Michel Parkes - "Nightfall"
“Acho que é num filme de Eustache. Ela diz que lhe vai apresentar uma amiga. Uma amiga «bonita» e «com muitos amantes». Ele responde: as mulheres «com muitos amantes» nunca são «assim tão bonitas». Ele tem razão. Nunca conheci uma mulher «assim tão bonita» que tivesse «muitos amantes». A chamada «promiscuidade» é apanágio das mulheres medianamente bonitas (e de algumas feias). Já tenho notado essas raparigas ‘on the move’. É visível que sentem grande desprezo pelas mulheres muito bonitas. Acham que as mulheres muito bonitas são puritanas e ingratas.”
Pedro Mexia no“Pas jolies comme ça”.
Exemplo de lucidez masculina. Guerreando pré conceitos, constato semelhante: normalmente, as mulheres belas a quem o tempo somente burila e soma encanto, tanto se habituaram a serem constituídas objeto de gula e atenção que o enfado sobrevém. Para elas, excluído o conforto do anonimato num espaço social, ao conduzirem, ou no caminhar com sacos de supermercado nas mãos. Homens, quase todos, mulheres ainda mais escrutinam-nas da cabeça aos pés. Existindo vestígio de desarmonia na embalagem, é garantido reparo caridoso(?) de algumas confrades – “tens o botão semiaberto”, ou “o fio puxado na meia”, ou “hoje o teu ar não é dos melhores”.
As realmente bonitas e encantadoras nas atitudes têm maior dificuldade na harmonia sentimental. Baixando as defesas, porque alvos apetitosos ficam expostas aos reles que coisificam a mulher e ambicionam trazer a tiracolo fêmea compatível com o estatuto e o automóvel e que aos pares atormente com inveja. Minada a confiança, estão atentas aos sinais envenenados e tecem concha magoada. E volta dúvida antiga – sou estimada pelo conteúdo ou pelo precário continente?
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros