Que enxaqueca sistemática não seja culpada
Fiéis devotos,
Dizem ter linhagem recuada sita em campos e florestas. Nasci em laboratório incerto rodeado de tubos de ensaio e gentes muitas em batas alvas e máscaras. Não me queixo de falta de assepsia no parto, conquanto, de tão prolongado, estivesse à beira de sufocar. Devo o nome de batismo à madrinha IUPAC* - (4S)-4-({3-[2-(dimethylamino)ethyl]-1H-indol-5-yl}methyl)-1,3-oxazolidin-2-one. Assim consta nos registos de nascimento. Tantos foram os pais e as mães candidatos a legítimos progenitores, que o estafado notário recusou todos. Declarou-me filho de pais incógnitos e foi para casa em paz. Sucederam-se inúmeras disputas pela minha paternidade que só por sorte não me esperou desamparo num balão esquecido e poeirento no orfanato dum laboratório ignoto. Tutores salvaram-me de tal fim. Por estarem em contenda com a madrinha, perita na atribuição de nomes impronunciáveis, optaram por petit-non, não se lhes entaramelassem as línguas: Zomig. Deixo-vos «santinho» que sempre deveis ter à cabeceira. Rezar ajoelhado é opção.
Assim que os meus prodígios na cura das enxaquecas foram conhecidos, logo detratores insinuaram não passarem de passageiras cefaleias os padecimentos sanados. Contraponho – enxaquecas são distintas das dores de cabeça rafeiras. Vede porquê:
Rejeito deixar à míngua de conhecimento os meus devotos. Pois saibam não terem sido detetados tumores revelantes após atuar que testemunham estudos de carcinogenicidade em murganhos e ratos. Nenhuma diferença no proveito (...)
Nota: texto publicado na íntegra no "Escrever é Triste"
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros