Andrew Valko
Nem todos os beijos são. Alguns, despacho despachando acto. Outros, violino nas telhas ‘antes de’, nas vezes, prova de falta deles e só por isso trocados. Mais existem: aqueles que afloram pele como fatia do chão empedrado na Castilho pelo lilás caído dos jacarandás e fazem tapete que abafam passos andados; escassos os que desafiam corpos a partir dos lábios; raros os que provam mais do que lascívia e (pres)sentem amores medidos pelo invisível. Sem hierarquização porque ausente tabela que cronometre segundos e razões. Veros, todos. Acontecidos. Exclusivos no instante onde foram e das bocas decididas ao fragmento exibido de afecto fundo ou do ‘porque sim’. Dissecar motivos dos beijos mais ocioso do que encontrar agulha em relva densa. E se foi escrito o escrito, devo-o ao António que, a propósito do “Por isso belas”, publicou mais e melhor:
“é!
há por aí beijos despudorados!! aparecem em todo o lugar, estão, vão, são!!! e uma luz indicia que de olhos fechados se vê, um rumor explicita que o silêncio diz e uma humidade desponta onde oceanos apaziguam rios... sirva-se à temperatura e tempere-se a pressão, volvem pétalas onde se sente a mão, onde o perfume lembra a incondição, onde a memória se faz lábio, a vivência é boca e o desejo sufoca a sofreguidão
galáxias em forma de coração e alvíssaras a explicação, a um canto a obsessão, a vida tem o condão de prover a imensidão, a intensidade e a verdadeira alegria, em despudorados beijos de ocasião, de catálogo, de recordação, os que trazemos perdidos à espera de uma canção, os que oferecemos à noite e ao alvor já lá não estão, os suspirados sem grito nem sopro ou respiração, os que nos dão de mansinho em mimos de arribação, os que perduram no corpo, nos poros e entranhas e em toda a ilusão, os que demoram a haver e juram não se perder, os que sofremos por querer e os que gozámos sem ter, os outros, os todos, os mais, os que nunca foram ais, os melhores que estão p'ra vir, os que não param de fugir, os que bebemos de um trago num postal por emitir, os que sabemos de cor por tanto não existir, os que demos de mãos dadas e os que roubámos no escuro, os que sabemos tão pouco até não nos afligir, os que inventamos de pronto para não chorar a rir, os que mordemos em panos, escondidos e envergonhados, os que um dia descobrimos se portanto apaixonados, os que p'ra sempre exaltamos quando neles nos casámos, os que se beijo, logo existo, os que dá-mos já que não resisto, os que depois bem verás, os que etecetera e tal, os que nunca saberás e os que descem as paredes, árvores, chaminés e nos recobrem de amor do toutiço até aos pés, os de choquinhos com tinta que denunciam a avó, os do gato shiu à pála da corda ao relógio, os que saíram do armário e que ainda lá ficaram, os à cinéfilo da primeira à última fila e à casinha do projector e mais uns quantos pelo corredor, outros tantos em redor e mais alguns dos sem pudor, os ... e mais quais' ah... os mais, os a mais e os tais, sim, despudorados, sim, sejam “
CAFÉ DA MANHÃ
Justine Lai’s
Nem todos os beijos são. Alguns, despacho despachando acto. Outros, violino nas telhas ‘antes de’, prova de falta deles e só por isso trocados. Mais existem: aqueles que afloram pele como na fatia do chão empedrado da Castilho pelo lilás caído dos jacarandás - fazem tapete que abafam passos andados; escassos os que desafiam corpos a partir dos lábios; raros os que alongam lascívia e (pres)sentem amores medidos pelo invisível. Sem hierarquização porque ausente tabela que cronometre segundos e razões. Veros, todos. Acontecidos. Exclusivos no instante onde foram e das bocas decididas ao fragmento exibido de afecto fundo ou do ‘porque sim’. Dissecar motivos dos beijos mais ocioso do que encontrar agulha em relva densa. E se foi escrito o escrito, devo-o ao António que, a propósito do “Por isso belas”, publicou mais e melhor:
“é!
há por aí beijos despudorados!! aparecem em todo o lugar, estão, vão, são!!! e uma luz indicia que de olhos fechados se vê, um rumor explicita que o silêncio diz e uma humidade desponta onde oceanos apaziguam rios... sirva-se à temperatura e tempere-se a pressão, volvem pétalas onde se sente a mão, onde o perfume lembra a incondição, onde a memória se faz lábio, a vivência é boca e o desejo sufoca a sofreguidão
galáxias em forma de coração e alvíssaras a explicação, a um canto a obsessão, a vida tem o condão de prover a imensidão, a intensidade e a verdadeira alegria, em despudorados beijos de ocasião, de catálogo, de recordação, os que trazemos perdidos à espera de uma canção, os que oferecemos à noite e ao alvor já lá não estão, os suspirados sem grito nem sopro ou respiração, os que nos dão de mansinho em mimos de arribação, os que perduram no corpo, nos poros e entranhas e em toda a ilusão, os que demoram a haver e juram não se perder, os que sofremos por querer e os que gozámos sem ter, os outros, os todos, os mais, os que nunca foram ais, os melhores que estão p'ra vir, os que não param de fugir, os que bebemos de um trago num postal por emitir, os que sabemos de cor por tanto não existir, os que demos de mãos dadas e os que roubámos no escuro, os que sabemos tão pouco até não nos afligir, os que inventamos de pronto para não chorar a rir, os que mordemos em panos, escondidos e envergonhados, os que um dia descobrimos se portanto apaixonados, os que p'ra sempre exaltamos quando neles nos casámos, os que se beijo, logo existo, os que dá-mos já que não resisto, os que depois bem verás, os que etecetera e tal, os que nunca saberás e os que descem as paredes, árvores, chaminés e nos recobrem de amor do toutiço até aos pés, os de choquinhos com tinta que denunciam a avó, os do gato shiu à pála da corda ao relógio, os que saíram do armário e que ainda lá ficaram, os à cinéfilo da primeira à última fila e à casinha do projector e mais uns quantos pelo corredor, outros tantos em redor e mais alguns dos sem pudor, os ... e mais quais' ah... os mais, os a mais e os tais, sim, despudorados, sim, sejam “
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros