Autor que não foi possível identificar
"Quando foram conhecidos os dados sobre a pobreza repetiu-se um clamor — somos um país demasiadamente desigual e com níveis de pobreza chocantes. Tende a ser assim todos os anos, aquando da divulgação do inquérito aos orçamentos familiares. Mas esse clamor esvanece-se com a mesma rapidez com que surge.
(…)
Recuámos, aliás, dez anos. Temos valores para a pobreza do início do século XXI e os progressos feitos foram desperdiçados. Inverteu-se o ciclo de diminuição da pobreza e o “mexilhão” pagou o ajustamento. Ora, é bem mais difícil combater a pobreza do que fazê-la crescer e os efeitos do que se passou são impressivos. Se recorrermos ao indicador de pobreza ancorada, que permite neutralizar o efeito do empobrecimento generalizado e revelar quem é que seria pobre considerada a linha de pobreza de 2009, de uma taxa de pobreza de 17,9%, quatro anos passados, temos uma taxa de 25,9%. São 800 mil portugueses mais que saíram da zona de algum conforto material.
Fica assim demonstrado o efeito devastador da austeridade. Destrói tudo à sua passagem e diminui efetivamente as condições de formação de uma sociedade decente.
Mas o que mais impressiona não é a fotografia, nem mesmo a curta-metragem que dá conta da forma como evoluíram os rendimentos em Portugal. Estamos perante um daqueles problemas em que vamos ter de aguardar pelo médio prazo para assistir à manifestação dos riscos em toda a sua plenitude. E não vai ser bonito de se ver.
Não há, a este propósito, indicador que nos interpele tanto como sociedade como o da pobreza infantil. Qualquer político que ambicione ter responsabilidades governativas, devia ter um papel à sua frente para lhe recordar todos os dias que, em 2013, uma em cada quatro crianças é pobre (um valor que subiu mais do que qualquer outro). Não se trata apenas de uma estatística. É, pelo contrário, uma arma de destruição de qualquer reforma estrutural.
Um quarto das crianças portuguesas não reúne as condições para cumprir o que a Constituição prevê: direito a cuidados de saúde, a educação, a alimentação e habitações condignos. Na pobreza tudo isso falta e não custa imaginar o país que teremos daqui a décadas com os níveis de pobreza que hoje temos entre as famílias com crianças.
Aceitar como se fosse uma nova normalidade a sociedade de pobres e de desigualdades é uma ameaça hoje, mas é, acima de tudo, a forma mais eficaz de hipotecarmos o futuro."
Pedro Adão e Silva, in Expresso
CAFÉ DA MANHÃ
Marinus van Reymerswael – “Saint Jerome with a Skull”
“Quer-se dizer (como diz o povo e neste momento, quem não fala como o povo, é suspeito de passar férias na Comporta, ser apoiante de Passos Coelho, parricida ou coisa tão má como uma destas três). Quem não fala como o povo é, claramente um elitista que quer exames para os professores, mas um elitista dos piores, dos que ainda não percebeu a importância de um Ministério da Cultura para que haja cultura. Enfim, um desqualificado!
Por isso repito: Quer-se dizer, está uma alma na praia (a minha) e constantemente compinchas (dos bons, dos que pagam almoços, jantares, copos e contam histórias divertidas) veem-me e abordam-me. Cuidando que sou jornalista por escrever sobre coisas de atualidade, perguntam-me pormenores sobre o BES e o Ricardo Salgado.
Perante isto, tenho três hipóteses:
1) Pôr um ar sério e pondero se 4,9 mil milhões (que nem faço ideia quanto seja) chegam para levar o Novo Banco adiante; interrogo-me sobre a legalidade da medida de passar tudo o que era (ou é, ou qualquer coisa) BES para o banco mau, mantendo o nome BES. Debater se Henrique Granadeiro se safa sem um processo movido pelos acionistas da PT e continua a produzir o seu excelente vinho no Monte dos Perdigões. Debato se Carlos Costa agiu a tempo ou demorou uma eternidade. Pondero se o Governo esperou que a troika saísse do país para dar a conhecer o drama do BES. Alterco sobre se o primeiro-ministro devia estar de férias ou não e por aí fora…
2) Barafustar dizendo que estou de férias e não quero saber do assunto para nada. Pelo contrário, quero que eles vão todos morrer longe enquanto eu mergulho nas ondas e douro o meu corpo ao Sol (quem ler isto há de pensar que sou um Apolo e não se engana por muito).
3) Fazer de maluco e recitar: “Ó Ricardo Salgado, quanto do teu sal são inquietações de Portugal”
Um poema que é mais ou menos assim (depende do improviso da altura):
“Ó Ricardo Salgado, quanto do teu sal
São inquietações de Portugal?
Quantas das tuas ações nos enganaram?
Quantas obrigações nos arruinaram
Quantas dívidas ficaram por pagar,
Apenas para que fosses tu a mandar?
Valeu a pena? Dividem-se as opiniões…
Tudo vale a pena se só pagares três milhões!
Deus à banca o risco e a glória deu
Mas foi o Espírito Santo que de lá sacou o seu”
Confesso-vos que, até agora, tenho preferido esta última opção.”
Nota – Publicado a 6 de Agosto no “Escrever é Triste” pelo Henrique Monteiro.
Outro texto de Henrique Monteiro
“Há notícias que só leio passados dias, ou que me escapam de todo. Ontem, porém, ao ler a edição semanal do Expresso, dei com um comentário a uma notícia do 'Correio da Manhã". Quando a fui ler no 'Correio da Manhã', reparei que ela já tinha sido comentada por uma jornalista daquele jornal. Este é, portanto, o terceiro comentário sobre o mesmo assunto, depois dos que foram feitos pelos meus colegas Fernanda Cachão, do CM, e João Garcia, diretor-adjunto do Expresso.
Porém, considero que não é demais repetir. E espero que alguns leitores partilhem o assunto. Algum modo há-de existir para que certas coisas não continuem. E, se não houver modo, pelo menos os responsáveis hão-de ler por todo lado comentários críticos que retratam a vergonha que deviam ter.
A questão é a seguinte: Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura, departamento que não tem dinheiro para - como se costuma dizer - mandar cantar um cego e vai cortar 15 milhões de euros em despesas com pessoal, recrutou um 'boy' do PSD para o seu gabinete a quem vai pagar como adjunto. Ou seja, mais de três mil euros, mais do que ganha diretor de serviços, ou, como escreve no Expresso João Garcia, "mais que juiz, que coronel, o dobro de professor'. Fernanda Cachão ironiza que "afinal há dinheiro" desde que seja "money for the boys".
Mas o melhor, o melhor mesmo, é o currículo do adjunto. Tem 24 anos, três workshops no centro de formação de Jornalistas Cenjor, fez o estágio na Rádio Renascença, onde trabalhou oito meses e foi durante cinco meses consultor de comunicação do... PSD! Uau!! Que rica experiência...
Acresce que Barreto Xavier, antes desta contratação já tinha três adjuntos, sete técnicos especialistas, duas secretárias pessoais, chefe de gabinete, dez técnicos administrativos, três técnicos auxiliares e três motoristas.
Falta dinheiro (salvo para os boys) mas há excesso de descaramento.
Digamos que se há algo que não falta, é a falta de vergonha.”
CAFÉ DA MANHÃ
“Law and Justice Books” – K. Madison Moore “Justiça” – Alexandre Moreira
"A Ditadura Democrática Portuguesa elimina os que pensam e promove os Burros. Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, (Olá! camaradas Sócrates... Olá! Armando Vara...), que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.
Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, em governação socialista, distribui casas de renda económica - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.
Em dado momento, a atividade do jornalismo constituiu-se como o verdadeiro poder. Só pela sua ação se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora, continua a ser o verdadeiro poder mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido. Para garantir que vai continuar burro o grande "cavallia" (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a ação com a criação das Novas Oportunidades. Gente assim mal formada vai aceitar tudo, e o país será o pátio de recreio dos mafiosos.
A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca. Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros.
Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada. Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.
Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve. Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituamo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.
E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade. Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?
Vale e Azevedo pagou por todos? Quem se lembra do miúdo eletrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático? Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico? Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana? Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal? Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.
No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém? As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância. E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou? E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu? Alguns até arranjaram cargos em organismos da UE. Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu. E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?
E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára? O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha. E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina? E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.
Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento. Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade. Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.
Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de proteções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.
Este é o maior fracasso da democracia portuguesa."
Clara Ferreira Alves - "Expresso"( 1 de setembro de 2014, 14:27)
Nota - Crónica enviada por teclas atentas e amigas
CAFÉ DA MANHÃ
Alberto Vargas
«Googlava», quando descobri lembrança. Como pude relatar baboseiras tamanhas? Arrenego-as. Que, republicadas, me sirvam de exemplo.
“(…) O que explica que tantas mulheres se queixem que não conseguem manter uma conversa com um homem? Ou melhor, que eles são incapazes de manter uma conversa com elas. Será que na geração dos telemóveis, dos SMS, da Internet e dos “chats” os homens se estão a tornar tão socialmente inaptos que matam a sua interlocutora de tédio em menos de cinco minutos? Sem eufemismos: será que se estão a tornar chatos, como admite a jornalista e escritora Sabine Durrant num ensaio publicado numa recente edição da revista Intelligent Life?
Estará de facto a espécie masculina a tornar-se mais enfadonha? A tentação de contestar pessoalmente a alegação é refreada por um sábio conselho que o presidente da Associação Comercial do Porto, Rui Moreira, me deu recentemente durante uma entrevista: “Se queres saber os teus defeitos, pergunta a uma mulher.” Afinal, já dizia o velho adágio, ninguém é bom juiz em causa própria. Palavra a elas, então.
Teresa Castro, autora do blogue “Sem Pénis, Nem Inveja”, não rejeita o confronto. “Um homem só entedia quando não adivinha uma mulher”, responde ao “Expresso”. “Falta ao masculino a dose de intuição equivalente àquela que faz parte do património genético das utentes de vulva e sentido extra acrescentado aos cinco tradicionais.” Dito de outra forma, falta-lhes serem mais parecidos com as mulheres.
A primeira estocada é forte, mas a segunda vai mais fundo na ferida aberta no ego masculino. “Os homens permanecem adoráveis crianças toda a vida. Para eles, salvo o dinheiro e a carreira, tudo é brinquedo: a líbido, as parceiras, o futebol mais as ‘bejecas’ e os petiscos, os catraios que engendraram e lhes servem de pretexto para voltar ao tempo dos comboios e do ‘pouca-terra, muita-gente.’(…)”*
M’envergonho! Disse.
*Artigo de Nelson Marques na ‘Única’
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros