Segunda-feira, 2 de Fevereiro de 2015

O PINHEIRO MAIS ALTO AQUI DO BAIRRO

Duy Huynh 29Dreamboat.jpg

Duy Huynh - Tutt'Art@ (15).jpg

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Duy Huynh

  

 

“Era o pinheiro mais alto aqui do bairro

o único dos quatro iniciais

o arquitecto a desenhar sem lhes tocar

e eu a gritar-lhe

livre-se nem um risco a mais

 

 

Altaneiro

parecia um farol sem faroleiro

Atrevido

deu´em rachar o muro alto do vizinho

o perigo era grande e espreitava

e eu fazendo de conta assobiava

adiando o inadiável

 

 

Era Janeiro e o meu pai partia...

(ele que também o defendia)

 

 

Então pois tem de ser

marcou-se o dia

e o meu coração atormentado

inventava ainda uma espécie de milagre por acontecer

 

 

Ao cair da noite

olhei-o e demorei o olhar

mal sabes tu que será a última vez que anunciarás o nascer do sol

 

 

Fugi antes do crime

mal embrulhada em roupa velha e quente

atravessei avenidas e ruelasnos ouvidos as máquinas e as serras

e a seiva a correr em lágrimas

 

voltei a custo ao fim da tarde

 

 

Fiz o luto dos DOIS adoecendo

Postura igual desassombrada

Um velho e doente, o outro não, presente

e a vida roubou-me os dois tão indiferente

como se não doesse nada

 

 

Quando os dias cresceram de novo e aqueceram

e voltei ao meu pequeno mundo

reparei que o céu era maior e mais azul

Era verdade que Deus fecha uma porta escancarando uma janela

 

 

Pois é

há um lugar dentro de nós

onde se guardam os pais os amores os pinheiros bravos

e os nossos queridos bichos

como se fosse a nossa arca de Noé

 

 

Ainda hoje o lembro com culpa e com saudade

e na cama de rede que criei onde ele estava

me deito

sonho e olhando o céu

 

espreito o nascer do sol como ele espreitava...”

 

 

Nota – texto escrito por Era Uma Vez

 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por Maria Brojo às 08:00
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Terça-feira, 1 de Julho de 2014

MULHER MARÉ

    

Oleg Zhivetin – “Mother And Daughter”                                           Oleg Zhivetin   

 

Ser mulher também é viver alguns meses MARÉ CHEIA

para ser MARÉ VIVA num só dia

 

Ver nascer

aquele que há-de ser

Razão

Vida

Continuação

Alternativa

 

e nunca, nunca mais(?)

se sentir MARÉ VAZIA

 

Poema cuja autora é a mui querida parceira de escrita “Era uma Vez" e publicado em “Colectânea de Poetas em 1983”

 

ÚLTIMA HORA

 

"A Academia de Grammy latinos, que entrega prémios aos artistas mais destacados da música latina, anunciou hoje que Carlos do Carmo será um dos agraciados com o prémio de Excelência Musical - «Lifetime Achievement», que celebra a carreira do fadista." ´É o primeiro português a receber o mais importante galardão desta academia. Está de parabéns Carlos do Carmo e Portugal.

 

Está previsto que o troféu seja entregue a Carlos do Carmo no próximo dia 19 de novembro deste ano, no Hollywood Theater da MGM, em Las Vegas, Estados Unidos da América. Nesse mesmo mês estreará em Portugal um filme documental sobre a vida e a obra de Carlos do Carmo realizado por Ivan Dias. Neste momento, e até ao final do ano, estará patente na Cordoaria Nacional, em Lisboa, a exposição "Carlos do Carmo 50 Anos".

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:33
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Terça-feira, 24 de Junho de 2014

PARABÉNS CHICO!

 

Autores que não foi possível identificar

 

Setenta anos é obra. Nunca a frase esteve tão certa. E que obra...

 

Estávamos em 66, e o charmoso Henrique Mendes tinha ido ao Brasil e vinha fascinado com a marchinha “qui por lá se cantava". Orgulhoso de ter trazido a gravação para Portugal, passava-a vezes sem conta na Rádio num programa da altura. A qualidade técnica da coisa estava longe de ser boa mas o conteúdo agarrava e entrou no ouvido. Tornou-se rapidamente um êxito por cá atravessando "tanto mar... tanto mar".

