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Vapor de água e dióxido de carbono quase tudo. Sobem, enovelados no ar, os produtos da queima orgânica. Fuligem é subproduto. Calor a rodos como é próprio das combustões - do arvoredo, dos espíritos apaixonados, dos corpos enleados como eras. Raízes afundidas no exaltado suporte dos sentidos. Rumba, salsa, louco bamboleio. Soprando irados os ventos, é avivado o lume. Crepitam troncos e emoções. Água que escorre nas costas cujo rego os dedos perseguem. Que migra para o peito e contorna os seios. Conhecidos vales como novos leitos. Bebida sem saciar. Desaguando em formosa cascata que o incêndio serena, iludindo quem o julgar extinto, reaceso a qualquer momento - um beijo, uma carícia, fantasia partilhada. Porque 'mi vida, yo la prefiero vivir asi'.
Os dias cálidos propiciam desatinos fogosos. E chega dos incêndios o tempo. Arde a terra que não mitigou a sede. Ardem matas por limpar - por descuido, pelo custo, pela propriedade dividida em mínimas frações. Meios frugais combatem o riso das chamas. Mas há planos e campanhas e recursos maiores e formação humana. De fora ficam os donos dos prédios rústicos onde o mato ressequido se agiganta. Rastilho de pólvora seca propício à dança ardente. Bamboleio que 'no tiene pardon de dios'.
CAFÉ DA MANHÃ
Fabian Perez
“Os padeiros não têm massa.
Os padres já não comem como abades.
Os relojoeiros andam com a barriga a dar horas.
Os talhantes estão feitos ao bife.
Os criadores de galinhas estão depenados.
Os pescadores andam a ver navios.
Os vendedores de carapau estão tesos.
Os vendedores de caranguejo veem a vida a andar para trás.
Os desinfestadores estão piores que uma barata.
Os cardiologistas estão num aperto.
Os coveiros vivem pela hora da morte.
Os sapateiros estão com a pedra no sapato.
Os fabricantes de cerveja perderam o seu ar imperial.
Os cabeleireiros arrancam os cabelos.
Os futebolistas baixam a bolinha.
Os jardineiros engolem sapos.
As sapatarias não conseguem descalçar a bota.
Os sinaleiros estão de mãos a abanar.
Os golfistas não batem bem da bola.
Os fabricantes de fios estão de mãos atadas.
Os coxos já não vivem com uma perna às costas.
Os cavaleiros perdem as estribeiras.
Os pedreiros trepam pelas paredes.
Os alfaiates viram as casacas.
Os almocreves prendem o burro.
Os pianistas batem na mesma tecla.
Os pastores procuram o bode expiatório.
Os pintores carregam nas tintas.
Os agricultores confundem alhos com bugalhos.
Os lenhadores não dão galho.
Os domadores andam maus como as cobras.
As costureiras não acertam as agulhas.
Os barbeiros têm as barbas de molho.
Os aviadores caem das nuvens.
Os bebés choram sobre o leite derramado.
Os olivicultores andam com os azeites.
Os oftalmologistas fazem vista grossa.
Os veterinários protestam até que a vaca tussa.
Os alveitares pensam na morte da bezerra.
As cozinheiras não têm papas na língua.
Os trefiladores vão aos arames.
Os sobrinhos andam "Ó tio, ó tio".
Os elefantes andam de trombas.”
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros