Jennifer Janesko
Que saiba, nenhum dos meus amigos tenciona casar. Que saiba, e porque a minha leitura das revistas cor-de-rosa se limita a desfastio no cabeleireiro, notáveis reais ou de faz-de-conta também não contraíram núpcias. Aliás, o entretém de ver bonecos nos pomposos hairstyles é frequentemente impossível _ unhas pintadas de fresco, arrepelões do cabelo deixam-me com disposição canina. Sem paciência para nada além do “tirem-me daqui!”.
Ontem, foram a enterrar dois nomes/instituições com prestígio planetário. Sobre o do Michael, depois reduzido a cinzas, não escreverei mais do que isto. Os fãs que vertam lágrimas e se encarreguem de construir o inevitável mito – quem morre cedo e é famoso arrisca-se a perpétuos festins nostálgicos. O último desfile de Christian Lacroix é funeral de uma casa de alta-costura que durante vinte anos enfeitiçou inúmeras mulheres e menos homens _ pagar a factura de entusiasmo caro da parceira não deixa boa memória.
Duas centenas de privilegiados assistiram à apresentação da última colecção. No caso, Outono/Inverno. “Como um esboço, como um desenho prévio da pintura", disse Christian Lacroix. Convite preto e cinza de acordo com o luto pela casa que fenece se nenhum comprador surgir até final de Julho. Manequins desfilaram à borla. As jóias que as enfeitaram foram emprestadas por amiga rica do criador de moda. Dos 125 funcionários, as costureiras há muito não recebem paga.
As dificuldades que a Maison Lacroix experimenta devem-se, parcialmente, ao facto do estilista/artista ter recusado transformar a sua obra artesanal numa simples marca produzida nos confins do mundo. Renegou os logotipos impressos, a facilidade duma griffe passível de contrafacção vendida nos outlets e feiras. Quem do sonho não desiste, arrisca o pescoço. Aconteceu. De novo.
Mas Christian Lacroix luta. Incansável, sopra as brasas para que não seja perdida a chama de luxo e glamour da alta costura francesa que assina.
CAFÉ DA MANHÃ
Four Weddings And A Funeral
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