 

Era o tempo das minhas descobertas. Primeiro, Elis Regina, depois Chico, Vinicius, tantos outros. Qual Cabral, também eu, na minha frágil casca de noz descobria o Brasil ou antes a sua música. Ainda hoje não fui lá. E no entanto, ele tem vindo até mim. Há poucos dias, aqui por casa, o casal divertia-se a relembrar músicas de outros tempos, algumas entre gargalhadas. E lá veio o "encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora" e "será que sou feia? Não é não sinhô". Depois, chegou a vez da marchinha do Chico e vá lá de puxar pela cabeça mas o pessoal já não vai para novo. Não percebo porque se apregoa tanto a sabedoria que a idade traz quando ao mesmo tempo nos rouba o nome das coisas. Enfim, contradições. Entre muitos «lálás»,  lá fomos reconstruindo a letra que a música, essa, estava impecável e afinadinha.

 

Sempre gostei do Chico. Aqui estava apenas a começar. Do seu talento, da sua obra, dos seus olhos claros de oceano num rosto moreno que envelhece bem. Ao vivo, dois concertos apenas. Hoje, procurei o poema no Google. A esta distância, reparo que na subtileza das entrelinhas está ali tudo: a consciência social e política que aquele jovem já na altura semeava na música aparentemente ingénua que  escrevia. Só os "poetas maiores" o conseguem. Lá como cá.

 

Parabéns Chico. Muitos anos de vida feliz.

 

Deve ser bom festejar a vida sabendo que passamos por ele deixando MARCA.

 

Deixo à minha doce parceira a tarefa de nos "trazer" a marchinha.

 

“Andava à toa na vida o meu amor me chamou pra ver a marcha passar cantando coisas de amor.”

NÃO É LINDO?

 

Texto escrito pela mui querida parceira ‘Era Uma Vez’

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:02
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Quinta-feira, 29 de Maio de 2014

NUM ÁCIDO DE LIMONADA

  

Emily Zasada – “Late Summer”                                    Susan Hoehn – “Sonoma Patio”

 

Faltava poesia a este espaço. Eis que chega pelas mãos da estimada parceira de escrita “Era Uma Vez”.

 

e a vida corre parada

 

à espera de um veredicto

talvez amanhã seja dia

talvez amanhã seja dito

 

e a vida assim em suspenso

oscilando em corda bamba

fazendo tempo adiando tempo

disfarçando
lendo
um livro de pernas para o ar

numa qualquer esplanada

 

a vida corre parada

com mil planos em mente

numa agenda carregada

 

amanhã pode ser tudo

 

amanhã pode ser nada

 

talvez um pouco de muito

num ácido de limonada

 

“Era Uma Vez”

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

E porque abre hoje a Feira do Livro, homenagem aos escritores por via da pintura de Jonathan Wolstenholme.

 

publicado por Maria Brojo às 08:35
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Quarta-feira, 16 de Abril de 2014

SEMANA SANTA

Last Supper - Salvador Dali

 

No início dos anos cinquenta, o poeta Sebastião da Gama convidava o amigo MIGUEL TORGA para umas férias na estalagem dos pais, única na Arrábida.

 

Então, Miguel Torga deixava as serranias do Norte abraçava o amigo e entregava-se assim ao mar e à serra mãe.

 

REFÚGIO

 

Sozinho a ouvir o mar que não diz nada

Férias do mundo e de quem lá anda

Concha de ouriço mas desabitada

aberta no lençol da areia branda

Não se lembrem de mim ESTA SEMANA

Matem o Cristo e ELE que ressuscite!

Eu, nesta angústia humana ou desumana

quero apenas que o sono me visite

 

(Publicado em “A SERRA DA ARRÁBIDA NA POESIA PORTUGUESA” pelo Centro de Estudos Bocageanos - Setúbal)

 

Autora – “Era Uma Vez”

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 06:59
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Segunda-feira, 7 de Abril de 2014

“AMOUR”

   

Amour – Official Poster                                                                                   Andre Kohn – Antique Shopping


“Ontem vi o filme finalmente
(faltava-me coragem)
o apelo cresceu e lá fui eu temendo sabe Deus a abordagem

Só podia mesmo chamar-se amor

E ali estava a prova que já passaram tantos anos
lembrei o talento do ator
então o homem certo
lindo inteligente desejado
quando conduzia quando corria pela praia ao encontro da sua Annie
e o abraço deles se colava a nós como um arrepio
e a música (ai a música) perdurava nos sentidos
e o cão rodopiava na praia num bailado
indiferente ao vento ao frio

De novo
o amor
De novo um homem e uma mulher se amando
já não o mar mas a dor por perto
e um Jean Louis trôpego e triste
de novo e ainda" o homem certo"

diante de mim, de nós
condenado ao "gesto" último
sublime
adiado
de cortar um laço
como se fosse tragicamente o mais generoso
e derradeiro abraço

e nós(que ainda nos temos)
ali em silêncio de mãos dadas no escuro do cinema como antigamente
sabendo que entre os dois grandes filmes
decerto envelhecemos...”

 

Autora - “Era uma Vez”

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:44
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