Detalhe de "Le Bal a Bougival" - Renoir
Lioz é o que se enxerga primeiro. Escadaria forrada a encarnado, dourados depois. Assentos dispostos em meias luas até à pista modesta. Balcões servem de alívio às cruzes dos herdeiros marialvas que dardejam olhares carnívoros às peças femininas. Eles e elas podiam ser atores escolhidos a dedo pelo Ettore Scola para filmar “O Baile”. Também neste lugar escuso das noites de Lisboa são curtos os diálogos, palpável a tensão emocional, a dramaturgia sustentada pela linguagem dos gestos. Quem ali se aventura é melhor estar preparado para incursão no mundo da pantomima das relações humanas, urbanas, maganas.
A premissa do lugar é, como no “Baile”, imutável: diluir a solidão, encontrar parceiro que aqueça noites e o momento no carrocel duma pista de dança. O elenco permanece: a florista, o jovem do subúrbio, a manequim reformada, a alcoólatra, a dama-pipi, a refugiada/imigrante, o sacristão à procura do ámen duma ela, a «pernas-e-mamas», o «homem-que-veio-de-longe» e não é o Gabin, o pós yuppie, o aluno de Apolo, o empresário, o suposto herói de guerra, o aristocrata, o rufia com jaqueta de couro e topete, o ‘mister músculo’ lá do bairro. Elas esperam convite para dançar daqueles que as negas não temem; os tímidos aguardam que alguma traduza em tiques convite de enleio.
A mise-en-scène garante aos prováveis enredos a cola do conhecimento dos corpos à cause le pot pourri musical – (...)
CAFÉ DA MANHÃ
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Peregrinando
Brasileiros