Claudio Bravo Rob Caddick
«A identidade, o clube e um emprego para a vida eram os vestígios da tradição conservadora, hoje desmantelada e substituída pela precariedade - dos afetos, dos compromissos, dos projetos, da vontade, dos ideais.»
O ser e o clube é o que permanecerá intocado para a metade XY da humanidade. No genoma da fração marialva, está escrito: “muda de fé, de carro e de mulher, nunca de clube!” E assim é com acentuada relutância para o automóvel e maior displicência para a mulher.
As mulheres são pendulares – mudam bem de quase tudo, exceto de marca de fond de teint. Por princípio, rendem-se ao que é novo e mais sedutor. O clube depende. Iniciam-se nas lides por via do clube paterno. Sendo o pai castrador, mudam-se para o inimigo figadal que reúna maior consenso no «grupo». Já adultas, o percurso clubístico depende da meteorologia amorosa - amor em alta e o clube dele (...)
Nota: publicado no "Escrever é Triste".
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possível identificar
Gosto de desporto, pratiquei alguns durante três décadas com entusiasmo e dedicação. Não sei se pelos relatos na rádio que em menina me eram impingidos aos domingos enquanto o senhor Marques, soldado e «impedido» da casa, lustrava com energia e solarina os dourados das fardas do pai, ter criado desgosto pelo futebol. Recordo um objeto de madeira onde os botões encaixavam para serem reluzidos sem que pingo gorduroso do químico deixasse marcas nos tecidos. Aninhava-me ao pé dele, conversava e ouvia-lhe as histórias. Não tardou, fiquei amiga dos filhos, sendo que o mais próximo em idade é hoje entidade respeitada na ciência em Portugal e noutras bandas que ao mundo pertencem. Como não era destituída de curiosidade e entendimento, muito lhe devo por motivações que absorvi e permanecem.
Deve ter sido por essa altura, que reinando o Futebol Clube do Porto em casa, adotei simpatia, jamais disso passou, pelo Benfica idolatrado pelo avô julgo que à conta do Eusébio. Curioso era assistir a desafios entre os dois clubes no convívio amigável e bem-humorado dos avós e dos pais – a mãe tornou-se portista ferrenha, enquanto à avó tanto se lhe dava. A mãe bordava, a avó dormitava. Os golos dum ou do outro clube eram aplaudidos por todos; a tal chegava o amor familiar. Esta tolerância aprendida cedo viria a integrá-la na personalidade que desenvolvi. Não me queixo.
Problema foi ter absorvido superstição, logo eu que a rejeito em qualquer forma e nela evito cair, de enviar «malapata» ao clube do meu coração, a Académica, se jogava. Não ouvia relatos nem via os desafios pela televisão, convencida que perderia pela certa se um mau-olhado algures em mim alojado interviesse. Ficou-me a mania. Ainda no presente, recuso saber de jogos da seleção nacional ou do Benfica ou da Académica. Ressalvo os resultados obtidos que após me preocupam e investigo. Pior: diverte-me ouvir os comentários dos «doutores da bola». Utilizam jargões suntuosos. A propósito do confronto da nossa seleção com os nórdicos, captei este: _ “O Ronaldo teve de comer a relva para marcar o golo.”
Ganhando a seleção por um «tento» - outro termo que adoro do «futebolês» –, sorri ainda o sábado nascera nem há meia dúzia de horas.
CAFÉ DA MANHÃ
Alberto Vargas, Karen Chase
À mulher recostada no sofá, fosse pela tepidez da noite que entrava porta-janela adentro, fosse pelo filme menor, uniram-se as pálpebras dormentes, pendeu-lhe a cabeça. Dali para o conforto da cama, passos curtos. Acordaria repousada, sorriria à manhã de sol descoberta por cada centímetro de estore subido. Ligou a rádio com automatismo no gesto, espreitou o verde luminoso nos plátanos jovens da rua e, enquanto o ‘café das velhas’ fazia, ouviu:
- redução histórica da despesa nacional – em comparação com período homólogo do ano passado caiu 3.7%, com pessoal diminuiu 8%; a receita fiscal aumentou 15%, a maior subida desde há uma década, o défice do Estado diminui 60%.
- António Costa, por dois anos, desde há uma semana que despacha a partir da nova casa da Câmara de Lisboa sita no Intendente. Ainda a cheirar a tinta, minimalista no espaço e recheio, o Presidente da cidade (uma de muitas) dos genes mouros pretende que a área cuja fama duvidosa inspira temores adquira face confiante, que gentes voltem a habitá-la, que Alfama, Mouraria e Castelo sejam requalificadas com respeito pela ambiência histórica.
- em vez inaugural, três equipas portuguesas estão nas meias-finais da Liga Europa. Final com uma, garantida; entre duas, possibilidade.
Propensa à felicidade das coisas pequenas, sorriu com os lábios e o olhar. Enviou p’ras malvas receios que suscitam o alojamento do FMI durante dez anos em Portugal.
Bebericando o leite frio de sempre, sem despegar pupilas das folhagens envasadas e substituem, mal, o jardim beirão, declarou-se oficiosa e oficialmente feliz. Encadeou o sentimento com o pensar: _ E se a catástrofe das contas nacionais tivesse explodido no Inverno dos dias cinza e pingões? Muito pior seria pela macambúzia meteorologia. Assim, alguns portugueses despediram-se do ‘menos mal’ até agora vivido, esgotando destinos para férias mini além das fronteiras. Ao regressarem, que nos aeroportos surja, especado, o pior – a pele dourada, os recuerdos, a alma cheia de bem-bom são muralha defensiva. Tristeza somente quando as memórias se desvanecerem, remetidas a registos com muitos pixéis.
CAFÉ DA MANHÃ
Yossi Rosenstein
Após uma campanha de escárnio e maldizer, o povo votante ficou sem saber o essencial: porque é importante para uma Europa fortalecida participar nas eleições de domingo. Em contrapartida, os portugueses foram atafulhados com escândalos, mensagens negativas (vingativas?) _ “eles são maus, eu salvador!” _ com desinformação pelos partidos candidatos. Não lhes escapou uma estratégia ou técnica para manipularem a opinião pública e da sociedade.
Para quem aprecia encher o papo com molhos turvos e suculentos, a gordura do espírito aumentou. Há o ministro que não sai da garagem, o Provedor sem esperança, existem os mandantes da desgraça bancária assobiando enquanto plantam novos canteiros, esquecidos os precisados de vida digna que não mereceram paredes atribuídas pela Câmara da Grande Alface. São nomeados arguidos. A notícia chega-lhes através da comunicação social. Bufos e/ou mercenários estabelecidos em rede que a Justiça não alcança.
O fim do Campeonato de Futebol, o «entra e sai» nos clubes, mascaram a ruína económica das grandes e pequenas agremiações de futebol. Insolventes, contratam pés e cabeças a troco de sacos cheios de pepitas de ouro. Em que alçapão as guardam? Porque existem, como aceitar a complacência do Estado perante os sucessivos incumprimentos sociais? Como entender o aplauso certo dos adeptos que não perdoam uma, nem deviam, aos detentores de cargos públicos que fazem aproximado ou equivalente?
Mas porque um dia é inevitavelmente bom havendo desejo de o colorir, tive notícia que me confirma presunção _ “A linguagem da música ocidental é universal e pode ser entendida mesmo por aqueles que nunca escutaram uma música na vida”. “Diz-me por música”, apetece dizer.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros