Terça-feira, 26 de Março de 2013

DE MONTEVIDEU A EDUARDO GALEANO E A JOAQUÍN TORRES GARCÍA

 

 

Joaquín Torres García

 

Ontem, publiquei  no "Escrever é Triste texto. Hoje, excertos no SPNI:

 

Eduardo Galeano foi-me referido por mulher que muito me honra com a sua amizade. Num daqueles telefonemas choramingas por desgosto familiar ou angústia pessoal, teve resposta assisada como sempre: _ “Lê Eduardo Galeano. Estás a precisar «miúda».” Estava de facto. (…)

 

(…) O percurso do Homem revela espírito inquieto, disponível para lutas políticas que lhe valeram ser proscrito pelo regime de Jorge Videla e constar o seu nome nos “esquadrões da morte”. Exila-se em Espanha e dá início à “Memória de Fogo”. Seguir-se-iam obras de maior êxito tendo como cenário a América-Latina.

 

Ler ou ouvi-lo é prazer:

_ "As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não choveu ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda doce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada.
Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
Que não são embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
(…)"

 

Joaquín Torres García

 

(…) Como nas pinturas do compatriota Joaquín Torres García representado em museus do mundo, descreve a injustiça social, pensa utopias, ouve as raízes. E não é assim que deve ser?

 

Do estimado Ruy Vasconcelos, obtive comentário sabedor.

 

(…) permita-me dis­cor­dar. Desta feita com ‘ênfase’. Mas tam­bém com argumentos.

*

Feliz­mente temos Jorge Luis Bor­ges, Gra­ci­li­ano Ramos, Gui­ma­rães Rosa, Bioy Casa­res, Gar­cía Már­quez, Julio Cor­tá­zar… e até mesmo Jorj’Amado. Temos Glau­ber Rocha ou Joa­quim Pedro, se virar­mos para a tela. E pode­mos pres­cin­dir desse escri­tor dema­gó­gico, popu­lista, órfão de uma época, que é Gale­ano. Há melho­res auto­res no bravo Uru­guay, com Mario Bene­detti. Mais gene­ro­sos, aten­tos às mudan­ças, ao cor­rer dos minu­tos. À diver­si­dade das ideias. Ver­dade, Gale­ano ainda vende livros aqui pela Amé­rica. Espe­ci­al­mente para mili­tan­tes estu­dan­tis de uma esquerda ainda um tanto sta­li­ni­zada, fos­si­li­zada. Daquele tipo de estu­dante que não quer ovo com estu­dar. Daquele tipo de esquerda do “quanto pior, melhor; para só então fazer­mos a revo­lu­ção”. A mesma “esquerda” que nunca per­doou o retorno à demo­cra­cia, por­que não tem mais um opres­sor para cha­mar de seu. A esquerda cujo modelo era, por vezes, o alba­nês. A esquerda que, se pudesse, supri­mi­ria, de fato, a demo­cra­cia nos mes­mos mol­des das dita­du­ras de direita da época de Médici, Videla ou Pino­chet. Ou aí da mar­gem de vocês, mas vindo de antes e de mais ante­ri­o­ri­dade: Franco e Salazar.

Mas, enfim, há quem goste de ler Gale­ano. Aqui, não pou­cos o vêem como uma espé­cie de fenô­meno de época. Ele fun­ci­ona como data­ção. Bem, cada um com o gosto que melhor lhe sabe. E ao tempo que lhe calha. E isso ainda é demo­cra­cia. Porém Gale­ano parece haver parado no tempo. Ou haver per­ma­ne­cido a escre­ver nos 1960. Àquela altura, ainda se viam trans­mon­ta­nos esquá­li­dos aguar­da­rem no porto de Lis­boa a chance de emi­grar para o Rio de Janeiro ou Dur­ban atrás de uma vida mais digna. Hoje, quando muito, vêm por­tu­gue­ses for­ma­dos em enge­nha­ria tra­ba­lhar na Petro­brás. Ou empre­en­de­do­res do setor da cons­tru­ção civil. Ou da área de tele­co­mu­ni­ca­ções. Ou da publi­ci­dade. O ser dono do pequeno comér­cio, da can­tina aca­nhada, da pada­ria da esquina, o ser o vigia do pré­dio ou o pequeno bis­ca­teiro ambu­lante, dissociou-se do imi­grante português.

Os tem­pos, por­tanto, são outros. Bem outros. Aí como aqui. E, embora gosto só se dis­cuta, não há de se dis­cu­tir já.”

 

Nota: vídeo de Eduardo Galeano na publicação de ontem no SPNI.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 08:18
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Segunda-feira, 25 de Março de 2013

«PETER PANS» OU HERDEIROS DE MAQUIAVEL

 

Michele Del Campo

 

Podemos viver com eles, amá-los ou despedi-los sem pompa e na justa circunstância. Podemos cair na banalidade de os julgarmos meninos que em adultos preservam o bibe e são devotos dos jogos com a bola, a consola que os consola, e, até à idade do declínio, brincarem aos comboios – “pouca terra, pouca terra, muita gente, ú ú ú...” Não lhes entendermos motivos, atitudes e reações, tomando-os por «Peter Pans» ou herdeiros do florentino Maquiavel que enrolam no genoma a “Arte da Guerra”. Porque é de guerra (…)

 

Nota: texto completo aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

À laia de autocomentário/crítica do acima escrito.

 

publicado por Maria Brojo às 08:50
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Domingo, 21 de Fevereiro de 2010

MUDAR QUEM SOMOS


Siudmak


Por isto mais aquilo, adiei regresso. Quem ia e vinha contava da pérola na “Pérola Atlântica” feita. Obra de autor: Alberto João Jardim. Soube aproveitar recursos comunitários, acrescentar riqueza à pobreza atávica em quase toda a ilha, explorar bênçãos da Mãe Natura. Diminuídas manchas de miséria que conheci. 

 

Atormentados, os céus extremaram choro. A irregularidade dos relevos e os solos cimeiros erodidos pelo pastoreio aleatório não resistiram: lamas fluidas do que fora piso sólido. Cascata tenebrosa, negra, encontrou resvalar propício pela construção, desde antanho, disseminada ao acaso nas encostas. Por casos outros e mais recentes, no Funchal. Não é hora de assestar a besta nos culpados: auxiliar quem precisa, sim. O momento de analisar o malfeito chegará e dele retirar ensinamento. Confio na volta do brilho à pérola.

 

Países distraídos de “Copenhaga”, porque submetidos a interesses económicos míopes, que olhem, vendo, a frequência das catástrofes naturais. A tragédia no Haiti, a tempestade de areia em Sidney, os incêndios que arrasaram a cidade de Mont Archer e a “Big Dry” são alguns dos muitos sinais de alarme nos quais devem atentar. Continuando partes umbiguistas a valerem mais do que o todo, pior virá. Até ao final do século, previsto aumento de três graus na temperatura. O consequente acréscimo de um a dois metros no nível do mar arrisca a vida de 42 milhões de habitantes oriundos das regiões insulares.

 

Alberto João Jardim esteve bem ao pedir contenção nas notícias publicadas. O turismo é a principal fonte de riqueza da ilha. Demasiado fácil atemorizar quem a demanda. Bem fazem os espanhóis: nunca tiveram ‘vacas loucas’, a ‘peste suína’ não passou por lá, violência só da ETA, assaltos a estrangeiros, nem um.  
 

Transcrevo: “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos"
Eduardo Galeano

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 11:00
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