mais, seiva a menos? E apetece brincadeira. Provocar os sinais. Pensar amores, diferenças (semelhanças?) entre homens e mulheres. Depois, unidos pela mão-na-mão, pelos lábios e corpos gulosos. É sempre assim chegado o tempo oficial _ oficiosamente, qualquer o é _ de todos os arrepios.
A última machadada na conceção sociológica dos géneros em vez de sexo feminino e masculino foi dada pela neuropsiquiatra Louann Brizendine ao defender que as características femininas e masculinas estão definidas no cérebro desde o nascimento. Os rapazes nascem programados para serem homens, as raparigas para serem mulheres. A testosterona exclui as ligações nos centros de comunicação do cérebro, enquanto o estrogénio aumenta essas conexões. Além disto, as regiões do cérebro responsáveis pela linguagem e pela expressão de emoções são maiores nas mulheres. Conclui que se as mulheres são faladoras, acusação frequente nas bocas masculinas, é responsável a química hormonal. Nela, circulam substâncias que lhes providenciam ao desabafarem sensação de prazer semelhante a orgasmo.
No livro “The Female Brain”, provada a diferença entre homens e mulheres em termos de comunicação verbal: os homens usam 7 mil palavras ao dia e as mulheres usam 20 mil. As mulheres possuem autoestrada de várias faixas dedicada a processar emoções, enquanto os homens têm apenas um caminho. Também a diferença no pensar sexo é explicada pela autora: os homens têm um «aeroporto internacional», as mulheres limitam-se a um «aeródromo». Quem gosta de refletir sobre as atávicas e mútuas incompreensões entre mulheres e homens suspira de alívio - afinal, a necessidade deles dispersarem sémen e a tagarelice delas são, em vez de construção social, frutos prosaicos de reações químicas cerebrais.
CAFÉ DA MANHÃ
David Michael Bowers Duy Huynh Bing-Xiao
Inteligência e falta de esperteza soe andarem juntas. Inteligência pressupõe sentido crítico e raciocínio lógico apurado. Espertos são os burros. Burrice como capacidade para lidar ardilosamente com as sinuosidades do caminho. E lá está o burro da animada série de filmes Shrek para ilustrar o dito: canta e conversa, indiferente ao incómodo alheio. Com o enorme dente traga waffles, bolos, suflé de coco com calda de manga e tortas com canela. Disfarça a cobardia com ataques de pânico em situações de emergência. Um sabido!
No mundo, reinam os espertos. Aos inteligentes cabe a elevação do espírito. Acumulando verticalidade no estar e condição feminina, têm garantida a ruína sentimental. Figura maior do teatro português costuma dizer: “as mulheres inteligentes estão fodidas.” Confirmo. O macho lusitano puro-sangue prefere fêmeas submissas. Preferencialmente, simulando-se desprotegidas. Astuto, proclama o contrário – “que não, que mulher com miolos dá “pica” e abre o apetite.” Dará, mas sacia-o ao primeiro, quiçá segundo, desmontar racional das cordas do «violino» de cujo arco ele jamais pôs em dúvida a eficácia.
Mulher informada, que o mundo não desista de entender, de duas, uma: ou é “boa com’ó milho” e releva pelos dons curvilíneos o vício de pensar, ou da fama de “chata pra caraças” não se livra. Depois, mulher inteligente não é portátil – não vai onde tem de ir porque as convenções a obrigam, não sorri se o interlocutor é cretino, recusa doses de tédios só por darem arranjo social. Leva mais longe a desgraça: diz o que pensa, conquanto respeite o bom senso. É autónoma – dispensa suseranos e cavaleiros-andantes. Está disposta a dar tudo para tudo receber. Gosta de argumentar e ouvir se a divergência acontece. Recusa o «sim» porque é fácil – ou o misto de razão e coração lho ditam, ou ficará por dizer.
O mercado dos afetos românticos é difícil para mulher assim. Homem distraído no estar, seja paquete de serviços ou doutor, teme-a e ela não o quer. Por saber o que deseja e precisa, transigir envolve custos que porventura já pagou e não ousa repetir. E eles desdenharão como a raposa das uvas: afinal, eram verdes quando somente estavam altas.
CAFÉ DA MANHÃ
Tomando rédeas de mínimo contra poder às «gordas» dos jornais e aberturas noticiosas, matéria que eleve o imaginário e apele a valores d’antanho, recomendáveis hoje.
CAFÉ DA TARDE
Duy Huynh, pintor vietnamita, chegou aos Estados Unidos nos anos oitenta. Na sua obra, a síntese de diversos artísticos e cultural, elementos geradores de liberdade e paz. Se atingidos, nem sabemos o bem que nos faziam!
“Barca dos Sonhos” é exemplo da poesia surreal e contemporânea de Duy Huynh, bem como a quebra da descrença, de omitir o coração
e privilegiar a razão.
O pintor emoldura mundo simbólico. Cada um interpretará as telas esquecendo o título original e o próprio conteúdo. Forma de procurarmos dentro de nós o mundo privado dos sonhos. (“Prooted Housing”)
Como nos sonhos, algumas das figuras de Duy Huynh flutuam ou voam. Transportam histórias densas. O que aconteceu antes? O que acontecerá depois? (“Hall Life in Full Circle”)
Temas há que emergem na obra de Duy Huynh. O tempo é um deles.“Tardiness of the Early Bird” é prova.
Sobre o tempo escreveu Duy Huynh: “Muitos afirmam que tempo é dinheiro. O dinheiro, como qualquer outro objeto, pode ser substituído se perdido. Por outra lado, o tempo é um bem para sempre perdido se não usado com sensatez.” (“Time Flies with Strings Attached”)
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros