Quinta-feira, 17 de Abril de 2014

"COSTURANDO MITOS E RELIGIÃO"

     

Frida Kahlo – “Meu Vestido Pendurado Ali”                               “Auto-retrato na Fronteira entre México e Estados Unidos”, 1932

 

Nem o título me pertence. Está incluído num ensaio de Claudio Carvalhaes sobre a tela de Frida Kahlo "Meu vestido pendurado ali". Por ser tela que sempre me intrigou, fui beber às fontes.

 

“A referência religiosa nas obras de Frida vinha de povos abandonados e marcados pela pobreza. Em seus quadros e fotos, seus vestidos e colares eram rodeados e mesmo marcados por aspetos religiosos presentes na cultura mexicana. Em seu quadro “Auto-Retrato na Fronteira entre México e Estados Unidos”, seu vestido está ao lado de elementos como o sol, lua, templo, caveira, sangue, o ciclo vida-morte azteca, e outros elementos da terra que servem para compor referências culturais, religiosas e teológicas do México.

 

Além das expressões religiosas pré-colombianas, a obra de Frida faz fortes referências ao catolicismo popular, como as coleções de milagres, os “retablos”, que Frida guardava. A Virgem Maria e os santos, Jesus Cristo, seu sofrimento e todo o imaginário católico são símbolos recorrentes na sua obra.”

 

Acerca da mesma tela escreveu também Carlos Drummond de Andrade

 

“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria,
o tempo presente,
os homens presentes,
a vida presente.”

 

De volta a Claudio Carvalhaes. (…)

 

Nota – texto publicado aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:00
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Sexta-feira, 30 de Novembro de 2012

BRAVOS DO PELOTÃO

 

Frida Kahlo (Frida-Diego)                                                                                   Frida-Diego-marriage

 

Os bravos do pelotão. Não é lembrado Platoon do benquisto Oliver Stone. Nem Chris Taylor (Charlie Sheen), jovem e ingénuo americano, ao compreender que no Vietname a luta real era com o crescendo do medo, exaustão física e raiva. Antes são trazidos à colação homens e mulheres comuns que avançam de peito feito, sem temeridade insana, conscientes de que fuga ao passo em frente só a mando de cobardia. Recusar o desafio, o risco, negar atitude com receio de ferida ou morte dolorosa, não é com eles. E ao sinal de chamada avançam, gritando em silêncio: _ Seja o que a vida quiser.”

Num tempo em que amar alguém num mundo tão precário como este, significa ansiedades e temores, por medo alguns restringem afetos ao efémero. Como bivalves, higienizam o espaço contendo abertura ao ambiente exterior. Fecham-se ao pressentirem toque que ambicione atingir mais do que a pele. Partilhar o corpo, o riso, a fruição da dádiva que de outros advém, sim, não recusam - abrem-se como pétalas no pico da floração. Mas, quando a roda engrena marcha atrás, eles, de mansinho, como quem nada viu ou sabe, recuam pela cobardice que os amarra à concha protetora. Ou egoísmo. Ou opção, dizem.

No Discurso sobre a Felicidade, afirma Madame du Châtelet "A sabedoria deve ter sempre os trunfos à mão: pois quem diz sábio, diz feliz, pelo menos no meu dicionário; há que ter paixões para ser feliz; mas há que colocá-las ao serviço da nossa felicidade e existem algumas às quais devemos proibir qualquer acesso à nossa alma."

 

Que me desculpe a Madame, mas sábio quer dizer feliz apenas para eremita. E depois, por via da sapiência alcançar mestrado, doutoramento e demais graus académicos na arte de bem usar as paixões é conversa da treta que qualquer Maria reproduz. A paixão mobiliza, inteiros, corpo e espírito. Usa quem domina. Impensável enformá-la no molde da razão. Até um dia.

Árduo e sábio é não desistir quando o íntimo arrepia e gela. Arrebanhar lenha e caruma que mantenha acesa, por modesta que seja, a faúlha, talvez berço de lume duradouro. Havendo vontade e combustível, a doçura dos afetos ressurge. Ou não. Sapientes os que resistem à simplicidade da fuga. Nem sempre felizes, mas os bravos do pelotão.

 

Nota: texto publicado aqui, há breves istantes.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:05
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Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2011

NÃO ESCREVES MUITO BEM

Byron Traag, Yossi Rosenstein

 

Foi-me dito semelhante a isto: _ "Algumas frases das croniquetas que publicas saem boas, mas não escreves muito bem. Dás pontapés na gramática, tens alma; porém, tudo junto nada augura de bom. Não te comparas a um Mário de Carvalho, com qualidade sempre, ou a um Gabriel García Marquez em cuja obra somente reconheço como exemplar o “Cem Anos de Solidão”; os seguintes deslustram aquele. E se alguma editora aceitar o que produzes será livrito, nunca um Livro. Talvez o tenhas dentro de ti, todavia e até agora, faltam provas. Entendo por seres das Ciências. Poderás, com sorte, ter lugar na Fnac junto às menoridades em venda. Obras sem préstimo outro que o de encher bancadas para incautos. Porque sou teu amigo tenho o dever de te prevenir."

 

Escutei, atenta, o áugure que acabara de ler as pautas dos voos das palavras saídas desta chaminé virtual. Ideias a merecerem ponderação – quem lê e o faz bem é crítico que importa. Possivelmente outros, com mais saberes em leituras, não só assinariam por baixo, como acrescentariam dureza à apreciação.

 

Reconheço a fragilidade do «jeitinho» que possuo para juntar palavras e edificar textos. Concordo ter alguma dificuldade em pontuar, as mais das vezes por distracção a gramática sofrer arranhões, ignorâncias imperdoáveis. Quilómetros de páginas lidas escritas por nomes grandes das letras não formam um escritor. E se alguns desses célebres autores são consensuais, outros incorrem em divergências opinativas como é natural pela diversidade humana.

 

Para a mulher que ama a escrita e tem livro (livrito?) em revisão foram duras as palavras ouvidas. Não desiste e lembra Jacinto de Magalhães reconhecido por poucos no seu magnífico “A Água e o Silêncio”, sem que ao talento dele compare o seu.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:53
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Quarta-feira, 3 de Agosto de 2011

TOMATES, “COURGETTES”, COMPOTAS E MARMELADA

Richard Whitney, Bo Bartlett

 

A Sr.ª Dona Ventura é mulher para setenta anos. Criou três filhos, sozinha pelo falecimento prematuro do marido. Foi empregada doméstica a tempo inteiro provendo o sustento da prole. Porque eficiente e bondosa, patrões compreensivos permitiam levar com ela as crianças. Conserva mãos habilidosas que, nos serões, bordam encomendas, de dia, lavam pratos em restaurantes. No ano inteiro, zela casas cujos donos só em férias as ocupam. Talento culinário faz dela cozinheira de eleição. Bem arranjada, sem avental confecciona refeições de truz para família outra reunida em cada Agosto. Miúdos e graúdos aplaudem os petiscos. Nas esperas dos assados, estrugidos e sopas divinas, ordena gavetas, limpa armários. Almoça, arruma a cozinha sem na roupa que usa deixar mácula. Entra e sai senhora respeitada.  

 

A Leonor, trinta e seis anos, cabelo liso preso com elástico num «rabo de cavalo» terminado nas costas, é vendaval nas limpezas e no passar a ferro. Carrega história pesada – o marido alcoólico sovava-a até a deixar negra, tantos eram os hematomas. Sem uma queixa pelo medo que ele lhe inspirava e julgando assim preservar de ofensas físicas as duas filhas pequenas. Morreu novo. Casou segunda vez e é feliz com o seu homem. Bem disposta, esconde por detrás do riso fácil a mágoa do desemprego. Deita mão ao que aparece e, anualmente, assina o ponto no casarão cheio nas três primeiras semanas de Agosto. Almoça com a Sr.ª Dona Ventura na sala de estar – rejeitam a longa mesa da família que, pela amizade, de bom grado lhes faria lugar em troca das animadas conversas sobre as novas da pequena cidade. De há meses para cá, assaltos, muitos, contam, por bando de quatro vindo de Gaia que aterroriza quem trabalha e deixa a casa cerrada ou circula nas ruas e estradas. Dia, noite, amigos do alheio abarbatam o que podem. E podem muito, como provam moradias esvaziadas, o surripiar vil das carteiras sob a silenciosa luz solar. Não foram vizinhos atentos que chamaram a polícia, continuaria em expansão a carreira dos larápios.

 

Acontece que a Sr.ª Dona Ventura «campainhou» em hora não prevista e do saco surgiram mimos de lamber os beiços – tomates rijos e no ponto, courgette gigante, três compotas caseiras, diferentes, marmelada do ano anterior. Diga quem nas cidades «autofágicas» faz vida, se gestos desprendidos, regalos idênticos, contabilizam.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:51
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Terça-feira, 7 de Junho de 2011

ATÉ QUE SANTORINNI OS SEPARE!

Thayer, Frida kahlo, Giora Eshkol 

 

Casar ou não casar, eis a questão para muitos! Qual a mais-valia de papel lavrado e com assinatura do notário? _ Legalizar o que pelo amor foi decidido: confiança no outro, respeito, admiração, crença infinita no ‘para sempre’, família obediente a normas e convenções. Facto é a maioria dos pares adultos unidos por sentimentos e emoções veementes, cedo ou tarde optarem pelo casamento. Havendo filhos comuns, o número aumenta.

 

Ainda persiste o longe no tempo em que o sonho duma jovem era igreja, branco, flores de laranjeira. Coexiste com a indiferença que mulheres de hoje demonstram pelo compromisso burocrático ou abençoado. Os homens soem experimentar receios abatidos ou não pela conjugalidade quotidiana, experimentada. Mas se elas casam, afastados da colação homossexuais, é porque eles consentem ou querem ou desejam.

 

As assinaturas em papel que formaliza relações românticas alteram o andamento da parceria legal? Sim, se a intenção presidente é semelhante à de quem faz seguro de saúde ou de vida - seguro por detrás, usos e abusos acontecem. Não, se é a utopia que o par une – cada um lutará por manter a sarça ardente, por em cada dia construir degrau ascendente até Santorinni, invenção e símbolo dum amanhã/final pela precariedade de estar vivo.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 06:18
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Terça-feira, 26 de Abril de 2011

ENDOUDÁMOS DE VEZ?

Frida Kahlo

 

A mulher abre as persianas do casulo após oito dias de obscuridade que os verdes sentiram. Rega-os. Depena murchos. Olha os plátanos infantes da avenida, no entretanto, resplandecentes pela folhagem crescida. Corre os fechos da mala/carrego. Escancara trapos e parcos haveres. Enfia na máquina de lavar a roupa que usou. Estende-a, depois. Sabe da Maria Velho da Costa agraciada pelo Presidente com a Ordem da Liberdade – bem empregue, no caso, seja qual for o préstimo futuro, provavelmente arrecadada em gaveta para o pó não comer do distintivo, do grande-colar, da fita do pescoço, da banda e da placa as cores e o brilho do metal. Ouve que na Via do Infante foram queimadas estruturas destinadas ao pagamento das futuras passagens, que está aberto o Canal Cultura, chamado 180 pela ordem na grelha da Zon. Festejos oficiais dos 37 do 25 com três ex-Presidentes e mais um – o actual. Poupados aos espectadores momentos poeirentos duma Assembleia sem dignidade ou senso enfeitada com cravos desrespeitados e nunca conduzidos à frescura necessária. Até aqui, tudo bem.

 

Mais vem a saber: farmácia hospitalar decide fundamentar-se em legislação com meio século para cobrar aos doentes crónicos que padecem de hepatite B doze euros e tal diários pelo comprimido salvador de males outros e mesmos. Trezentos e sessenta euros ao mês. Ora, desde há cinquenta anos as ciências médicas evoluíram: sabido hoje, ignorado ontem. A Ministra da Saúde que se amanhe e tome a única postura acertada: marcha-atrás.

 

Complemento trágico: antes de terminada a ‘Operação Páscoa’, as forças que pretendem garantir segurança na estrada contabilizam mortos e feridos em maior número maior que na do ano passado. Qual o diabo que desgoverna os condutores, ou serão eles o próprio diabo? Para estes demónios existirá exorcismo? Matam-se e matam. Que venha o padre Humberto Gama e acólitos se deles precisar. Sendo necessária importação de exorcistas é custo a ‘bem da Nação’ e do povo.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 06:20
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