Sorayama e autor que não foi possível identificar
Primeiro, ficam de molho em água quente. Ela aproveita o vagar e tira do esterilizador instrumentos retorcidos. O paciente aguenta o escaldão até poder. Ultrapassado o admissível, reclama, constrangido, não seja tido por novato na andança, ou, pior, niquento e piegas. Ela mergulha a mão. Invariavelmente, diz:
_ Está boa, mas se incomoda…
Afoitos na opinião alheia ou temerosos ou sensíveis a quenturas, confirmam que sim, que está calda. Contrariada, ela acrescenta água fria. Num sorriso de ‘apanha-cliente’, pergunta:
_ Está melhor?
Genuinamente aliviado, esboço de reconhecimento por ter sido atendida a prece. Para que se cale durando o sacrifício, põem-lhe no colo revistas de bonecos. Requentadas. No entretém da espera, melhor desfolhá-las que olhar o alinhamento dos metais de tortura.
Ela toma posição. Calça luvas e retira um do molho. Analisa-o, sobrolho franzido. Mergulha-o.
_ Outro!
Repete a investigação e coloca-o onde saiu. Na panóplia, escolhe o utensílio preciso. Inicia o procedimento, enquanto o dono dos apêndices inspira fundo e antevê o seguinte. Apertando as dores, torce-se e solta gemido ou grito ou uivo. Ela, angelical e atenta:
_ Magoei? Tem de ser.
E avança explicações que lhe desculpem o dano e caiam, directas, na má conformação do infeliz. Para dentro, ele conta quantos faltam. Volta o silêncio se a perita não for dada a tagarelices/tolices. Revistas de lado, ele poupa os olhos para os detalhes da tortura. Ido o pior, suspira. Os cremosos afagos finais tentam apagar memórias recentes e vívidas. Paga. Já fora:
_ Safa! Vai demorar até os veres. Olha se tinha calos! Pois se existem peixes-pedicure que cuidam dos pés mansamente, antes cócegas dos aquáticos «papa-peles» mortas! Na próxima, estabelecimento com tanque e Garra Rufa dentro. Abençoado Oriente que «franchisou» moda nova e antiga!
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros