Duy Huynh
“Era o pinheiro mais alto aqui do bairro
o único dos quatro iniciais
o arquitecto a desenhar sem lhes tocar
e eu a gritar-lhe
livre-se nem um risco a mais
Altaneiro
parecia um farol sem faroleiro
Atrevido
deu´em rachar o muro alto do vizinho
o perigo era grande e espreitava
e eu fazendo de conta assobiava
adiando o inadiável
Era Janeiro e o meu pai partia...
(ele que também o defendia)
Então pois tem de ser
marcou-se o dia
e o meu coração atormentado
inventava ainda uma espécie de milagre por acontecer
Ao cair da noite
olhei-o e demorei o olhar
mal sabes tu que será a última vez que anunciarás o nascer do sol
Fugi antes do crime
mal embrulhada em roupa velha e quente
atravessei avenidas e ruelasnos ouvidos as máquinas e as serras
e a seiva a correr em lágrimas
voltei a custo ao fim da tarde
Fiz o luto dos DOIS adoecendo
Postura igual desassombrada
Um velho e doente, o outro não, presente
e a vida roubou-me os dois tão indiferente
como se não doesse nada
Quando os dias cresceram de novo e aqueceram
e voltei ao meu pequeno mundo
reparei que o céu era maior e mais azul
Era verdade que Deus fecha uma porta escancarando uma janela
Pois é
há um lugar dentro de nós
onde se guardam os pais os amores os pinheiros bravos
e os nossos queridos bichos
como se fosse a nossa arca de Noé
Ainda hoje o lembro com culpa e com saudade
e na cama de rede que criei onde ele estava
me deito
sonho e olhando o céu
espreito o nascer do sol como ele espreitava...”
Nota – texto escrito por Era Uma Vez
CAFÉ DA MANHÃ
Oleg Zhivetin – “Mother And Daughter” Oleg Zhivetin
Ser mulher também é viver alguns meses MARÉ CHEIA
para ser MARÉ VIVA num só dia
Ver nascer
aquele que há-de ser
Razão
Vida
Continuação
Alternativa
e nunca, nunca mais(?)
se sentir MARÉ VAZIA
Poema cuja autora é a mui querida parceira de escrita “Era uma Vez" e publicado em “Colectânea de Poetas em 1983”
ÚLTIMA HORA
"A Academia de Grammy latinos, que entrega prémios aos artistas mais destacados da música latina, anunciou hoje que Carlos do Carmo será um dos agraciados com o prémio de Excelência Musical - «Lifetime Achievement», que celebra a carreira do fadista." ´É o primeiro português a receber o mais importante galardão desta academia. Está de parabéns Carlos do Carmo e Portugal.
Está previsto que o troféu seja entregue a Carlos do Carmo no próximo dia 19 de novembro deste ano, no Hollywood Theater da MGM, em Las Vegas, Estados Unidos da América. Nesse mesmo mês estreará em Portugal um filme documental sobre a vida e a obra de Carlos do Carmo realizado por Ivan Dias. Neste momento, e até ao final do ano, estará patente na Cordoaria Nacional, em Lisboa, a exposição "Carlos do Carmo 50 Anos".
CAFÉ DA MANHÃ
Autores que não foi possível identificar
Setenta anos é obra. Nunca a frase esteve tão certa. E que obra...
Estávamos em 66, e o charmoso Henrique Mendes tinha ido ao Brasil e vinha fascinado com a marchinha “qui por lá se cantava". Orgulhoso de ter trazido a gravação para Portugal, passava-a vezes sem conta na Rádio num programa da altura. A qualidade técnica da coisa estava longe de ser boa mas o conteúdo agarrava e entrou no ouvido. Tornou-se rapidamente um êxito por cá atravessando "tanto mar... tanto mar".
Era o tempo das minhas descobertas. Primeiro, Elis Regina, depois Chico, Vinicius, tantos outros. Qual Cabral, também eu, na minha frágil casca de noz descobria o Brasil ou antes a sua música. Ainda hoje não fui lá. E no entanto, ele tem vindo até mim. Há poucos dias, aqui por casa, o casal divertia-se a relembrar músicas de outros tempos, algumas entre gargalhadas. E lá veio o "encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora" e "será que sou feia? Não é não sinhô". Depois, chegou a vez da marchinha do Chico e vá lá de puxar pela cabeça mas o pessoal já não vai para novo. Não percebo porque se apregoa tanto a sabedoria que a idade traz quando ao mesmo tempo nos rouba o nome das coisas. Enfim, contradições. Entre muitos «lálás», lá fomos reconstruindo a letra que a música, essa, estava impecável e afinadinha.
Sempre gostei do Chico. Aqui estava apenas a começar. Do seu talento, da sua obra, dos seus olhos claros de oceano num rosto moreno que envelhece bem. Ao vivo, dois concertos apenas. Hoje, procurei o poema no Google. A esta distância, reparo que na subtileza das entrelinhas está ali tudo: a consciência social e política que aquele jovem já na altura semeava na música aparentemente ingénua que escrevia. Só os "poetas maiores" o conseguem. Lá como cá.
Parabéns Chico. Muitos anos de vida feliz.
Deve ser bom festejar a vida sabendo que passamos por ele deixando MARCA.
Deixo à minha doce parceira a tarefa de nos "trazer" a marchinha.
“Andava à toa na vida o meu amor me chamou pra ver a marcha passar cantando coisas de amor.”
NÃO É LINDO?
Texto escrito pela mui querida parceira ‘Era Uma Vez’
CAFÉ DA MANHÃ
Emily Zasada – “Late Summer” Susan Hoehn – “Sonoma Patio”
Faltava poesia a este espaço. Eis que chega pelas mãos da estimada parceira de escrita “Era Uma Vez”.
e a vida corre parada
à espera de um veredicto
talvez amanhã seja dia
talvez amanhã seja dito
e a vida assim em suspenso
oscilando em corda bamba
fazendo tempo adiando tempo
disfarçando
lendo
um livro de pernas para o ar
numa qualquer esplanada
a vida corre parada
com mil planos em mente
numa agenda carregada
amanhã pode ser tudo
amanhã pode ser nada
talvez um pouco de muito
num ácido de limonada
“Era Uma Vez”
CAFÉ DA MANHÃ
E porque abre hoje a Feira do Livro, homenagem aos escritores por via da pintura de Jonathan Wolstenholme.
Last Supper - Salvador Dali
No início dos anos cinquenta, o poeta Sebastião da Gama convidava o amigo MIGUEL TORGA para umas férias na estalagem dos pais, única na Arrábida.
Então, Miguel Torga deixava as serranias do Norte abraçava o amigo e entregava-se assim ao mar e à serra mãe.
REFÚGIO
Sozinho a ouvir o mar que não diz nada
Férias do mundo e de quem lá anda
Concha de ouriço mas desabitada
aberta no lençol da areia branda
Não se lembrem de mim ESTA SEMANA
Matem o Cristo e ELE que ressuscite!
Eu, nesta angústia humana ou desumana
quero apenas que o sono me visite
(Publicado em “A SERRA DA ARRÁBIDA NA POESIA PORTUGUESA” pelo Centro de Estudos Bocageanos - Setúbal)
Autora – “Era Uma Vez”
CAFÉ DA MANHÃ
Amour – Official Poster Andre Kohn – Antique Shopping
“Ontem vi o filme finalmente
(faltava-me coragem)
o apelo cresceu e lá fui eu temendo sabe Deus a abordagem
Só podia mesmo chamar-se amor
E ali estava a prova que já passaram tantos anos
lembrei o talento do ator
então o homem certo
lindo inteligente desejado
quando conduzia quando corria pela praia ao encontro da sua Annie
e o abraço deles se colava a nós como um arrepio
e a música (ai a música) perdurava nos sentidos
e o cão rodopiava na praia num bailado
indiferente ao vento ao frio
De novo
o amor
De novo um homem e uma mulher se amando
já não o mar mas a dor por perto
e um Jean Louis trôpego e triste
de novo e ainda" o homem certo"
diante de mim, de nós
condenado ao "gesto" último
sublime
adiado
de cortar um laço
como se fosse tragicamente o mais generoso
e derradeiro abraço
e nós(que ainda nos temos)
ali em silêncio de mãos dadas no escuro do cinema como antigamente
sabendo que entre os dois grandes filmes
decerto envelhecemos...”
Autora - “Era uma Vez”
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros