Sexta-feira, 9 de Dezembro de 2011

GAIOLA DE VIDRO (I)

Bryan Larsen

Autores que não foi possível identificar, René Magritte

 

Uma casa. Nova. Torres de apartamentos, no todo, encerrados por grades. Jardins em construção. A cova da piscina forrada e vazia. Como as casas cujos compradores ainda não habitam. Porteiro e telefone na recepção a impedir entrada livre da família, de amigos, o simples tocar da campainha e resposta pelo intercomunicador. Porteiro que ao comunicar com os proprietários vira costas a quem espera sob vento gelado, não seja recusada admissão por inconveniência do momento e exigida por resposta “não está ninguém”. Condomínio que de tão fechado engaiola quem lá vive. Liberta de intrusos, mas afasta a realidade quotidiana das paredes de vidro a partir das quais somente luzes e «luziratos» provam existir cidade outra, mais vidas além das resguardadas que ali fazem lar. Nem buzinas exaltadas sobem ao enésimo andar. Foi escolhido e obtido silêncio. Largueza e mármores cujo brilho encandeia. Dentro, madeiras nunca vistas, ambiente produto de estirador e decoradora. Onde ficas Lisboa das cantinas sociais que amparam misérias, dos desvalidos, dos embrulhados por jornais nos vãos que protegem, mal, da chuva?

 

Qualidade de vida(?) e luxo amalgamados. Beleza? Design raro? Impressiva arquitectura? _ Sim! Todavia, assusta a perfeição. Talvez quem assim opina seja campónia habituada a condomínios modestos se comparados àquele. No regresso, a memória dum espaço onde habita, desde há dias, família em instalação, feliz, tornando feliz quem a ama.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:53
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Sábado, 29 de Janeiro de 2011

O GULLIVER QUE TAMBÉM ÉS

Arthur Braginski, Carol Manasse

  

Inventa asas. Não esperes. Vem comigo planar sobre vales que separam montes, sobre faldas de montanhas, sobre lameiros. Na subida, sentir o despegar dos pés do chão, ver de cima o lá em baixo. Doutro modo. Doutro ângulo. Doutra altura. Vogar abaixo das nuvens, não se interponham entre os viajantes cujo motor é o vento e a abrangência que as pupilas recolhem. Abstrair dos liliputianos nas ruas, dos transportados sobre rodas, sobre rodilhas que lhes enchem de nada o viver. E se o império do oco ordena pesadelos e pressas e ânsias e baralha essências do respirar, também o da realidade «esquinuda» convoca igual.

 

Esquece, por agora, sermos feitos do barro comum a todos. Desmente a matéria e do etéreo constitui o ser. Vem! Sobe mais alto. Segue-me. Abre os pulmões, enche-os de puro, experimenta a leveza do ar e não fales. Sente a maravilha dos lameiros ensopados e do aroma que exalam. Atenta nas diferenças entre o emaranhado dum bosque, dum baldio, dos campos lavrados e adormecidos, dos pinhais. Não elabores, não penses. Concentra-te no rugir do ar em movimento que lambe encostas e desenha cumes. Ouve. Confessa: _ Há quanto tempo não te detinhas na exclusividade do ouvir? Pára. Um sentido de cada vez. É altura do ver. Distingues a espessura dos verdes rurais da escassez urbana? Assinala o arco-íris na banda/mistura de amarelos, verdes, azuis e malvas crescido do solo prenhe aguardando a Primavera.

 

Desce e conserva as asas. Jamais esqueças a viagem. Não confundas sentidos. Com distintos e complementares, sê liliputiano consciente, extasiado com o Gulliver que também és.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 12:28
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