Manuel Tavares da Silva Reis, Ernâni Oliveira

 

“No Dia de Natal tem bico de pardal. Janeiro fora, mais uma hora, e quem bem contar hora e meia vai achar.”

 

Se do bico mal conta dei, passado Janeiro encontro mais da hora e meia no dia que o Sol faz. E anima acordar, ao fim-de-semana, com luz cheia, ainda que o hábito das madrugadas úteis pelas seis não se desfaça apenas por o calendário ter ócio escrito em maiúsculas. Infiltrado o brilho da candeia solar pelas frinchas, a alma pede rua, pede raios em feixe largo captado na face. É altura das gangas, de abandonar saltos, de sair com rosto lavado que ordena a dispensa de artifícios que o tinjam. Igual continuará até à volta das madrugadas.

 

Soltar a música. Escrever após o café tomado na privacidade, deambular pelas curvas cerebrais onde foram preenchidos arquivos, arrumados como se gavetas de secretária fossem. Bater a porta, dar voltas à chave deixando em caixa tapada preocupações e afazeres, que também os há para cumprir e, malvados!, do calendário não querem saber. Dispensar pressas e sentir por conta exclusiva o tempo. Saber minha a felicidade de não habitar um da meia dúzia de planetas do Sistema Kepler que orbitam em torno da estrela Kepler-11 parecida com o Sol. Dos períodos orbitais com duração inferior a cinquenta dias pela exiguidade da curva percorrida, advém quentura extrema. Desta não gosto – delicia-me frio com sol a rodos, enfiar casacão e proteger apenas o devido, que a cara precisa de nariz encarnado pelo gelo inspirado. Fotografar o tanto que a cidade oferece. Deixar-me ir no dia sem projectos além do minuto seguinte.

 

CAFÉ DA MANHÃ