Ashley Cecil Cora e autor que não foi possível identificar
Nove anos de idade. Estreado vestido e sapatos e soquetes – as famílias curavam de engalanar as crianças para o exame de admissão ao Liceu Feminino. Escola grande e outra a abrigar-me no ano letivo seguinte existindo sucesso naquela prova. Ambiente intimidatório para as crianças habituadas à pequenez afável da escola primária. Distribuídas por diferentes salas, era quebrada a cumplicidade entra as meninas que, até aí, partilhavam brincadeiras no recreio, os momentos de avaliação. Havia pouco, fora o exame da quarta classe com direito a prova de lavores – recordo o cachecol de lã que tricotei. Talvez essa a origem do meu gosto por tricô que permanece. Era, então, permitido que cada menina escolhesse a prenda de mãos do seu agrado. Sem temores, «passei» no exame realizado na escola de sempre. Somente depois, a prova que dividiria alunos por dois destinos diferentes: o ensino liceal ou o ensino técnico, segundo as posses e ambições das famílias.
Não recordo como aflição marcante o exame no liceu. Antes lembro dia quente e soalheiro, a prova de português com direito a redação onde perorei sobre um domingo de Páscoa perfumado pelas glicínias floridas do jardim. Julgo, sem certeza, ter mencionado belíssima ave que inventei. Trouxe o rascunho, e a mãe que me havia acompanhado esperou pelo regresso a casa para, em conjunto com o pai, ser lido. Aplaudiram. Depois, as férias grandes e a liberdade estival.
Hoje, de novo, a realização do exame final do ensino básico. Interrompido durante décadas, é notícia de abertura nas rádios (a esta hora, ainda por ver televisão e jornais). Entrevistas, opiniões várias. Que pode ser traumático para os infantes, uma delas. Inútil, outra. Preferível a avaliação contínua como até agora. Momento indicado para consolidar sentimentos de responsabilidade nas crianças, defende o Ministério e eu com ele. (...)
Nota: texto completo no 'Escrever é Triste'.
CAFÉ DA MANHÃ
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