Quarta-feira, 23 de Julho de 2014

É GENIAL. É PORTUGUESA. E EM PAREDE MINHA?

        

Paula Rego - "O Embaixador de Jesus", 1997                                                                Paula Rego - Série "O Crime do Padre Amaro

 

“Paula Rego é uma extraordinária contadora de histórias, utilizando uma linguagem não verbal como forma de expressão. Ao invés da linguagem verbal, usa uma linguagem universal representativa do mais profundo e oculto que existe na condição humana. Com a sua arte, a pintura e desenho, a autora diz fazer justiça. Sublima o sofrimento sentido na sua infância e, mais tarde, a revolta face a questões político-sociais, transformando em arte os seus aspetos mais sofridos.

 

As pinturas de Rego são prova de uma vitalidade criadora, é uma pintura narrativa e inquietante que reconstrói o poder das imagens e ilusão, promove o espaço da fantasia, do simbólico, da narrativa, do sonho e da realidade, reencontrando-se na realidade espelhada uma forma dura, crua e primária, sendo a sua obra ilustrativa do mais genuíno, mas também assustador e fantasmático da condição humana e social, como se observa nas temáticas dos seus quadros, estes inscrevem um enredo de significantes culturais distintos, como a ordem, o poder, a autoridade, a repressão, a humilhação, obediência e subversão. É, segundo Bessa–Luís (2008), uma escrita que se aprende e cresce na solidão, um mundo artístico que inscreve o lugar do prolongamento da infância e seus medos.”

 

Excertos do texto para um futuro ensaio escrito por Alexandra Sofia Santos Silva sobre a série “O Crime do Padre Amaro” de Paula Rego e a sua relação com a obra homónima de Eça de Queirós (início do Realismo na literatura portuguesa) 

 

(...)

 

Nota - Aqui a razão da parte última do título.

 

Hoje, cumprida uma década após a partida de Carlos Paredes. Parece ter sido ontem. 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:14
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Segunda-feira, 7 de Julho de 2014

"O QUE VERDADEIRAMENTE NOS MATA"

Manuela Pinheiro - Eça de Queirós, 2000                                                                   Autor que não foi possível identificar

 

“O que verdadeiramente nos mata, o que torna esta conjuntura inquietadora, cheia de angústia, estrelada de luzes negras, quase lutuosa, é a desconfiança. O povo, simples e bom, não confia nos homens que hoje tão espetaculosamente estão meneando a púrpura de ministros; os ministros
não confiam no parlamento, apesar de o trazerem amaciado, acalentado com todas as doces cantigas de empregos, rendosas conezias, pingues sinecuras; os eleitores não confiam nos seus mandatários, porque lhes bradam em vão: «Sede honrados», e vêem-nos apesar disso adormecidos no seio ministerial; os homens da oposição não confiam uns nos outros e vão para o ataque, deitando uns aos outros, combatentes amigos, um turvo olhar de ameaça. Esta desconfiança perpétua leva à confusão e à indiferença. O estado de expectativa e de demora cansa os espíritos. Não se pressentem soluções nem resultados definitivos: grandes torneios de palavras, discussões aparatosas e sonoras; o país, vendo os mesmos homens pisarem o solo político, os mesmos ameaços de fisco, a mesma gradativa decadência. A política, sem atos, sem factos, sem resultados, é estéril e adormecedora.

Quando numa crise se protraem as discussões, as análises refletidas, as lentas cogitações, o povo não tem garantias de melhoramento nem o país esperanças de salvação. Nós não somos impacientes. Sabemos que o nosso estado financeiro não se resolve em bem da pátria no espaço de quarenta horas. Sabemos que um deficit arreigado, inoculado, que é um vício nacional, que foi criado em muitos anos, só em muitos anos será destruído.

O que nos magoa é ver que só há energia e atividade para aqueles atos que nos vão empobrecer e aniquilar; que só há repouso, moleza, sono beatífico, para aquelas medidas fecundas que podiam vir adoçar a aspereza do caminho. Trata-se de votar impostos? Todo o mundo se agita, os governos preparam relatórios longos, eruditos e de (…)

 

Eça de Queirós, in 'Distrito de Évora', 3 de março de 1867

 

Nota: texto publicado integralmente aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:26
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Quinta-feira, 21 de Março de 2013

"POIS BONS-DIAS MEUS SENHORES..."

 

Rafael Bordalo Pinheiro - O Dia de Reis e Eça de Queirós (um génio retrata outro)

 

Sobre Rafael Bordalo Pinheiro que neste dia comemoraria cento e sessenta e sete anos, escreveu Ramalho Ortigão nas "Farpas":

 

"(…) retratos muito mais vivos, muito mais parecidos com o original do que as próprias fotografias das personagens que representam, desenhou-os êle de um só jacto na pedra litográfica ou no papel autógrafo, entre a meia-noite e as cinco horas da madrugada, em pé à banca, sob a luz crua e mordente do gás, sempre à última hora, febricitante de pressa, escorrendo suor, com a testa e o nariz manchado de prêto pelas dedadas de craião, fumando àvidamente cigarretes, falando sempre, cantando, assobiando ou deitando complacentemente a língua de fora às figuras (…)"

 

Rafael Bordalo Pinheiro

 

Os desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro retratam um Zé Povinho corrosivo, sarcástico, humilhado mas digno que olha a sociedade do seu tempo como olhamos a de hoje.

 

Rafael Bordalo Pinheiro                        "Aqui tens a pele, ó tirano, e acabemos com isto. O osso cá fica, para a espadeirada [taxa] municipal."

 

"Ainda não se deram bem conta da minha existência. E sou personagem importante, o meu nome é Zé Povinho. Lá mais para o fim do século hei-de ser bem representado mas quem me vai dar vida ainda não nasceu.

O país anda às voltas. Parece que não se entendem. Isto do Rei ter fugido para o Brasil veio trazer grandes complicações. Ora uns, ora outros, todos querem o poder.

Como se não bastasse a política, juntou-se-lhe uma guerra de irmãos - D. Pedro (o Liberal) , D. Miguel (o Absolutista). E o poder vai saltando de mãos durante algum tempo até que as coisas se estabilizem.

No meio cá ando eu. Lá vou observando o que se passa. Não sou político, mas vou tirando as minhas conclusões. Não é que elas valham muito agora, mas há-de chegar um dia que todos encherão a boca com o meu nome. Aguento como posso, e quando as coisas me irritam, encho-me de força. Arreda que vai tudo em frente. Não acreditam? Pois bem, eu vos conto.

Lá por volta de 1842, estava tudo mais sereno quando um camponês, vindo da Beira, faz um golpe de direita que o leva ao poder. Não, não é o tal, este chama-se Costa Cabral e é formado em Direito e o outro será em Finanças. Só que às vezes, com homens da mesma laia, a história repete-se...

A ditadura não é do meu agrado. Em 1846 vem a proibição de enterrar os mortos nas igrejas. Mais me faz desconfiar a história dos registos de propriedades. Só me faltava agora virem mandar nas nossas terras, e ao que consta querem vendê-las aos estrangeiros. Eu rebento. Pego nas forquilhas, nas enxadas, e vou em frente. Não é o governo que se vem meter agora nos meus assuntos. A revolta é geral. Depressa se espalha pelo país. Começo lá no Norte e vou descendo por aí abaixo. Chamam-lhe Maria da Fonte. Mas eu acho que sou apenas eu - o povo. Repito: o meu nome é Zé Povinho, pois então!

Tudo se complica, depressa a revolta se transforma em guerra civil - é a Patuleia. (...)"

 

Sugiro a leitura completa aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:27
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Terça-feira, 22 de Janeiro de 2013

EUREKA, EUREKA!

Autor que não foi possível identificar

 

No “Campanha Alegre”, coletânea de folhetins, Eça de Queirós relata o estado da marinha portuguesa no final do século dezanove:

É uma marinha inválida. A D. João tem cinquenta anos, o breu cobre-lhe as cãs: o seu maior desejo seria aposentar-se como barca de banhos. A Pedro Nunes está em tal estado que, vendida, dá uma soma que o pudor nos impede de escrever. O Estado pode comprar um chapéu no Roxo com a Pedro Nunes – mas não pode pedir troco. A Mindelo tem um jeito: deita-se. No mar alto, todos os seus esforços são para se deitar. Os oficiais de marinha que embarcam neste vaso fazem disposições finais. A Mindelo é um esquife a Hélice.”

 

Isto de flutuar tem que se lhe diga. É generalizado o conhecimento do princípio de Arquimedes que afirma todos os corpos flutuarem porque em qualquer líquido, a água é o mais comum, experimentarem força com direção vertical, sentido de baixo para cima e intensidade igual ao peso dos corpos. Consequência: força resultante nula e os corpos flutuam alegremente.

 

Autor que não foi possível identificar

 

Das lendas memoráveis e a propósito, existe aquela de estar Arquimedes banhando-se em tina mais de meia de água, quando sentiu a levez do corpo e os membros inferiores erguendo-se. Cogitava no fazer entregue pelo rei de Siracusa: descobrir se a coroa real encomendada a ourives continha apenas ouro maciço. Saiu do banho, trajou-se, correu em busca dum pedaço de prata e outro de ouro com o mesmo peso da coroa – onde arranjou dinheiro para a ambiciosa experiência não consta da lenda. Sem demora, mergulhou um a um em recipiente a transbordar de água. O pedaço de prata entornava mais água, o de ouro, menos. A coroa real expulsava valor intermédio do líquido. Conclusão: de puro ouro nada tinha. Configurar a fúria do rei, não é difícil. A alegria de Arquimedes também não. Algumas versões mais arrojadas da lenda juram que Arquimedes nem se vestiu a seguir ao banho: correu nu pela cidade gritando “Eureka, eureka!”. Uma Lady Godiva por motivos outros e apeada. Se foram cerradas janelas também fica por saber.

 

Domenico Fetti

 

O mesmo Arquimedes afirmou a propósito das alavancas: “ Dêem-me um ponto de apoio e levantarei o mundo”. A verdade é que os larápios conhecem-nas bem demais: um objeto linear e rígido, ponto de apoio, o fulcro, e a alavanca acionada pela força potente faz o resto no assalto. De volta à imodéstia de Arquimedes: para erguer a Terra, além de necessitar de alavanca tão comprida quanto a distância do nosso planeta à Lua, problema divertido é especular qual o fulcro.

 

Autor que não foi possível identificar

 

Arquimedes acabou mal, como Galileu e outros que do meditar científico fizeram vida – foi morto durante a conquista de Siracusa por soldado romano desgovernado que o apanhou a desenhar diagramas matemáticos na areia. Tivesse desenhado corações entrelaçados e feridos por seta transversa, é possível que o respirar natural tivesse continuado.

 

Nota: texto publicado hoje também noutra «chaminé».

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 11:30
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