Bryan Larsen
Autores que não foi possível identificar, René Magritte
Uma casa. Nova. Torres de apartamentos, no todo, encerrados por grades. Jardins em construção. A cova da piscina forrada e vazia. Como as casas cujos compradores ainda não habitam. Porteiro e telefone na recepção a impedir entrada livre da família, de amigos, o simples tocar da campainha e resposta pelo intercomunicador. Porteiro que ao comunicar com os proprietários vira costas a quem espera sob vento gelado, não seja recusada admissão por inconveniência do momento e exigida por resposta “não está ninguém”. Condomínio que de tão fechado engaiola quem lá vive. Liberta de intrusos, mas afasta a realidade quotidiana das paredes de vidro a partir das quais somente luzes e «luziratos» provam existir cidade outra, mais vidas além das resguardadas que ali fazem lar. Nem buzinas exaltadas sobem ao enésimo andar. Foi escolhido e obtido silêncio. Largueza e mármores cujo brilho encandeia. Dentro, madeiras nunca vistas, ambiente produto de estirador e decoradora. Onde ficas Lisboa das cantinas sociais que amparam misérias, dos desvalidos, dos embrulhados por jornais nos vãos que protegem, mal, da chuva?
Qualidade de vida(?) e luxo amalgamados. Beleza? Design raro? Impressiva arquitectura? _ Sim! Todavia, assusta a perfeição. Talvez quem assim opina seja campónia habituada a condomínios modestos se comparados àquele. No regresso, a memória dum espaço onde habita, desde há dias, família em instalação, feliz, tornando feliz quem a ama.
CAFÉ DA MANHÃ
Arthur Braginski, Carol Manasse
Inventa asas. Não esperes. Vem comigo planar sobre vales que separam montes, sobre faldas de montanhas, sobre lameiros. Na subida, sentir o despegar dos pés do chão, ver de cima o lá em baixo. Doutro modo. Doutro ângulo. Doutra altura. Vogar abaixo das nuvens, não se interponham entre os viajantes cujo motor é o vento e a abrangência que as pupilas recolhem. Abstrair dos liliputianos nas ruas, dos transportados sobre rodas, sobre rodilhas que lhes enchem de nada o viver. E se o império do oco ordena pesadelos e pressas e ânsias e baralha essências do respirar, também o da realidade «esquinuda» convoca igual.
Esquece, por agora, sermos feitos do barro comum a todos. Desmente a matéria e do etéreo constitui o ser. Vem! Sobe mais alto. Segue-me. Abre os pulmões, enche-os de puro, experimenta a leveza do ar e não fales. Sente a maravilha dos lameiros ensopados e do aroma que exalam. Atenta nas diferenças entre o emaranhado dum bosque, dum baldio, dos campos lavrados e adormecidos, dos pinhais. Não elabores, não penses. Concentra-te no rugir do ar em movimento que lambe encostas e desenha cumes. Ouve. Confessa: _ Há quanto tempo não te detinhas na exclusividade do ouvir? Pára. Um sentido de cada vez. É altura do ver. Distingues a espessura dos verdes rurais da escassez urbana? Assinala o arco-íris na banda/mistura de amarelos, verdes, azuis e malvas crescido do solo prenhe aguardando a Primavera.
Desce e conserva as asas. Jamais esqueças a viagem. Não confundas sentidos. Com distintos e complementares, sê liliputiano consciente, extasiado com o Gulliver que também és.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros