Terça-feira, 13 de Março de 2012

DO ORIENTE

Mariola Bogacki

 

A Bita ligou, mal era chegada do Oriente, bússola de (des)encontros,  o Carlos ausência no vaivém dramático que a distanciava do metal ido. “Leia as mensagens, por favor! Da primeira para a última. Diga-me o que devo fazer.” No táxi, ainda enjoada pela oscilação do Intercidades escolhido pelo horário, li a meia dúzia de mensagens reenviadas. Dela e dele. Proposta de encontro. O sim inesperado. “Marco, ou não?” Ele havia de acordar cedo. Ir para fora de Lisboa. A Bita de voltar aos filhos – não a preocupava o asno/ex-marido que se impunha na casa da família, fora do redil até segunda.

 

Mais de um ano contava desde a última partilha de lençóis e prazer repetido. Ainda no táxi, a fala entrecortada ao saber-se ouvida, pela censura vigilante da casa, pelo pudor, pela infinitude do desejo. Na incompreensão do diálogo, sugeri espera. “Deixe-me chegar. Leio atentamente e ligo.” recisava de entrar no lima e ameixa. De encostar frente ao Ernãni Oliveira o nada de cabina. De escarafunchar o telemóvel, durando o fumo duma cigarrilha, na espera do escalda-chávena para o descafeinado lungo. Marquei Bita.

 _ “Não fale. Diga que a convido para sair. Marque o Don Pedro. A suite, pode ser. Aquelas meias pretas com liga enfeitada por laços encarnados, que disse ter e iguais às que me deu pelo Natal. Lingerie nos mesmos tons. Espere-o com uma túnica. A de seda comprada quando a minha. Saltos altos. Madeira no perfume. Tem tantos! Nua no intervalo. Vá à casa de banho em bicos de pés. No após, ronrone. Evite perguntas. Não gere clima romântico que sabe ele temer. Grite. É estranho, mas eles gostam como carimbo do desempenho. Do seu prazer não duvido, conquanto o masculino precise de evidências supérfluas. Ridículas para nós. Que ele durma como é costume no depois. E vá e venha. O resto é consigo. “Que sim, faço e aconteço. Beijinho, minha querida.”

 

Desliguei. Olhei-me ao espelho. Eu que ao momento largo gestos e emoções, pareci-me cronista de revista feminina na coluna “Como Prendê-lo.” Não fazia a menor ideia do sucesso da receita. Sabia-me espontânea e incapaz de obedecer a normas. Porém, dos anos multiplicados em intimidades decantadas e alheias, retivera sins e nãos. Com amigas e confidentes, o sexo não era falado. De filhos, engravidar, gerir rotinas malquistas, inovar amores, empregadas, doenças infantis muitoouvira. Pouco de amantes, além dos filtrados que inscrevia no rol.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 11:38
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