Blake Flynn
I
Acabado de cozer o pão, quem na cabeça o trazia em tabuleiro de madeira apoiado na «rodilha» - aliviava o desconforto e equilibrava o peso - dizia aos passantes:
_ Olhe, tome lá do nosso pão e com saúde o coma.
Respondiam:
_ E vossemecê o que lá tiver.
II
Era comum ouvir:
_ Amor dado é recebido.
Os menos indulgentes resmoneavam:
_ «Atão»… É dado porque já foi recebido.
III
Numa procissão da Festa de São Cosme e São Damião, «anjinhos» à frente, andores carregados aos ombros pelos mordomos, seguiam-nos em duas «carreiras» paralelas crentes com velas na mão. Dado o caso de um dos mordomos ter vislumbrado teia de aranha no andor, vozeou:
_ Pare a música que o Senhor leva «bixo»!
IV
O pároco da freguesia, não raro, utilizava a homilia para «recados». Era recorrente apelar aos casais no sentido de engendrarem mais filhos. Ora, sendo a pobreza regra pedir nascimentos era injusto até pela elevada taxa de mortalidade no parto de mães e neófitos. Como em todas as liturgias, na nave da igreja, mulheres, no coro, homens. Vinda do alto, trovejou a voz do ‘tio’ Monteiro, quatro filhos a custo alimentados, farto de ouvir o mesmo:
_ Ó Senhor Prior, olhe que já “fiz a minha perna” (contava quatro filhos)!.
V
Durante a semana santa, era uso vir de fora um sacerdote pregar. No púlpito, paramentado com cetins e dourados pomposos, advertiu:
_ As três paixões que levam o homem ao Inferno são: o mundo, o demónio e a carne.
Findo o sermão, já no adro, juntam-se três mulheres: Paixão do Rita, Paixão Mereira e Paixão do Canto. Lamentavam-se por julgarem ser uma o demónio, outra o mundo e a última a carne. A Paixão do Rita não se conteve:
_ Mas que foram dizer ao padre?! Toda a gente sabe a minha vida e a do meu homem. Não mereço ouvir uma destas do “altar abaixo”.
VI
A moçoila mais cortejada na aldeia teve direito a serenata organizada pelo Tito Bruno, rapaz de muitas posses, e outros amigos da vila. O hábito era a homenageada, sem assomar à janela ou “ficaria falada”, acender a apagar a luz duas vezes como sinal de ter recebido o mimo. Assim fez. A ‘tia’ Amélia cujo principal ofício era receber e espalhar mexericos sorriu, melíflua, e interpelou:
_ Ó Rosinha, ontem não deu por nada? Pois saiba que me fizeram uma serenata esta noite! Prá menina, não, que o senhor seu pai, “dando fé”, sumia os moços em menos de nada.
VII
Na ribeira, era lavada a roupa pelas mulheres da comunidade. Preparando-se uma delas para desacato verbal enquanto os lençóis coravam, outra logo respondeu:
_ Olha, “vai lavar a «rouupa»” e cala-te!
CAFÉ DA MANHÃ
À época do contado, na aldeia, era ídolo Amália Rodrigues, “Fado Amália” o preferido.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros